Cumprindo o compromisso assumido nos meus textos, “O rei nu” e “Narciso”, retorno para lançar luz sobre as questões que envolvem a eleição da OAB-PB que se aproxima. Embora seja desnecessário reiterar, deixo claro novamente que não sou candidato, mas apoio e trabalho pela eleição da Chapa 10, liderada por Paulo Maia e Luciana Brito. Meu objetivo aqui é meramente apresentar minha opinião e gerar reflexão entre aqueles que, assim como eu, desejam uma gestão mais próxima e comprometida com os advogados e advogadas da Paraíba.
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Como professor universitário, tenho o privilégio de acompanhar de perto o drama da jovem advocacia, especialmente de ex-alunos que se lançam no mercado de trabalho com grandes sonhos e expectativas. Um dos pontos mais críticos enfrentados pela jovem advocacia na Paraíba é o profundo distanciamento entre a OAB-PB e a realidade dos profissionais recém-formados. Para muitos advogados em início de carreira, o sonho de exercer a profissão logo se transforma em uma batalha diária por sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo e saturado. As expectativas de sucesso e estabilidade que carregavam ao se formarem, muitas vezes, se dissipam diante das dificuldades de conquistar clientes, enfrentar remunerações baixas e lidar com a pressão financeira.
Nesse cenário, as taxas elevadas de inscrição e anuidade cobradas pela Ordem se tornam um fardo adicional. Muitos jovens advogados, que já enfrentam problemas para se estabelecer profissionalmente, veem nesses custos uma barreira quase intransponível. Em vez de receberem o apoio necessário para navegar pelas incertezas do início da carreira, encontram-se em uma situação de abandono.
A atual gestão da OAB-PB, no entanto, parece adotar estratégias que tentam maquiar esse distanciamento. A utilização das comissões temáticas da casa e o ritual de acolhimento dos neófitos advogados, especialmente com a fracionada entrega de carteiras, são apresentados como gestos de integração. Essas práticas visam seduzir os jovens advogados que, sem muitas opções de inserção no mercado, acabam se rendendo ao convite de participar de trabalho voluntário na Ordem em comissão temática de seu interesse pessoal, nutrindo a esperança de um eventual “lugar ao sol”. Ledo engano.
Ao analisarmos a composição da chapa da situação, fica evidente que as posições de maior destaque continuam concentradas nas mãos dos mesmos grupos. Os cargos mais importantes são divididos entre os membros da cúpula elitista da Ordem, refletindo um sistema fechado que pouco dialoga com as necessidades e expectativas dos jovens advogados da Paraíba. Em vez de democratizar o acesso às oportunidades de crescimento, a estrutura da OAB-PB mantém o controle sobre as posições de influência nas mãos de uma minoria, distanciando ainda mais a jovem advocacia.
Esse sentimento de desamparo encontra eco no poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade, que expressa a angústia de quem se vê perdido em meio às frustrações da vida:
“E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?”
A “festa” da formatura acaba rapidamente, e a realidade da advocacia, especialmente para os jovens, se apresenta de forma fria e implacável. A falta de ações concretas por parte da OAB-PB para mitigar as dificuldades enfrentadas pelos novos advogados apenas amplia essa sensação de abandono. Enquanto a instituição se dedica a estratégias simbólicas, a jovem advocacia, que deveria ser amparada e incentivada, se vê à mercê de um mercado saturado e de uma entidade que parece não acompanhar de perto suas necessidades mais urgentes.
Enquanto a OAB-PB foca em pautas elitistas ou se envolve em questões mais amplas, aqueles que mais precisam de orientação, apoio e oportunidades ficam à margem. A jovem advocacia não quer apenas ser reconhecida, mas precisa de um suporte efetivo para construir carreiras sólidas em um mercado hostil. É essencial que a OAB-PB se aproxime desses profissionais, entenda suas dificuldades e implemente medidas que ofereçam soluções práticas para os desafios cotidianos. Caso contrário, a distância entre a Ordem e os advogados em início de carreira continuará a aumentar, e a profissão, que deveria ser um caminho de progresso, permanecerá um labirinto de incertezas.
Por essas razões, em defesa dos advogados e advogadas em início de carreira — especialmente os jovens profissionais que, diante das dificuldades e da falta de apoio, são forçados a buscar alternativas fora do Direito, como trabalhar como motoristas de Uber, táxi, vendedores, manicures, cabeleireiros, entre outras honradas profissões — reafirmo minha confiança na Chapa 10, liderada por Paulo Maia e Luciana Brito. Acredito que essa chapa está comprometida com uma gestão que enfrente essa dura realidade, promovendo políticas que ofereçam melhores condições e oportunidades para que a jovem advocacia possa exercer sua profissão com dignidade e estabilidade.