A Polícia Federal incluirá em seu relatório final do inquérito do golpe que há indícios de que o ex-presidente Jair Bolsonaro sabia do plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2022. A aliados, Bolsonaro nega que tinha conhecimento da trama.
Segundo uma fonte a par da investigação, Bolsonaro acabou deixando “digital” e o documento final conseguirá sustentar que ele soube das articulações para assassinar o ministro e os dois candidatos eleitos. Ao todo, cerca de 30 pessoas deverão ser indiciados pela PF no inquérito.
Uma operação da Polícia Federal deflagrada na terça-feira prendeu quatro militares e um policial federal suspeitos de planejar um golpe de Estado em 2022. O plano incluía matar o então presidente eleito Lula, o vice eleito, Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes, que na época também presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ao longo da investigação, a PF identificou que o ex-presidente, oficiais das Forças Armadas, ministros do seu governo e assessores participaram de reuniões na qual discutiram a possibilidade de dar um golpe de Estado, que, segundo a PF, não se concretizou porque não teve o aval dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica. O general Marco Antônio Freire Gomes e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, chefes das respectivas Forças, prestaram depoimento à PF na condição de testemunha e implicaram o ex-presidente na trama.
O relatório da PF que trata sobre o plano para matar Lula, Alckmin e Moraes afirma que o documento com o planejamento, batizado de “Punhal verde amarelo”, foi impresso no Palácio do Planalto pelo então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, general Mario Fernandes. A investigação aponta que, em uma das ocasiões, o militar fez seis cópias do arquivo no dia 16 de dezembro de 2023. “Pela quantidade de cópias, infere-se que o documento seria entregue a uma pluralidade de pessoas, possivelmente em alguma reunião”, diz trecho do relatório.
Registros de entrada do Palácio da Alvorada do dia seguinte, 17 de dezembro, mostram que Mario Fernandes foi um dos visitantes da residência oficial da Presidência, onde Bolsonaro ficou recluso após perder as eleições para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mesmo dia, o ex-assessor especial Filipe Martins, que, segundo a delação de Cid foi um dos mentores de uma minuta golpista, também esteve no local no mesmo dia.
Registros de entrada do Palácio da Alvorada mostram que Mario Fernandes foi um dos visitantes da residência oficial da presidência, onde Bolsonaro ficou recluso após perder as eleições para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mesmo dia, Filipe Martins, que, segundo a delação de Cid, foi um dos mentores da minuta golpista, também esteve no local no mesmo dia.
O teor das oitivas se deu em linha com os relatos dados pelo tenente-coronel Mauro Cid, que era ajudante de ordens de Bolsonaro. A defesa do ex-presidente tem dito que Bolsonaro “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”.
Operação da PF
Ao todo, foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva e três mandados de busca e apreensão. Além disso, há 15 medidas, como a proibição de contato entre os investigados, a entrega de passaportes em 24 horas e a suspensão do exercício de funções públicas.
Os presos foram o general da reserva Mário Fernandes, e os militares Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo, integrantes dos “Kids pretos” — membros das Forças Especiais. Além dos militares, o policial federal Wladimir Matos Soares também foi detido. O cumprimento dos mandados contou com o acompanhamento do Exército Brasileiro e ocorreu nos estados do Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas e no Distrito Federal.
A investigação da PF indica que os kids pretos utilizaram conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas durante os meses de novembro e dezembro de 2022. O plano também previa a criação de um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise”, que seria integrado pelos próprios envolvidos, para gerir os conflitos decorrentes das operações.
Ao determinar a prisão, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que as investigações apontaram que há “robustos e gravíssimos indícios” de planejamento de execução do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com uso de “técnicas militares e terroristas” em 2022, após as eleições presidenciais. Na época, o próprio Moraes presidia a corte eleitoral.
A PF apura se os envolvidos no esquema praticaram os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
‘Punhal verde amarelo’
A investigação faz parte do chamado “inquérito do golpe”, que apura se houve uma tentativa de impedir a posse do atual governo após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro.
Um documento apreendido pela PF intitulado “Punhal verde amarelo” descreve como deveria ser executado o plano de assassinato, que previa uso de armamento pesado e a possibilidade de envenenamento dos alvos.
A investigação aponta o general do Exército Mário Fernandes, então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, como responsável por sua elaboração. A apuração cita ainda que cópias do arquivo foram impressas no Palácio do Planalto e levadas para uma reunião no Palácio da Alvorada, onde estava Bolsonaro.
(Esta reportagem está em atualização)
Por O Globo