Ter a vida ameaçada ou testemunhar um crime pode levar ao chamado transtorno de estresse pós-traumático, que atinge 4 em cada 100 brasileiros. Em áreas violentas, no entanto, estima-se que esse número seja bem maior. “É muito comum evoluir para a depressão também”, acrescenta o psiquiatra Luiz Cláudio de Farias.
“Quando vi que estava no meio do tiroteio, me joguei no chão. Fiquei muito perturbada durante seis meses. Sonhava sempre com os tiros, e qualquer barulho me deixava em pânico, me fazendo reviver tudo o que passei”, lembra a cuidadora de idosos Cecília Oliveira Tavares, 60 anos.
A psiquiatra Tula Chaves explica que a revivescência (processo que faz reviver) descrita por Cecília é um dos principais sintomas da perturbação: “É mais forte que uma lembrança, porque a pessoa tem reações físicas quando se recorda. Costuma suar muito, por exemplo. É como se estivesse vivendo a situação novamente”.
Dificuldade nas relações
Outra característica comum é a mudança na rotina, também descrita por Cecília. “O tiroteio foi perto da minha casa. Tive que me mudar porque, quando estava em casa, achava que os tiros iriam me atingir. Financeiramente, minha vida piorou muito”, acrescenta Cecília, que trocou casa própria no conjunto habitacional Esperança, no Complexo da Maré, por um aluguel de R$ 400 mensais.
“É muito comum também que a pessoa pare de trabalhar, principalmente quando o trauma foi no serviço”, explica Tula. “As relações pessoais, com a família e com parceiros também ficam afetadas. A pessoa costuma rejeitar relacionamentos. É o que chamamos de embotamento afetivo”, conclui.
Sintomas até seis meses depois
Quando alterações na rotina da pessoa que passou por trauma são notadas, é preciso procurar ajuda o mais rápido possível. O alerta é do psiquiatra Luiz Cláudio de Farias. “A família tende a tentar resolver, evitando especialistas como psiquiatras ou psicólogos. Mas isso nem sempre é bom. Se a pessoa passar por outro trauma, por exemplo, pode ter a situação agravada e ficar até psicótica, com medo de tudo”, explica o médico.
Os sintomas do transtorno do estresse pós-traumático geralmente começam em torno de três meses após o trauma, mas podem aparecer tardiamente, até seis meses depois do evento traumático.
Terra-O Dia
Passar por situação de risco pode causar depressão
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