O retorno nesta semana do deputado Ricardo Berzoini à presidência do PT provocou desentendimentos entre dirigentes do partido. O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, e o secretário de Finanças do partido, Paulo Ferreira, travam um debate público sobre a volta de Berzoini ao comando da legenda.
Publicamente, o embate pode ser conferido nos artigos publicados pelos dois no site do PT. Nos bastidores, a tensão entre os grupos contrários e os favoráveis ao retorno de Berzoini também fica evidente nos encontros partidários. Pomar, por exemplo, disse não ter sido convidado para a reunião do PT que homologou a volta de Berzoini ao comando do partido.
"Não seria o caso deste ato, que marca a volta do presidente do PT, ter sido organizado pelo partido? Não teria sido o caso de os membros da direção partidária terem sido convidados formalmente para este ato? Não sei dos demais, mas eu não fui convidado. E tampouco sei quem organizou a concorrida atividade", diz Pomar em novo artigo.
O clima de descontentamento com o retorno de Berzoini foi explicitado por Pomar, que escreveu um artigo questionando o episódio. "Do ponto de vista estritamente legal não vejo base para questionar a decisão de Berzoini: ele é o presidente eleito, se afastou por decisão própria e volta por decisão própria. Entretanto, do ponto de vista político, penso (e disse isso a Berzoini) que seu retorno à presidência é ruim para o PT."
A crítica de Pomar foi prontamente rebatida por Ferreira, também em artigo publicado no site do PT. "O não retorno de Berzoini à presidência (isto sim, seria um desastre para o partido) daria forte argumento aos que dizem que o PT age à margem da legalidade", afirmou o tesoureiro.
Pomar afirmou não entender o posicionamento do tesoureiro. "Não entendo por qual motivo Ferreira considera que o não retorno de Berzoini à presidência seria um desastre para o partido. Ferreira, em seu artigo, avalia positivamente o interregno de Marco Aurélio Garcia, como presidente interino. Mas se este interregno foi positivo, por qual motivo a continuidade desta interinidade, por mais alguns meses, seria um desastre?", questiona Pomar.
Ferreira havia afirmado que Berzoini se afastou "por vontade própria", mas com uma condição clara: "o retorno imediato ao cargo de presidente, tão logo as investigações do dossiê chegassem ao final e nada apontassem contra ele".
No novo artigo, Pomar questionou as condições dadas para o retorno de Berzoini ao cargo. "Tampouco me recordo que Berzoini tenha condicionado o seu pedido de afastamento ao retorno imediato ao cargo de presidente, tão logo as investigações do dossiê chegassem ao final e nada apontassem contra ele. Veja bem, Ferreira: se, como você afirma, Berzoini se afastou por vontade própria, por qual motivo ele teria necessidade de impor condições?"
Já o tesoureiro do PT indagou Pomar por suas críticas ao presidente da legenda. "Por que jogar contra quem, aliás, foi legitimamente escolhido num processo de escolha que contou com a participação de mais de 300 mil militantes? Que democracia defendem? A quem interessa desestabilizar Berzoini?"
No artigo publicado no site petista, Pomar deu uma resposta a Ferreira: "Sugestão de resposta: interessa aos que sabem que a diferença entre escândalo e escrúpulo está no tamanho da pedra".
Dossiegate
Berzoini se afastou da presidência do PT após o escândalo do dossiê, quando a Polícia Federal levantou suspeitas sobre seu possível envolvimento na tentativa de compra, por militantes petistas, de um dossiê contra políticos tucanos. A PF concluiu seu relatório sem indiciar o deputado federal, que voltou ao cargo ocupado interinamente por Marco Aurélio Garcia.
"Para alguns, o não-indiciamento de Berzoini esclareceu tudo. Para outros, não é este aspecto (judicial) que estava e segue estando na base do problema", diz Pomar em artigo. "No que me diz respeito, Berzoini era o responsável em última instância por um grupo que esteve envolvido no caso do dossiê. Nunca achei que isto constituísse crime. Apenas achava e sigo achando que, neste caso concreto, cometeu-se um erro político gravíssimo, cujos detalhes seguem não esclarecidos para o partido."
Para Pomar, o episódio do dossiegate precisa ser melhor esclarecido por Berzoini. Ele utiliza as palavras de Ferreira para fazer a cobrança. "Por que jogar contra quem, aliás, foi legitimamente escolhido num processo de escolha que contou com a participação de mais de 300 mil militantes? Esta pergunta deve ser respondida pelos que conceberam a operação que resultou no tal dossiê, operação que causou problemas ao PT como um todo, inclusive à direção eleita no PED, a começar pelo presidente Ricardo Berzoini."
Folha Online