Os avanços tecnológicos na área da medicina oftalmológica têm sido consideráveis. O que tem facilitado cada vez mais o diagnóstico precoce de doenças oculares, bem como o tratamento de boa parte delas. A novidade mais recente vem dos Estados Unidos: uma lente de cristal líquido com foco automático. Pesquisadores da Universidade do Arizona (UA) estão analisando uma lente que, além de prometer um adeus às badaladas bifocais, pretende revolucionar esse nicho de mercado.
Em pesquisa desde 2001, eles desenvolveram uma lente de cristal líquido que ajusta o foco automaticamente. Num futuro próximo, a aplicação da tecnologia dispensará o uso de mais de um par de óculos ou a troca das lentes por conta da mudança do grau. “O protótipo que desenvolvemos necessita de um dispositivo mecânico para selecionar o foco desejado, mas isso será feito de forma automática, como o auto-foco das câmaras fotográficas”, explica Nasser Peyghambarian, professor da Faculdade de Ciências Óticas da Universidade do Arizona.
Os testes iniciais foram feitos com a ajuda de um modelo de olho humano. Em seguida, eles confeccionaram o protótipo que foi testado em cobaias humanas. As avaliações mostraram que a visão para distância não foi prejudicada quando o dispositivo de foco estava desligado (off) e permitiu um bom desempenho na visão de perto com o dispositivo acionado (on). Os pesquisadores afirmam que o protótipo demonstrou eficiência na performance e resposta rápida. “A idéia é que a lente se ajuste sozinha, de acordo com a necessidade da pessoa. Quando isso ocorrer, será uma revolução no tratamento da presbiopia”, informa Peyghambarian.
A lente desenvolvida na UA é formada por duas peças de vidro planas (não há curvatura vista em lentes comuns). Existe um espaço entre as lâminas de cinco microns (um vigésimo da espessura de um fio de cabelo). Essa lacuna é preenchida com cristal líquido. A estética se assemelha a tela de um notebook. Sobre o vidro das lentes há uma camada de óxido de estanho e índio, ou seja, um eletrodo transparente que, ao contrário dos demais, transmite a maior parte da luz capitada. Através de uma carga elétrica inferior a dois volts, a orientação das moléculas de cristal líquido muda, bem como o índice de refração. Esse movimento é que faz o foco ser alterado.
O uso da lente vai facilitar, principalmente, a vida de quem sofre de presbiopia (veja boxe). Só nos EUA, cerca de 130 milhões de pessoas enfrentam o problema. Estimativas dão conta que, em todo o mundo, 93% da população acima dos 45 anos apresenta condição para presbiopia. “Existem aspectos positivos desse trabalho. Um deles é o fato de, no futuro, o paciente não precisar trocar as lentes quando o oftalmologista mudar o grau. Acredito que a ativação destes polímeros poderá chegar ao novo grau do paciente”, avalia Leonardo Akaishi, diretor do Hospital Oftalmológico de Brasília.
Akaishi lembra que já está em andamento, há cinco anos, um estudo sobre lentes de contato passíveis de modificação de grau sem a troca do produto. Com a tecnologia em desenvolvimento, isso seria feito através da aplicação de um laser na lente.
Função do cristalino
O trabalho desenvolvido pelo grupo da Universidade do Arizona tem um objetivo bastante ambicioso: substituir a função do cristalino do olho, que é a lente natural, responsável por focalizar o objeto de acordo com a necessidade (perto ou longe). As lentes disponíveis hoje no mercado tentam a mesma função, mas são aquelas bifocais ou multifocais. De acordo com Peyghambarian, a promessa é que o produto venha substituir o convencional.
Na apresentação do trabalho, os pesquisadores lembraram que o uso das lentes convencionais tem adaptação demorada, isso porque, para ler ou ver algum objeto próximo, o usuário tem que posicionar os olhos para baixo. Essa situação causa um certo incômodo e, em alguns casos, até vertigem e enjôos.
Inicialmente a pesquisa contempla lentes utilizadas em óculos, mas estudos serão feitos para que a tecnologia possa ser aplicada em lentes de contato. A previsão é que em três anos o produto já possa ser comercializado. Quando chegar esse momento, as lentes dos pesquisadores do Arizona vão revolucionar um mercado que hoje movimenta cerca de US$50 bilhões no mundo inteiro.
Tecnologia pode ser usada em outras áreas
A pesquisa foi publicada, no início do mês, na PNAS (“Proceedings os the National Academy of Sciences of the United States of America”) – que congrega diversos estudos da Sociedade Científica dos EUA. Embora, inicialmente, seja uma lente para o tratamento da presbiopia, Peyghambarian lembra que a tecnologia poderá ser usada em outras áreas da medicina. “O uso é ilimitado e pode ter várias outras aplicações, inclusive na odontologia, onde elementos óticos que aumentem de forma substantiva o diâmetro dos objetos são desejáveis”, conclui.
O que é presbiopia?
A doença consiste basicamente na diminuição da capacidade do olho em focalizar de perto. Em grande parte das pessoas o problema começa a partir dos 40 anos. Entre os sintomas iniciais estão cansaço e cefaléia. Quem está com presbiopia costuma afastar os objetos para ver melhor. A falta de visão tende a piorar com o passar do tempo. De acordo com o caso, são prescritos óculos para leitura, ou um com foco para perto e para distância. Não há, até o momento, tratamento cirúrgico para o problema. Uma outra alternativa para quem sofre com o mal são as lentes de contato multifocais ou bifocais, que podem ser colocadas no lugar do cristalino. (V.C./AE)
Fonte: Último Segundo
Pesquisadores desenvolvem óculos com foco automático
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