Tuberculose entre detentos preocupa saúde pública

O elevado índice de tuberculose entre a população carcerária de Mato Grosso do Sul e condições favoráveis nestes estabelecimentos para a disseminação da doença geram preocupação da saúde pública. Em Três Lagoas, por exemplo, segundo o Programa Estadual de Combate à Tuberculose, dos 49 casos da doença constatados no ano passado 12 estavam dentro de presídios, ou seja, 24,5%. Em Campo Grande o número de casos da doença registrado pela SES (Secretaria de Estado de Saúde) foi de 242 dos quais 40 detectados pela equipe que desenvolve o trabalho de prevenção a DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis)/Aids do Estabelecimento Penal de Segurança Máxima Jair Ferreira, Penitenciária Feminina Irmã Irma Zorzi e IPCG (Instituto Penal de Campo Grande), segundo o médico infectologista Maurício Pompilho. Dia 24 de março é o Dia Mundial de Luta Contra a Tuberculose.

A coordenadora do Programa Estadual de Combate à Tuberculose, Maria Jesus Nasser Viana, afirma que as condições dos presídios, superlotados, são propícias para disseminação do bacilo de koch, causador da doença. “Esses bacilos se mantêm vivos por muito tempo em lugares com pouca claridade e ventilação”, diz. A questão da superlotação só vem se agravando. Relatório do Depen (Departamento do Sistema Penitenciário) aponta aumento de 17% na defasagem entre vagas e detentos do sistema penitenciário de Mato Grosso do Sul de 2004 para 2005. Passou de 3.578 a 4.209, com uma população carcerária de 7,8 mil em presídios.

Pompilho conta que há 3 anos desenvolve o trabalho de prevenção às DSTs/Aids nos presídios, mas ao constatar a grande incidência de tuberculose a sua equipe acabou encaminhando o tratamento destes doentes também. “Faltam recursos humanos na área de saúde, é preciso ampliar a equipe local própria dos presídios, promover capacitação”, aponta Pompilho.

Desde 2001 a tuberculose provocou 304 óbitos em Mato Grosso do Sul. Maria Jesus atenta para o principal aspecto que a SES pretende enfocar este ano: o tratamento supervisionado. Segundo ela, o índice de abandono do tratamento caiu, saindo de 19% em 1999 para 5%, próximo da meta da OMS (Organização Mundial de Saúde), que é de 5%. Segundo ela, por apresentar sensível melhora nas duas primeiras semanas, o paciente deixa de cumprir o tratamento integral, que levaria seis meses, e suspende os medicamentos. Assim a bactéria cria resistência e os pacientes acabam tendo de ser tratado com multidrogas, o que encarece o processo porque os medicamentos vêm do Rio de Janeiro. Além disso, as chances de cura caem para 50%, quando ocorre falência em todos os esquemas tradicionais de tratamento. No Estado 27 pacientes já tiveram de ser tratados com a multidroga. O mais grave é que ele se torna transmissor desta bactéria mais resistente.

No ano passado foram constatados 896 casos de tuberculose em Mato Grosso do Sul, dos quais 478 pulmonares bacilíferos, que é a forma transmissível da doença. Um dos avanços que o Estado conseguiu obter foi o aumento de 86,2% nas unidades de tratamento e diagnóstico, que passaram de 131 em dezembro de 2004 a 244 em dezembro do ano passado. Com isso, hoje Mato Grosso do Sul tem 85% de detecção de novos casos. Na sexta-feira a SES estará, em conjunto com o Lacen (Laboratório Central) apresentando o bacilo koch, que poderá ser observado por microscópio óptico e também estará dando orientações de prevenção.

A tuberculose é um problema de saúde prioritário no Brasil, que juntamente com outros 21 países em desenvolvimento , têm hoje 80% dos casos mundiais da doença. No Brasil, estima-se que ocorram 129.000 casos por ano , dos quais são notificados cerca de 90 mil.

Fonte: Campo Grande News