Política

Patrocínio no Carnaval expõe Nossa Caixa

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Cem funcionários da Nossa Caixa desfilaram no Carnaval de 2006 em São Paulo com fantasias doadas pela escola de samba Leandro de Itaquera. Na passarela, eles ajudaram a engrossar o coro do samba-enredo sobre as obras do rio Tietê, uma exaltação ao pré-candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin.

A Nossa Caixa pagou R$ 1,5 milhão à Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, a título de patrocínio do Carnaval neste ano. Esse gasto supera o investimento de R$ 1,2 milhão com a nova campanha publicitária para divulgar os resultados do banco em 2005.

Na sexta-feira, o deputado-corregedor da Assembléia paulista, Romeu Tuma Júnior (PMDB), requereu ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo César Pinho, a abertura de investigação para apurar a suspeita de improbidade (liberação de verba pública sem a estrita observância das normas). O patrocínio do banco foi aprovado em 24 horas. A Nossa Caixa afirma não saber o valor repassado à Leandro de Itaquera.

Como o presidente dessa escola, Leandro Alves Martins, é filiado ao PSDB, Tuma quer saber se a Liga repassou dinheiro público para promoção pessoal de Alckmin.

Um carro alegórico da escola exibiu bonecos de Alckmin e de José Serra (à revelia do ex-prefeito, segundo o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho). “Há fortes indícios de montagem, de uma orgia administrativa”, afirmou Tuma.

A Nossa Caixa alegou que “não tem mais nada a informar, além do que consta dos detalhados esclarecimentos já prestados à Assembléia Legislativa”

Assim como a calha do rio Tietê, a Leandro de Itaquera foi rebaixada de grupo com o enredo que homenageava a vitrine eleitoral do ex-governador. Em fevereiro, o carnavalesco da escola, Anderson Paulino, disse à Folha que o enredo foi “pedido” de Alckmin. O presidente Leandro negou.

Tramitação acelerada

Depois de recusar uma primeira proposta da Liga, que pedira apoio de R$ 2 milhões, a Nossa Caixa aprovou o patrocínio nas vésperas do Carnaval.

O pacote incluía camarote VIP para 350 convidados, “alimentação, catraca, traslado e segurança”, além de fornecimento de 4.650 ingressos de arquibancada para os dias de desfile.

A Nossa Caixa teria “menções sonoras” durante o desfile e ampla veiculação do logotipo.

Em 20 de fevereiro, a gerente de marketing, Marly Martins, enviou solicitação da Liga à Presidência do banco, sob o argumento de que o Carnaval paulistano “tem se profissionalizado, tornando-se independente do poder público”. Ela apontou os “ganhos inquestionáveis à imagem do banco”.

Naquele mesmo dia, o presidente Carlos Eduardo Monteiro submeteu o pedido à diretoria executiva. A diretoria jurídica emitiu parecer favorável na mesma data, afirmando que “o patrocínio encontra amparo no ordenamento jurídico pátrio”.

No dia 23 de fevereiro, foi assinado o contrato, e a Liga forneceu um recibo, com a mesma data, correspondente à parcela de R$ 600 mil. Uma segunda parcela, de R$ 500 mil, seria paga em 2 de março (não foi enviada à Assembléia a comprovação do terceiro pagamento, de R$ 400 mil, em 4 de abril).

Segundo Tuma observou em seu pedido, essa antecipação de 73,33% do total da verba para uma associação privada afronta o Decreto 43.914, de 1999, que determina que “o prazo de vencimento das obrigações contratuais deverá ser de 30 dias”.

Fonte: Folha Online

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