Terra
O monsenhor Charles Scicluna está investido na função de promotor de justiça eclesial.
Todos os casos de pedofilia a envolver clérigos, conforme anunciado, passarão pelo seu ofício de promotor de justiça junto à pontifícia Congregação da Fé.
Ontem, Scicluna estreou, –com a mídia a cobrir e a difundir–, na missão de apurar e processar os responsáveis por abusos sexuais a vitimar crianças, adolescentes e incapazes (caso de vitimados surdos-mudos).
O monsenhor Scicluna foi duro, na homilia da missa que celebrou: -“Para os culpados, o inferno será mais duro. Seria verdadeiramente melhor para os sacerdotes culpados de abusos sexuais, em face de menores, que os crimes deles fossem causa de morte. Porque para eles a ‘perdição eterna’ (dannazione) será mais terrível.”.
A oração foi mais uma forma de reparação feita pelo Vaticano: “preghiera “di riparazione e di intercessione a San Pietro per lo scandalo di pedofilia nella Chiesa” (oração de reparação e de intercessão de São Pedro diante do escândalo da pedofilia na Igreja).
No domingo 18, o papa Ratzinger, depois de incontáveis trapalhadas dos seus assessores, incluída a do mais antigo membro do colégio de cardiais (disse que as acusações eram mexericos), resolveu mudar a estratégia, até para se livrar das fortes suspeitas de que havia acobertado casos de pedofilia para evitar que os escândalos atingissem a Igreja.
Uma rede de apoio ao papa foi tecida e, no domingo 18, cerca de 200 mil fiéis, de várias partes do mundo, lotaram a praça São Pedro. Como fazem as torcidas organizadas de futebol, os fiéis reunidos na praça São Pedro também soltaram um grito de guerra, de confiança em Ratzinger: “Siamo com te”.
O papa Ratzinger, emocionado, soltou uma frase de efeito, que, aliás, deveria ter sido proferida muito antes. E de modo a evitar o período que se partiu para o diversionismo. Ou seja, procurou-se acusar a imprensa (confira neste blog Sem Fronteiras de Terra Magazine os comentários sobre o ataque do jornal The New York Times ao papa Ratzinger e as reações corporativas) e até os católicos indignados ( movimento conhecido como “A Igreja somos nós”) que cobravam providências enérgicas. Da tradicional janela do seu aposento, Ratzinger disparou: “- Obrigado pela confiança. O pecado está também na Igreja”.
Nessa nova estratégia, o segundo passo foi dado ontem. Consistiu na manifestação do monsenhor Scicluna, que tem a função de promotor (acusador) de justiça eclesiástica.
Sobre o escândalo promovido pelos padres pedófilos, concluiu Scicluna: – “O Senhor é muito claro. É melhor para você entrar sozinho no Reino, sem uma mão, sem um pé, sem um olho, do que ir para a ‘Geenna” (inferno), onde o fogo não se extingue nunca. Essa imagem forte, dos órgãos do corpo humano, nos coloca, sem confusão, defronte do espelho da nossa consciência”.
PANO RÁPIDO. Como até o diabo sabe, existe uma longa distância entre o discurso (intenção) e a prática, ou melhor, as providências terrenas efetivadas. Vamos esperar que tudo não fique no novo marketing vaticano iniciado no domingo 18 e em avisos de que, depois da morte dos culpados, as punições serão severas, como lembrou o promotor de justiça eclesisática.