Paraíba

Hábito de leitura: a difícil arte de gostar de livros e viajar no univ

Pesquisa revela que paraibanos gostam de ler, apesar de acharem altos os preços dos livros

A leitura é um hábito diretamente ligado à escrita, e conseqüentemente ao desenvolvimento humano. Envolve aspectos ideológicos, culturais e filosóficos. Exige posicionamento. Infelizmente, ainda é um hábito que está longe de ocupar o espaço que deveria na vida da população brasileira. Alguns especialistas atribuem o desinteresse do brasileiro pela leitura, ao fato de nossos colonizadores não terem favorecido nosso desenvolvimento cultural. O que gerou, inclusive, com a aplicação de uma política colonialista, um entrave à produção editorial brasileira.

Ler. Muitas vezes um verbo difícil de ser conjugado, para todas as idades. Para alguns ler é um prazer, um vício, uma necessidade. Para outros é uma imposição, normalmente desagradável, exigência da escola ou da profissão. O gosto pela leitura está muito ligado aos estímulos que recebemos na infância. O contexto familiar é de grande importância. Crescer no meio de livros, ver as pessoas lendo à sua volta, pode ser um excelente início na formação de um leitor.

À escola cabe um papel primordial no desenvolvimento do hábito da leitura, mas nem sempre ela consegue tirar o caráter obrigatório do processo, e desenvolver o gosto pelos livros. Muitas vezes os próprios professores não têm o hábito de ler ou de comprar livros, sistematicamente. As dificuldades cotidianas enfrentadas por muitos professores e alunos, principalmente da rede pública de ensino, acabam deixando essa questão em segundo plano.

O que demonstra a necessidade de cada vez mais serem desenvolvidos programas e projetos estaduais e municipais de incentivo à leitura, e à escrita. Promoção de cursos para formar mediadores de leitura, atualização da formação continuada de professores, e ações públicas permanentes de trabalho com a leitura, envolvendo diversos segmentos, são algumas ações que podem fazer a diferença. Assim como instalação e apoio às bibliotecas e outros locais de leitura, como parte de um processo de consolidação da política pública da leitura nos Estados e Municípios.

Para o professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Wellington Pereira, Doutor em Sociologia pela Sorbonne e Mestre em literatura Brasileira pela UFPB, a leitura tem uma relação direta com a sociologia do cotidiano, com a sociologia reflexiva. “Há toda uma discussão sobre a leitura, inclusive estudos que mostram a partir dos clássicos, como é que as pessoas se comportam”, lembra o professor.

Ele nos fala, inclusive, de trabalhos que estudam os hábitos de leitura de uma determinada sociedade em função dos seus acontecimentos históricos. Na França, por exemplo, existem estudos que analisam o que os franceses liam quando da Queda da Bastilha, e partem daí para explicar alguns comportamentos da população nesse período. É possível também fazer uma análise da exclusão a partir do processo educacional, quando a leitura pode ser utilizada como um instrumento de dominação.

“Os hábitos de leitura vão se modificando de acordo com o tempo social, com a divisão social do trabalho. Antigamente era proibido ler em voz alta, tinha que ter leitura silenciosa, por conta das tradições dos mosteiros, da Idade Média. Depois esse hábito de leitura, as pessoas liam muito em pé, e depois passam a ler sentadas”, acrescenta Wellington, que lembra que havia também a divisão sobre quem podia ler e quem não podia, lembrando que também na Idade Média, esse era um hábito reservado ao clero, que por sua vez não se preocupava em alfabetizar as pessoas, porque eles usavam a leitura como um instrumento de dominação.

O professor Wellinton Pereira, que também é escritor, lembra que atualmente é possível perceber que hoje as pessoas passaram a ler com mais rapidez, uma leitura mediada pelos meios eletrônicos. “Então isso já é uma modificação, hoje não se faz mais uma leitura do livro, só da questão do texto impresso, faz uma leitura do hipertexto, um texto leva a outro, um texto leva a uma música. Então esse tipo de leitura se modificou muito, nos últimos anos, sobretudo eu acredito que o desenvolvimento tecnológico impulsionou a leitura. Talvez não a leitura no sentido de ler os cânones, os modelos da literatura, mas o volume de leitura, eu acho que é maior hoje”, acrescenta.

Ele também acredita que houve uma contribuição da Internet, para democratizar a leitura. “Se escreve mais, e se lê mais também. Eu acho que a tendência é que algumas coisas que eram praticamente ligadas a uma cultura se tornem de domínio público”, diz Wellington, lembrando, no entanto, que falta à essa leitura reflexão, interpretação. Porque a leitura não é um ato isolado, é um ato social. Independente dos modelos que cada sociedade oferece, com parâmetros culturais e sociológicos, diretamente ligados ao imaginário social. Quanto mais se investir na alfabetização das pessoas, na formação educacional, maior será o gosto pela leitura.

Uma pesquisa informal e sem pretensão de mapear os hábitos de leitura dos moradores da cidade de João Pessoa, o que exigiria uma pesquisa com metodologia específica, identificou alguns pontos interessantes à respeito do tema, hábitos de leitura. As pessoas ainda acham o livro caro. E considerando o Salário Mínimo nacional, realmente a compra de um livro pode representar cerca de 10% do salário pago à maioria da população brasileira.

Muitos afirmam gostar de ler, mas não conseguem ser claros quanto ao hábito de adquirir livros, dizendo muitas vezes que pegam emprestados, de amigos ou de bibliotecas. E muitas vezes têm dificuldade até em definir estilo ou autores preferidos. Mas um pequeno, porém significativo número, exerce essa atividade como um vício, quase uma religião, freqüentando sebos e livrarias freqüentemente. Mas o mais comum é a leitura obrigatória, seja em relação às exigências escolares ou profissionais. A seguir, trecho de alguns depoimentos.

“No momento, estou lendo mais livros técnicos, da minha área. Comprei recentemente livros como Teoria da Comunicação de Massa, Comunicação Pública, coisas do gênero. Comprei mais livros técnicos, didáticos, do que propriamente livros de literatura brasileira. Mas uma obra que eu gosto muito, um autor, aliás, é o Machado de Assis, eu gosto do jeito que ele escreve”. Adolpho Eloy, 23 anos, Fotógrafo.

“Eu gosto de ler histórias em quadrinhos, ficções, reportagens. Mas eu gosto mesmo de romances, redescobrir Kafka. Eu gosto muito de quadrinhos, porque é minha área e tudo o mais. Eu procuro tudo, desde os quadrinhos adultos, até aqueles mais requintados. Os livros eu costumo emprestar dos amigos, só compro o livro se eu gostar muito, acabo até comprando depois só pra ficar com ele. Agora quadrinhos eu compro todos os meses”. Audaci Jr., 28 anos, Videasta e Quadrinista.

“A leitura é uma paixão antiga. Não consigo passar uma semana sem comprar um livro ou fazer uma rápida visita às livrarias. Tem sempre um livro na minha cabeceira, esperando um tempinho livro para ser lido”. Adriana Albuquerque, 42 anos, Advogada.

“Eu gosto de ler literatura, autores brasileiros, eu gosto de ler livros técnicos. Gosto de ler também história infantil, principalmente porque leio com o meu filho, mas eu já gostava, ainda tenho um lado infantil muito aguçado. E tudo que tiver, que eu achar interessante, reportagens, ficção, gosto de ler bastante. Só não tenho comprado muito livro ultimamente porque está muito caro”. Nice Almeida, Jornalista e Radialista, 26 anos

“Leio por obrigação, na maioria das vezes. Mas quando é por prazer, os meus preferidos são os de auto-ajuda, que considero uma necessidade”. Nathiele Ferreira, 25 anos, estudante de Comunicação Social.


Lilla Ferreira
ClickPB

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