O Brasil lidera o ranking mundial de consumo de substâncias estimulantes, geralmente presentes em remédios para emagrecer, também chamadas de anorexígenos. Segundo o relatório anual da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o assunto, divulgado nesta quinta-feira (1º), no Brasil são consumidas 12,5 doses diárias dessas substâncias, contra 11,8 na Argentina, 9,8 na Coréia do Sul e 4,9 nos Estados Unidos.
Para exemplificar, o estudo cita o caso da modelo brasileira Ana Carolina Reston, de 21 anos, que morreu em novembro do ano passado em decorrência de anorexia.
Para Giovanni Quaglia, representante do Escritório contra Drogas e Crime da ONU no Brasil, isso é reflexo do acentuado culto à magreza observado mundialmente, somado a características culturais como a vaidade da mulher brasileira.
“O Brasil se destaca nesta área e repercutiu muito no mundo o caso da modelo que morreu de anorexia. Esse culto à magreza se transformou em uma coisa cultural e, quanto à mulher brasileira, também podemos dizer que ela é mais vaidosa e gosta muito de se cuidar”, disse.
A demanda brasileira por esse tipo de remédio é tanta que o país fabrica quase toda a produção mundial de duas substâncias utilizadas nas suas composições. Segundo o relatório, 98,6% do fenproporex e 89,5% da anfepramona usadas no mundo foram fabricadas aqui e também grande parte foi consumida no país.
Quaglia, no entanto, vê nesse fenômeno a lógica dos processos da globalização, já que boa parte dos laboratórios farmacêuticos é ligada a empresas transnacionais, que concentram a produção em determinadas fábricas.
Em 2005, 3,2% dos brasileiros admitiram o uso de anorexígenos, contra 2,3% em 2001. O aumento no consumo da droga foi registrado no levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), usado na elaboração do relatório pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), órgão ligado ao Escritório contra Drogas e Crime da ONU.
Para tentar frear esse crescimento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) prepara a implantação de um novo sistema para controle da venda dessas substâncias, que deverá ocorrer até o segundo semestre deste ano. Batizado de Sistema de Gerenciamento de Produtos Controlados, ele vai reunir dados dos consumidores e prescritores desses remédios para coibir o abuso e venda ilegal.
“Vamos captar informações nos pontos de dispensa (venda) que vão permitir o georeferenciamento do consumo dessas substâncias. Assim, vamos poder identificar os prescritores que receitam mais que a dose recomendada para um mesmo paciente por um tempo além do recomendado. Com toda certeza isso terá um impacto no uso, mas também nos dará subsídios para evitar o uso indiscriminado desses medicamentos”, disse Norberto Rech, diretor-adjunto da Anvisa.
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