Política

Zé Neto rompe silencio e ataca aliança com PMDB: “E na base do toma-lá

Pré-candidato do Partido dos Trabalhadores envia carta criticando postura de companheiros na discussão com os peemedebistas

O pré-candidato do PT ao governo do Estado, professor Jose Neto, divulgou carta onde faz duras criticas a forma com que a legenda esta tratando a aliança com o PMDB. Zé Neto diz que, no lugar de conteúdo programático, a aliança só tem um objetivo: negociar interesses pessoais.

´O que está definindo as alianças são as perspectivas do toma-lá-dá-cá, a defesa eleitoral e individual de cada candidatura, chegando a negociarem-se as cores partidárias em vários municípios, fora da esteira da aliança oficial”, diz Jose Neto., em carta intitulada A esquerda encalacrada.

O professor tem a pré-candidatura ameaçada com a aproximação do partido ao projeto do PMDB. Para Jose Neto, companheiros do próprio partido, estariam conduzindo de forma equivocada a discussão, se submetendo aos interesses do PMDB em detrimento do PT.

Leia carta na integra:

A ESQUERDA ENCALACRADA

Quero falar de coisas concretas, porém construídas de forma abstrata, que tenho visto e participado como um pré-candidato do Partido dos Trabalhadores ao governo do Estado. Um produto da percepção resultante de conversas para as possíveis e necessárias alianças políticas do PT consigo mesmo, talvez com o PMDB e com os partidos da base aliada do governo Lula: um sentimento de uma esquerda encalacrada.

No manifesto do Partido dos Trabalhadores, a experiência política de esquerda mais aglutinadora de si mesma já vivida no país, ao promover a aproximação de diferenciadas visões radicais e críticas, está posta a visão estratégica marxiana de que “a mais importante lição que o trabalhador brasileiro aprendeu em suas lutas é a de que a democracia é uma conquista que, finalmente, ou se constrói pelas suas mãos ou não virá”.

Em sua caminhada histórica, o PT definiu o modelo de sociedade, único na teoria política: um programa democrático e popular. Popular, entendido como relacionado ao povo, aos oprimidos, abrangendo sociologicamente os proletários (trabalhadores em geral, os operários, o campesinato e o lumpen), os setores médios da sociedade, e, até setores da burguesia que possam se sentir contemplados nessa caminhada para democracia. Democracia, então, assume um significado profundamente de mudanças em geral. Um programa que se contrapõe ao modelo dominante liberal; difere do modelo dos ecologistas, assumindo várias de suas bandeiras e torna-se uma experiência singular de esquerda para todo o mundo.

Literalmente, a discussão sobre alianças nos últimos tempos e no encontro do PT, na Paraíba, vem seguindo uma marca crescente no debate petista que é o esvaziamento da discussão de conteúdo político, preenchido por argumentos soberbos e de achincalhamento às pessoas com posições divergentes. Basta ver a atitude do destempero saltitante e tresloucado da mais importante liderança petista, deputado federal, sacerdote e ex-professor de filosofia, partindo para cima da mesa diretora após a comunicação do resultado da votação, no dia do encontro estadual petista, em que foi vitoriosa a tese da candidatura própria. Não acata as decisões de seu partido? De debates em rádios, em que nomes mais propensos (densidade eleitoral) a assumirem a pré-candidatura para governador justificam as suas decisões sob a orientação de organismos extra-partidários, a exemplo de pastorais religiosas. Decisões partidárias não são de fórum partidário? De reuniões que pude ver de vários líderes de esquerda, sem participar de todas, em que a discussão sobre alianças passa por um mero exercício prestidigitador de nomes simplesmente, tal qual um jogo de esconde-esconde, de cartas na manga, mesmo sabendo que a política é uma Arte como já nos ensinaram os gregos. O presidente do PSB de João Pessoa, com anuência do presidente estadual, declara em jornais que o seu partido deseja “saber de que forma podemos contribuir com a eleição de Maranhão para o governo e a nossa participação na aliança”. A aliança para eles é um pressuposto, isto é, está dada. Não se discute programa? Ah! O programa a gente vê depois. Sem falar na falta de educação doméstica nas relações de companheiros petistas no interior da vida partidária. É feio ser educado?

O que está definindo as alianças são as perspectivas do toma-lá-dá-cá, a defesa eleitoral e individual de cada candidatura, chegando a negociarem-se as cores partidárias em vários municípios, fora da esteira da aliança oficial. A ética dita do pão-pão, queijo-queijo que buscando estabelecer uma ética utilitária mais se aproxima do lema de Gerson – meu pirão primeiro e o resto que se dane. Tudo isto culmina com um inexistente projeto político nacional, sintetizado em Lula, presidente. Lula, sim, presidente, mas um programa de sociedade não pode ser externado por tal síntese.

As alianças são necessárias. Fazem parte da sabedoria acumulada no mundo da política e nas relações das pessoas. Agora, é aliança com quem quiser e salve-se quem puder. Dessa sabedoria, esqueceu-se de que a ampliação de um arco de alianças passa pela busca dos setores de trabalhadores organizados, operários, camponeses e, hoje, com trabalhadores que inventam o seu próprio trabalho. Um setor social que há muito se assume petista. Alianças com setores médios da sociedade e até com setores da pequena burguesia cuja mensagem de esquerda possa lhes tocar – um programa efetivamente democrático e popular. Não se pode ter medo do diverso. Não é de bom senso o narcisista gerador de uma política do eu sozinho. Todavia, sem medo do diverso, vai se aliançar com qualquer um? Boa parte das lideranças petistas, não só da Paraíba, vem conduzindo o partido ao exercício de caminhos fáceis e mais curtos. Estes, porém, não existem. O partido vem pagando caro por tudo isto.

Na Paraíba, o diferencial único de aliança com qualquer uma das tradicionais forças e que, originariamente, são a mesma expressão, é com alguém que assuma a candidatura Lula, presidente. Esquece-se a defesa do partido e um plano político para o Estado. Reforça-se o desejo de um pai que liberte a todos e todas, esquecendo-se da máxima histórica dos trabalhadores/as.

E o programa? Esquecido o programa, é possível pelo menos apresentarem-se algumas sugestões para serem postas em qualquer mesa de alianças: um programa de governo centrado na pessoa humana; o fim do analfabetismo no Estado com taxas tão humilhantes; um programa de economia que valorize a geração de trabalho e renda; um programa de micro-crédito para a economia solidária popular. Umas medidas nada marxistas ou socialistas mas essencialmente liberais como a educação para todos/as e, profundamente, revolucionárias para a Paraíba. Enfim, carece-se de atitudes propositivas e do restabelecimento do itinerário petista de compromissos com os excluídos para a superação de uma esquerda encalacrada.

Aos petistas cabe não deixar o Partido dos Trabalhadores tornar-se definitivamente descartado como projeto de sociedade nessa travessia da odisséia humana, alçando ainda mais alto o brilho de sua estrela.

João Pessoa, maio de 2006.

Zé Neto

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