Foi decretada no começo da madrugada desta segunda-feira (20) a prisão temporária de Luis Eduardo Cirino, assassino confesso do casal de idosos de Perdizes. Ele será levado ao IML, onde fará exames de rotina, e mais tarde para a carceragem do 77° DP, de Santa Cecília, na capital.
O delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) Rodolfo Chiarelli informou na noite deste domingo (19) que a polícia pediu a prisão temporária de Luis Eduardo Cirino, que se entregou à polícia e confessou ter matado a facadas o casal Sebastião Esteves Gonçalves, de 71 anos, e Hilda Gonçalves, de 68. O crime ocorreu na manhã de sexta-feira (17), na casa das vítimas, na Rua Cayowaá, em Perdizes, Zona Oeste de São Paulo.
Segundo Chiarelli, Cirino foi indiciado por latrocínio (assalto seguido de morte). O delegado ressaltou que tem provas de que o desempregado cometeu o duplo homicídio.
Cirino disse à polícia que se entregou porque estava com a consciência pesada e se sentiu pressionado. O desempregado declarou ainda que não teve a intenção de matar o casal, mas que cometeu o crime para que as vítimas parassem de reagir.
O delegado, no entanto, disse não acreditar que isso seja verdade. Ele acha que isso é um “xaveco”. Para Chiarelli, Cirino tinha clara intenção de matar. Cirino disse ainda que não conhecia Rogério Gonçalves Tavares, de 42 anos, filho do casal que também foi ferido por ele com uma facada no pescoço.
Os delegados Chiarelli e José Vinciprova deixaram a sede do DHPP, no Centro de São Paulo, por volta de 0h desta segunda-feira (20), para entregar o pedido de prisão temporária a um juiz na Zona Leste. Depois Cirino será levado ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito e depois para o 77º DP (Santa Cecília).
Cirino, que mora a duas quadras da residência do casal assassinado e estudou até a 6ª série, marcou um encontro com a Polícia Militar em frente à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Perdizes, na tarde deste domingo, após ligar para o 190. Antes de se entregar, ele teria conversado com um padre da paróquia.
Segundo o coronel da PM Isaú Segalla, comandante da região oeste de São Paulo, Cirino já teve problemas com drogas e é usuário de maconha. Ele foi levado primeiro ao 23º DP, em Perdizes, e depois para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde prestou depoimento para o delegado Rodolfo Chiarelli.
Cirino chegou ao 23º DP com uma toalha colorida encobrindo seu rosto e disse que está arrependido de ter cometido o crime. Ao ser perguntado sobre o motivo do duplo homicídio, Cirino disse não saber por que matou o casal. “Não planejei nada, só queria dinheiro”, disse.
De acordo com o soldado da Polícia Militar (PM) Maelson Bastos Souza, que esteve na igreja no momento em que Cirino se entregou, o vizinho do casal entrou por volta das 3h de sexta-feira (17) na residência das vítimas escalando o muro e ficou escondido no quintal.
Por volta de 6h, quando Hilda abriu a porta da casa, Cirino se aproximou e colocou a mão na boca dela. Nesse momento, a idosa gritou, e acabou esfaqueada. Sebastião ouviu o grito, foi ao socorro dela e quase entrou em luta corporal com Cirino. O rapaz então teria dito ao idoso para ele ficar deitado no chão que nada iria acontecer com ele. Sebastião obedeceu.
Cirino então perguntou se havia mais pessoas na casa e foi até o quarto de Isaura da Purificação, de 93 anos, mãe de Hilda. Novamente Cirino teria dito para ela ficar quieta que não iria acontecer nada.
O funcionário público Rogério Gonçalves Tavares, de 42 anos, filho do casal, estava tomando banho. Cirino arrombou a porta do banheiro e, quando percebeu que Rogério iria reagir, deu uma facada no pescoço dele e o amarrou. Depois voltou para o quarto de Isaura, a levou para o banheiro junto do neto e também a deixou amarrada.
Ao ouvir o ataque, Sebastião correu para o portão, que estava trancado. Ele então começou a gritar por socorro em direção à rua. Nesse momento Cirino foi até lá e tentou tirá-lo do portão, mas como Sebastião não se soltava, também foi esfaqueado e colocado dentro da casa.
Após matar o casal e ferir Rogério, Cirino fugiu da residência pulando o muro, ao ouvir a chegada do carro da Polícia Militar. Segundo o coronel da PM Segalla, foi justamente a irmã de Cirino, T.B.C., quem chamou a polícia após ter visto o vulto de uma pessoa esfaqueando alguém dentro da residência do casal morto.
Segundo o coronel da PM, a faca de Cirino tem cerca de 30 cm de lâmina, que é de inox, e tem um cabo branco. Além disso, Cirino usou uma máscara preta de plástico durante o crime. O vizinho do casal entregou à polícia a roupa usada no dia do crime – calça, camiseta e um par de tênis preto -, além da máscara e da faca. Cirino está desempregado atualmente, mas antes trabalhava numa empresa de arte visual.
Crime
O assassinato do casal ocorreu entre 6h e 6h30. Uma testemunha, que no caso seria irmã de Cirino, teria visto uma pessoa esfaqueando outra e ligou para a polícia, que chegou ao local por volta das 7h. Seis carros da Polícia Militar atenderam a ocorrência. A perícia chegou ao local por volta das 10h. Os corpos foram retirados às 11h40.
Segundo a polícia, Rogério não teria facilitado a entrada dos policiais no local do crime. A casa precisou ser arrombada pelos PMs. Quando os policiais conseguiram entrar no local, o filho do casal estaria em estado de choque e falando informações desconexas. Ele foi encontrado com ferimentos na nuca. A avó de Rogério e mãe de Hilda, Isaura da Purificação, de 93 anos, foi encontrada no quarto dela.
Segundo a PM, Rogério teria saído para a rua, ensangüentado, pedindo ajuda e dizendo ter sido vítima de tentativa de assalto.
Rogério foi submetido a cirurgia de sutura ainda na manhã de sexta. Ele teve um ferimento profundo, com 10 centímetros de extensão, na parte de trás do pescoço. Ele teve alta do hospital na manhã de sábado (18) e foi levado pelo irmão, Valter Gonçalves Tavares.
Família católica
O casal assassinado era "discreto e bem-educado" e não reclamava de problemas em família, segundo relatos de vizinhos. Sebastião e Hilda tinham uma família muito católica e freqüentavam a Igreja Nossa Senhora de Fátima, que fica na região. Sebastião pertencia ao Grupo Vicentino da paróquia, movimento que trabalha dando assistência a comunidades carentes.
O fotógrafo Eduardo Santaliestra, de 62 anos, descreveu o casal como "discreto e bem-educado" e afirmou que todo dia após o jantar eles saíam para caminhar e conversavam com as pessoas pelo bairro. Os dois nunca reclamaram para o fotógrafo do relacionamento com os filhos. "Ela tinha sempre muito orgulho dos filhos. Não tinha nada excepcional", conta Eduardo.
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Fonte: Globo.com