Saúde

Gripe aviária: A quem pode interessar?

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Carlos Eduardo Stempniewski – Mestre em administração pela FGV/SP, especialista em e-learning e avaliação de performance financeira na área de saúde e coordenador dos cursos de administração, sistemas de Informação e turismo das Faculdades Rio Branco Beto NovaesO vírus da influenza aviária não resiste ao congelamento do frango
Destaque nos principais meios de comunicação, tem alimentado preocupações nos mais distintos segmentos da população mundial com relação ao seu potencial de transmissão entre as pessoas. Devemos lembrar que o vírus se transmite de uma ave para outra da mesma espécie. Não existem, até agora, casos de humanos transmitindo entre si. A contaminação acontece pela convivência direta com as aves. Essa situação é comum nos países europeus onde o inverno costuma ser muito rigoroso e também em países asiáticos e africanos, onde as questões de higiene e saúde pública encontram-se defasadas em relação ao resto do mundo.

A chegada da gripe na Europa levou a uma redução de 20% no consumo da carne de frango e peru, em particular na França e Itália. Essa situação não afeta apenas os produtores das aves. Como as aves alimentam-se de rações compostas de soja, farelo e milho, observa-se no mercado internacional queda na comercialização dessas commodities, comprometendo, ainda, um espectro maior de nossa pauta exportadora.

O Brasil tem um plantel de 4,4 bilhões de aves. Cerca de 97% vivem em granjas industriais. Em todo o mundo, até o momento, não ocorreram casos de transmissão por aves vivendo nessas condições. Nossas granjas atendem a todos os quesitos da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Existem casos em que adicionalmente elas são monitoradas diariamente por agentes destacados pelos grandes importadores, sobretudo do Oriente Médio.

O Brasil é o maior exportador de carne de frango, com 2,762 milhões de toneladas em 2005. Esse esforço resultou numa receita de US$ 3,5 bilhões. Para manter esse ritmo de aceitação, desde novembro de 2005 os produtores de frango estão segregando a produção e o abate das aves em um mesmo estado. Dessa forma suspendeu-se o trânsito das aves criadas pelas granjas. Anteriormente elas eram criadas em um estado e abatidas em outro. Existem mais de 6,5 mil granjas dentro desse processo, que contribuem com cerca de 370 milhões de cabeças para o abate mensal. Para nos tornarmos menos vulnerável no mercado internacional precisamos evoluir para o mercado de carne processada, que hoje representa apenas 1% do mercado total de exportação.

Nossos produtores estão também articulando um fundo de R$ 20 milhões para indenização no caso de eliminação de plantel sob suspeita. Complementando essas medidas, a Coordenadoria Sanitária Avícola pretende atualizar o cadastro de todas as granjas, monitorá-las via satélite e realizar levantamento soroepidemiológico dos frangos no país. Deverão ser investidos ainda R$ 100 milhões do Ministério da Agricultura no reaparelhamento da rede laboratorial, na criação de barreiras sanitárias, na capacitação de técnicos, adoção de medidas de caráter educativo e produção de vacinas.

Muito se tem alarmado o consumidor com relação ao consumo da carne, porém devemos entender que o vírus não resiste à fase de congelamento, etapa indispensável nos casos de processamento para o consumo nas cidades. Esse processo inclui 97% da carne produzida no Brasil e que chega ao mercado. Nos restantes 3% que compõem as chamadas criações domesticas, o vírus morre no preparo do alimento no fogo. Portanto, com absoluta certeza, podemos dizer que a transmissão pelo consumo da carne é impossível, a menos que se coma a carne crua, mas este não é um hábito alimentar em todo o mundo, ao contrário do peixe.

Infelizmente é o velho chavão: criar dificuldades para obter facilidades. Lendo-se muitas das notícias, somos levados a crer que com a chegada do inverno teremos uma explosão de gripe na América do Sul. Outros preferem falar que com o início da Copa do Mundo, muita gente vai viajar para a Europa, e em conseqüência disso a gripe vai se espalhar mundo afora, podendo atingir cerca de 40 milhões de pessoas. Embora as estatísticas não sejam muito precisas, o que temos hoje, é que cerca de 18 mil pessoas tiveram contato com esse vírus e que os falecimentos por esse motivo giram em torno de 150, o que prova até aqui a eficácia dos medicamentos existentes.

O alerta e a prevenção são sempre necessários e oportunos, mas o alarmismo na população não é uma atitude eticamente recomendável. Por isso é que nos vemos no direito de perguntar a quem interessa o contexto em que o assunto vem se desenvolvendo, na medida que não informa corretamente a população, estimula a insegurança, causa prejuízos aos produtores, não promove a profilaxia, coloca governos em situações embaraçosas, não impede a propagação do vírus, excita a imaginação em direção a uma pandemia generalizada, ou seja, nos guia a cada dia para uma zona de insegurança, carecendo de bases e conceitos objetivos. Um eterno desenrolar do ‘achismo’, técnica praticada por aqui com desenvoltura e agora com uma versão em nível internacional.

Fonte: Jornal Estado de Minas

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