O senador Aloizio Mercadante, 51, usará como trunfo na disputa com Marta Suplicy pela candidatura ao governo do Estado a proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Líder do governo e coordenador das campanhas de Lula desde 1982, ele se considera mais bem preparado que a ex-prefeita para a disputa, especialmente pela expressiva votação que teve em 2002 (10,5 milhões de votos) e pelo baixo índice de rejeição, de acordo com as pesquisas.
Criticado pelos próprios colegas por alguns excessos de vaidade, Mercadante faz um mea-culpa ao comentar a crise política: “O PT tem que assumir que errou”.
Também aponta a derrota de Marta para o então candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, José Serra, em 2004, como outro aspecto que o favorece.
“Marta perdeu o primeiro e o segundo turnos para o candidato que renunciou à capital, José Serra”, afirma.
Entre as propostas de uma possível candidatura, ele diz que vai acabar com a Febem. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha.
Folha – Por que o sr. se considera apto a disputar o governo?
Mercadante – Pela votação que tive,10,5 milhões de votos; porque a minha condição de líder do governo me permite fazer uma defesa consistente do governo Lula e porque tenho baixo índice de rejeição. Finalmente, porque tudo isso tem sido reconhecido pelas lideranças partidárias.
Folha – Com qual argumento conquistaria o voto do militante do PT?
Mercadante – O Lula está muito bem no Norte e Nordeste. Em São Paulo, há 22% dos eleitores do país. E aqui nós ainda perdemos as eleições. A ex-prefeita Marta perdeu o primeiro e o segundo turnos para o candidato que renunciou à capital, José Serra. Acho que eu teria melhores condições de vencer as eleições.
Folha – Se vencer a prévia, quais serão suas principais propostas?
Mercadante – São Paulo precisa voltar a crescer, a liderar o desenvolvimento econômico no Brasil. Nos 12 anos de PSDB, em dez anos São Paulo cresceu abaixo da média nacional. O sistema nacional de avaliação de ensino demostra queda da qualidade de ensino ao longo desses 12 anos.
E em terceiro lugar, a segurança pública. Precisamos modernizar a polícia, a exemplo do que fizemos na Polícia Federal. Precisamos também reestruturar totalmente a Febem. A Febem é uma instituição que não tem mais viabilidade. Pretendo acabar com a Febem.
A exemplo do que fizemos no Rio Grande do Sul, criaríamos duas instituições: uma para tratar dos reclusos e outra em que trabalharíamos a liberdade assistida.
Folha – Como retomar o crescimento de São Paulo?
Mercadante – As condições macroeconômicas para um desenvolvimento sustentável estão dadas. Falta criar agências de desenvolvimento no interior, identificar as vocações econômicas. Outra questão é que SP ficou imobilizado diante da guerra fiscal, o que prejudicou o crescimento.
Folha – Mas é preciso primeiro aprovar o restante da reforma tributária.
Mercadante – É evidente que a reforma tributária é a saída definitiva dessa questão. São Paulo deveria estar empenhado em buscar uma solução para a reforma tributária e não esteve.
Folha – Lula manifestou preferência à sua candidatura?
Mercadante – Ele de fato tem dito a todos os interlocutores que o procuraram a preferência pela minha candidatura, com a reserva e o cuidado que deve ter um presidente. Como a referência política mais importante do PT, é evidente que a opinião de Lula conta. O presidente acha que eu tenho mais potencial de crescimento político e tenho uma capacidade de discussão e intervenção e, portanto, neste momento, seria a candidatura mais adequada.
Folha – O publicitário Duda Mendonça admitiu o caixa dois do PT, e o sr. se explicou à CPI. Houve caixa dois na campanha estadual?
Mercadante – Durante um ano de investigação, em todas as CPIs e no Ministério Público, meu nome jamais foi mencionado. Duda Mendonça fez um pacote nacional [para o PT]. Era a mesma agência, a mesma equipe. São Paulo fez essa campanha. Não conheço nenhuma campanha que tenha declarado, como nós, R$ 2,1 milhões em gastos com publicidade [montante de São Paulo]. Foi declarado oficialmente.
Folha – No sistema financeiro, há resistências a seu nome por conta da sua atuação na CPI dos Bancos, quando denunciou instituições. Isso o prejudicaria?
Mercadante – O país sofria um severo ataque especulativo. Eu denunciei o caso Marka/Fonte Cindam numa audiência com Armínio Fraga [ex-presidente do Banco Central]. Disse que havia ataque especulativo e agentes do sistema financeiro tinham rentabilidade abusiva. Fiz uma apresentação cautelosa dos agentes que eventualmente teriam tido algum ganho e mudaram de posição na véspera da desvalorização do Real. Não houve vazamento.
Folha – Que diagnóstico o sr. faz do governo Lula?
Mercadante – O balanço é extremamente positivo. Mudamos o padrão de inserção internacional. Dobramos as exportações em três anos; reduzimos a dívida externa em US$ 41 bilhões; pré-pagamos a dívida com o FMI. Estabilizamos a relação dívida/ PIB; criamos 4 milhões de emprego. O salário mínimo é o melhor dos últimos 20 anos; a cesta básica está mais barata que no início do Real.
Folha – O governo e o PT erraram?
Mercadante – É evidente que erramos. Erramos em uma área que ninguém imaginava que pudéssemos errar, que é a ética na política. Sempre foi uma marca fundamental do PT. O fato de outros partidos estarem envolvidos na crise, de governos anteriores, não serve de consolo. Temos que assumir o erro e trabalhar para que nunca mais volte a acontecer.
Folha – Quais as fragilidades de José Serra numa campanha?
Mercadante – Ele tomou uma atitude grave: se comprometeu que ficaria até o final do governo e não cumpriu. Palavra é essencial a um homem público.
Folha – O sr. tem o apoio de petistas envolvidos na crise, como João Paulo. Eles estariam no palanque?
Mercadante – A biografia de João Paulo [ex-presidente da Câmara] é muito maior que os erros. Vamos aguardar a decisão da Justiça. Com algumas dessas pessoas tenho carinho muito grande. Mas o homem público não pode ter compromisso com o erro.
Folha – O erro foi só do PT? E Lula?
Mercadante – Em relação ao governo, seguramente cometemos erros, mas, em relação a essas denúncias, tenho absoluta segurança que o presidente não tem nenhuma responsabilidade.
Folha – O sr. é um político vaidoso? Isso o atrapalha?
Mercadante – Eu diria que a humildade não é a minha melhor característica. Pelo menos eu preciso tê-la para admitir. O processo difícil de construção do governo, as dificuldades que passamos, foi tudo um grande processo de amadurecimento.
Fonte: Folha Online
Apoiado por mensaleiro, Mercadante vê erro ético no PT
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