A idéia da unificação das legendas de “esquerda” é um velho anseio de Lula. Para ele, “não faz sentido que, num país como o Brasil, haja três ou quatro partidos no campo progressista”. Acha que o mais “lógico” seria que essas agremiações “unissem as suas forças”.
O presidente vinha pregando no deserto. Mas, segundo disse na última conversa em que tratou do tema, na última quinta-feira, acredita que as eleições deste ano injetaram no cenário uma novidade capaz de amolecer as resistências: a cláusula de barreira.
Trata-se de um mecanismo que condiciona o funcionamento dos partidos à obtenção de pelo menos 5% dos votos válidos na eleição para a Câmara dos Deputados. Apenas quatro partidos têm hoje a certeza de que vão conseguir superar essa barreira: PT, PSDB, PMDB e PFL. Os demais estão com a corda no pescoço.
Lula parte do raciocínio de que legendas como o PSB, PC do B e PDT dificilmente conseguirão cumprir a cláusula de barreira. Se o presidente estiver certo, esses partidos perderão o acesso ao chamado Fundo Partidário –um bolo feito de verbas públicas, que é dividido anualmente em fatias dimensionadas conforme o peso eleitoral de cada partido. Em 2006, o fundo está orçado em R$ 108 milhões.
Sem dinheiro, acredita o presidente, os pequenos partidos de “esquerda” serão compelidos a considerar com mais apreço a hipótese da fusão. E Lula acha que o PT é o destino natural dos políticos eleitos pelo PSB, pelo PC do B e, talvez, pelo PDT. A fusão, diz Lula, serviria aos interesses dos dois lados. Os náufragos da cláusula de barreira ganhariam uma bóia de sobrevivência. E seu governo, num eventual segundo mandato, passaria a dispor de um partido mais forte no Congresso.
O presidente está obcecado com uma palavra: “governabilidade”. Ele a repete com freqüência incomum. Embora diga a auxiliares e aliados que a eleição presidencial não está assegurada, Lula considera-se com um pé no segundo mandato. E diz que é preciso trabalhar para que o segundo ciclo seja “melhor do que o primeiro”. Algo que, a seu juízo, depende do poder de fogo do governo no Congresso.
Além da fusão partidária, o outro sonho de consumo do presidente é a atração do PMDB para um projeto de “coalizão” com o segundo governo petista. Escaldado pelo escândalo do mensalão, Lula considera vital que seu governo estabeleça com o Congresso uma convivência mais “civilizada”. Deseja acabar com a “negociação atomizada” que, segundo diz, conduziu o Planalto para a “armadilha” da troca de apoio por dinheiro de campanha.