Em seu último ato oficial após aprovação do relatório, a CPI dos Correios encaminhou ao Ministério Público e à Polícia Federal uma relação contendo indícios para investigar mais cinco deputados, inclusive o ex-ministro Eunício Oliveira (PMDB-CE), que poderiam ter recebido recursos do chamado “valerioduto.”
O documento, ao qual a Reuters teve acesso, descreve uma sequência de 97 saques que ultrapassam o valor de 7,3 milhões de reais, realizados na agência do Banco Rural em Brasília de contas de empresas e pessoas físicas ligadas a Marcos Valério de Souza, principalmente a SMPB, em 2003 e 2004.
A nova lista ficou pronta na reta final dos trabalhos da CPI, mas foi mantida em sigilo pelo comando da comissão porque os cinco deputados e os funcionários ligados a eles não foram ouvidos durante as investigações.
“Passamos a relação ao procurador-geral porque a investigação ainda não se esgotou”, disse o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).
As maiores movimentações da nova lista ocorreram em datas nas quais estiveram na agência uma servidora do gabinete de Eunício Oliveira e um servidor da segunda vice-presidência da Câmara, na época ocupada por Luiz Piauhylino (PDT-PE).
Os dois deputados negam ter recebido recursos do valerioduto, por meio dos funcionários ou qualquer outro. A lista também cita, com valores menores, funcionários ligados aos deputados Nilton Bahiano (PP-ES), João Mendes (PSB-RJ) e Benedito de Lira (PP-SE), que não foram localizados no feriado.
O documento associa ainda mais um saque (30 mil reais) ao ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) e outro (100 mil reais) ao deputado Wanderval Santos (PL-SP), ambos absolvidos em processos por quebra de decoro parlamentar. Nos dois casos, a associação é feita pela presença de funcionários ligados aos deputados, na agência, no dia dos saques.
Base aliada
Eunício Oliveira foi líder do PMDB na Câmara e ministro das Comunicações no período em que a servidora Cláudia Maria de Morais esteve 22 vezes na agência do Rural em datas em que foram sacados 3,5 milhões de reais do “valerioduto”, em valores que vão de 10 mil reais a 350 mil reais.
“Eu não tenho nada a ver com esses saques e quero que tudo seja investigado. A Cláudia explicou que ia ao banco para movimentar a conta do ex-marido dela”, defendeu-se o ex-ministro.
Eleito deputado em 2002 pelo PSDB, do qual era dirigente nacional, Luiz Piauhylino transferiu-se para o PTB, partido da base do governo, em agosto de 2003, e mudou para o PDT em dezembro de 2004. Nesse período, o funcionário da segunda vice-presidência Airon Hamilton Fernandes esteve 29 vezes no Rural, em datas que coincidem com saques de 2,5 milhões de reais do valerioduto, em valores que vão de 10 mil reais a 250 mil reais.
“Não tenho nada com isso. Ele (Airon) tem documentos que provam suas idas ao banco para tratar de assuntos do condomínio onde era síndico”, defendeu-se Piauhylino.
Em denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) dia 30, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, acusa ex-dirigentes do PT de terem montado “uma organização criminosa” para comprar apoio político do PMDB, PTB, PL e PP, utilizando empresas e pessoas ligadas a Marcos Valério.
A primeira denúncia sobre o chamado “mensalão” foi feita em reportagem do Jornal do Brasil em setembro de 2004 citando como fonte o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que na épooca negou ter feito qualquer acusação. Na condição de corregedor da Câmara em outubro de 2004, Piauhylino arquivou a denúncia por falta de provas.
Repescagem
O documento intitulado “Quadro de Indícios – Beneficiários dos recursos repassados”, entregue pela CPI ao Ministério Público e à PF, é a conclusão do cruzamento da relação de funcionários da Câmara com os registros de presença na agência do Rural em Brasília e os saques do valerioduto.
Considerada uma espécie de “repescagem” das investigações iniciais, a lista analisa saques em 68 datas situadas entre os dias 21 de janeiro de 2003 e 29 de dezembro de 2004.
Além dos sete assessores ligados aos deputados sobre os quais a comissão solicitou investigação, outros 13 servidores da Câmara estiveram na agência em datas coincidentes com saques.
“Não é possível que tanta gente vá num lugar onde ninguém vai exatamente nos dias de saques”, disse o relator Osmar Serraglio.
Na maior parte das datas analisadas no documento, estava na agência do Rural a gerente financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, que confessou à CPI ter sido a responsável pela entrega dos recursos a representantes de deputados.
Eunício Oliveira, que se encontra nos Estados Unidos, disse por telefone que Cláudia Morais trabalhou em seu gabinete a pedido do ex-deputado Paes de Andrade (PMDB-CE), sogro do ex-ministro.
Eunício assumiu o Ministério das Comunicações em fevereiro de 2004, quando a servidora foi transferida para o gabinete do peemedebista deputado Mauro Benevides, também do Ceará.
Cláudia é ex-mulher do cirurgião-dentista Yassukazu Aoe, que teria conta no Banco Rural, segundo a assessoria do ex-ministro. Cláudia e Aoe não foram localizados no feriado.
Luiz Piauhylino apresentou atas de reuniões do condomínio de um edifício em Brasília, demonstrando que, entre 2002 e 2005, o servidor Airon Vasconcelos foi síndico do prédio e nessa condição movimentava a conta 60745-6 naquela agência do Rural.
Também apresentou declaração assinada por Airon Vasconcelos no dia 26 de julho de 2005, e registrada em cartório dois dias depois, afirmando que frequentava a agência na condição de síndico do edifício e que nunca tratou, no Rural “de qualquer assunto referente ao deputado Luiz Piauhylino.”
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