Em muitos municípios paraibanos nesta segunda-feira, dia 19, será um dia de devoção e festa para São José, independente do fato de chover ou não. É a época do ano em que agricultores ficam apreensivos porque imaginam que uma data, 19 de março, será decisiva para determinar como serão seus próximos doze meses: se vai chover para ele plantar e colher, ou se vai ser um ano seco.
O culto do sertanejo a São José, explica o antropólogo Luiz Assunção, faz parte de toda uma relação que o homem tem com a natureza. Isso não ocorre somente com este santo. Há outras associações da vida diária do sertanejo remetidas ao extraordinário. "São práticas simbólicas de representação do que as pessoas vivem no dia-a-dia. O saber é construído a partir da prática deles", diz ele.
Embora esse saber não seja considerado pela ciência como verdadeiro, ele é similar ao saber científico. Para o sertanejo, o conhecimento prático é o verdadeiro. Ele faz a leitura do universo a partir do conhecimento cotidiano sem as bases colocadas pela ciência. Não se pode desprezar essa possibilidade de verificação e explicação do universo retiradas do dia-a-dia do homem do campo.
Tal como os meteorologistas, que fazem suas previsões através da leitura das condições atmosféricas, da temperatura da superfície dos oceanos, condições dos ventos e outros fenômenos naturais, o sertanejo tem seus métodos próprios para fazer a previsão do tempo.
Segundo o antropólogo, o sertanejo tem sua própria sabedoria formada através do levantamento de suas hipóteses e acontecimentos do dia-a-dia. Se os cientistas fazem cálculos, medem e comparam parâmetros meteorológicos, o agricultor observa o céu, as nuvens, as estrelas. Faz análises do comportamento dos animais, das aves, da vegetação para fazer suas projeções sobre o clima. E dá certo.
A relação que o agricultor nordestino faz entre as chuvas e o dia de São José, explica o antropólogo, é baseado nas observações diárias e tem tradição Ibérica. É em março, geralmente, que começa o período de chuvas mais fortes.
É uma leitura da natureza. Através dessa leitura cotidiana ele faz suas projeções de plantio e colheita. Por exemplo, plantando em março, ele sabe que deverá colher em junho, mês reverenciado a outros santos, como Santo Antônio, São João e São Pedro. Todos, de alguma forma, ligados à fertilidade. O primeiro é o santo casamenteiro, o segundo, da colheita de junho, e o terceiro, das águas.
Níveis dos açudes
As barragens e grandes açudes da Paraíba já registram um acúmulo de água superior a 80 por cento da sua capacidade de armazenamento e, segundo a Aesa (Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado), a tendência é que tenhamos um bom inverno este ano, mesmo com as chuvas caindo mais em algumas regiões como Litoral, Cariri e Sertão.
Nos dias 14 e 15 deste mês, técnicos do governo federal, dos governos estaduais e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) estiveram reunidos em Recife fazendo as previsões meteorológicas para este ano. "Vamos ter um bom inverno este ano na Paraíba", avisa Sérgio Góes, diretor da Aesa.
Os dois maiores mananciais da Paraíba já estão com sua capacidade acima do que os técnicos esperavam para este mês de março. O Açude de Coremas/Mãe dÁgua, no Sertão, já está com 95 por cento da sua capacidade de acumulação de água. O Boqueirão, no Cariri, conforme o monitoramento da Aesa, já ultrapassou 90 por cento da sua capacidade.
As regiões onde têm se registrado os maiores índices pluviométricos são o Sertão, em primeiro lugar, o Litoral, em segundo, e o Cariri, em terceiro. "Tem chovido mais no Sertão porque essa é a época das chuvas naquela região", lembra Sérgio Góes.
"Este ano de 2007 vamos ter chuvas dentro da média em algumas regiões e em outras regiões (como é o caso do Sertão e Litoral) já estamos registrando chuvas acima da média histórica registrada em anos anteriores", diz o diretor da Aesa.
Pelos dados de Sérgio Góes, as regiões da Paraíba que vêm registrando os menores índices de pluviometria são o Brejo e o Agreste. "Nestas duas regiões as chuvas costumam chegar mais tarde, lá pelo final de abril e começo de maio. Mas as previsões são boas", afirma.
O problema – Segundo dados fornecidos pela Cagepa (Companhia de Abastecimento da Paraíba), 11 sistemas estão em racionamento na Paraíba e quatro deles não mais funcionam por falta de água. Todos esses sistemas estão localizados no Brejo.
As populações de algumas cidades do Brejo estão recebendo água através de carro-pipa. "Esperamos que as chuvas cheguem ao Brejo entre os meses de abril e maio para acabar com o racionamento", diz Ricardo Leal, presidente da Cagepa.
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