
O que começou como uma simples brincadeira de casal evoluiu para o envio de fotos sensuais pelo smartphone. “Eu sempre brinco muito quando eu falo e mandei uma provocação. Ele respondeu e a provocação acabou virando descrição. No final, estávamos enviando fotos íntimas”, lembra a gráfica Cláudia*, de 26 anos.
O novo hábito usado pelos casais para apimentar as relações, caracterizado pelo envio de fotos e mensagens sensuais pelo celular, ganhou o nome de sexting e tem se tornado popular. Coincidentemente, próximo do Dia dos Namorados no Brasil na próxima terça-feira (12), a americana Lookout Mobile Security investigou o fenômeno e descobriu um em cada cinco norte-americanos donos de smartphones praticam o sexting.
O estudo também mostrou que 11% dos americanos admitiram gravar vídeos explícitos em seu celulares –a pesquisa foi conduzida neste mês de junho.
“É uma ousadia, um tipo de transgressão, então é algo saudável. É claro que, dentro de um casal que já tem intimidade, é mais interessante”, explica Amaury Mendes Júnior, médico ginecologista, sexólogo e professor UFRJ. “É uma moda, um fenômeno social que vai se alastrando.”
Para Celso Marzano, urologista e sexólogo autor do livro “O Prazer Secreto”, o novo hábito faz parte de uma série de maneirismos sexuais, as expressões corporais da sexualidade. “Faz parte de uma forma de contato entre os jovens, um grupo de movimentos corporais para mostrar sensualidade e erotização”, explica.
Leonardo*, de 19 anos, conta que a troca de fotos íntimas é super comum entre alguns grupos de amigos gays. O jovem, que trabalha com mídias sociais, lembra que uma vez, trocando fotos, encontrou um cara com uma tatuagem parecida com a sua. Acabaram ficando amigos.
Ressalvas
Os dois médicos consultados concordam que se trata de um hábito saudável, mas fazem uma série de ressalvas.
A primeira delas, diz Mendes Júnior, é que é importante evitar enviar as fotos íntimas para alguém com quem ainda não se tem uma ligação forte. Segundo o médico, a conduta sexual normal inclui desejo, excitação e orgasmo, mas, às vezes, ao fazer o sexting, a pessoa pode acabar colocando a excitação na frente do desejo. “O desejo é muito importante, é uma fase afetiva, em que você lida com seus sonhos, pretensões e idealizações.”
O médico conta que é preciso haver uma construção do desejo, para evitar uma série de arrependimentos que cerca o sexo atualmente.
Para Cláudia, não houve arrependimentos, já que a brincadeira veio no meio de uma relação em que já havia um vínculo. “Era parte do nosso relacionamento. Era legal, mas não era tão sensacional assim”, lembra a gráfica. “Não é nada tão planejado.”
Leonardo também diz que também só envia fotos depois de conversar bastante com a pessoa antes. “Eu tenho critérios para escolher para quem envio as imagens”, conta.
Outra vantagem de já se ter um vínculo com a pessoa é prevenir a exposição a quem queira se aproveitar. “Existem pessoas com psicopatias sexuais que podem se aproveitar disso, como os compulsivos e os pedófilos”, explica Marzano.
Na hora de fazer a foto, é importante evitar mostrar a localização onde ela foi tirada e não colocar na imagem algo que mostre que aquilo foi feito num determinado local, explica Marzano. Segundo ele, também é importante cuidar para que ninguém seja identificado na foto, escondendo inclusive “marcas” do corpo.
Cláudia contou que, ao enviar fotos íntimas ao ex, sempre tomava cuidado para que não fosse com a imagem algo que pudesse ser usado contra ela no futuro. “Eu escondia minhas tatuagens, por exemplo, e nunca tive problemas”, conta. Ela também buscava apimentar a relação enviando imagens de suas roupas íntimas. Leonardo também diz que toma cuidados parecidos.
Marzano recomenda que os adolescentes interessados em fazer algo do tipo conversem com seus pais e tentem arranjar as melhores maneiras de se autopreservar. “É importante não ir direto no ímpeto da curiosidade e acreditar que todas as pessoas são boas”, explica.
Popularização
O hábito ganha força no país porque, segundo Marzano, tudo que é ligado à sexualidade se torna popular, muito pela curiosidade das pessoas. “É uma forma de conquista, expressão corporal. As pessoas curtem muito expressar a sua sexualidade”, explica.
Segundo ele, a tendência é que o sexting cresça no Brasil, até o momento que a prática esteja muito associada à vulgaridade e à pornografia. “Quando chega nesse ponto, as pessoas se afastam espontaneamente”, explica. O médico também alerta que casos de assédio e agressão sexual também podem fazer com que as pessoas se assustem com a prática.
Para o médico Amaury Mendes Júnior, trata-se de um comportamento que se enquadra bastante no contexto atual dos jovens. “É um comportamento de atualidade, em que os adolescentes se tornam mais velhos e custam para sair de casa e enfrentar as situações”, explica. Segundo ele, há pouca maturidade emocional e uma dependência extrema.