Para manter a sua influência sob a Ucrânia, um dos mais importantes ex-membros da União Soviética, a Rússia quer que a União Europeia e os Estados Unidos garantam que Kiev não entrará para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Para isso, o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou uma operação militar no leste da Ucrânia, onde seguem movimentos separatistas desde o último dia 21 de fevereiro.
Em entrevista ao ClickPB, nesta quinta-feira (24),o professor de Relações Internacionais, Jan Marcel Lacerda, explicou as motivações e impactos gerados pelo conflito entre ambas as nações e a influência no Brasil.
“Isso é resquício da Guerra Fria, quando tinha duas compreensões de mundos diferentes. Aquele território da Ucrânia fazia parte da União Soviética. Dentro dessa conjuntura, eles não tiveram guerras diretas, e sim em locais localizados como no Vietnã. Dentro dessa conjuntura se formou uma aliança com o tratado da Otan do Atlântico Norte, para proteção de países Europeus, juntamente com os Estados Unidos. Essa foi uma aliança militar que fazia frente à União Soviética e do lado de lá foi o Pacto de Varsóvia. Então, a URSS ruiu e a Otan continuou se expandido. Esse ano o Joe Biden, convidou a Ucrânia para a Otan, e isso representou uma ameaça à Rússia, onde passa dutos de gás e recursos que abastecem toda a Europa. Isso fez com que os russos se sentissem coagidos, em ter alinhamento com o inimigo. Então, não encontraram um diálogo passivo”, explicou.
Para o especialista, todos os países sentem de alguma forma os prejuízos de um ataque como esse. Ele destacou que o Brasil já acumula uma série de aumentos no preço dos combustíveis, e que um conflito internacional como esse geraria ainda mais elevação nos preços.
“Toda guerra prejudica o comércio, que será alvo de contratempo e fica em uma situação que prejudica as economias de diversos países. No Brasil, isso pode ter impacto no preço do petróleo, do dólar, quedas nas bolsas de valores e nos investimentos, além gerar uma crise humanitária com refugiados e cidadãos tentando sobreviver em meio aos caos. Os efeitos mais rápidos e visíveis estão no abastecimento de gás, alta de preço de combustíveis, principalmente no Brasil que já chegou a aumentar tanto o preço de combustíveis nos últimos meses, gerando ainda mais pressão inflacionária”, destacou o especialista.
Além desses aspectos econômicos, o caos se instala na vida de milhares de pessoas. O pesquisador Jan Marcel lembra que as pessoas são orientadas a se abrigarem em lugares seguros, mas que a maioria em desespero tenta sair das cidades atacadas para se refugiarem pelas estradas, já que o transporte aéreo já foi bloqueado.
“O que tá configurando é uma demonstração de força. Olha, aqui é meu território eu não vou permitir que intrusos se aproveitem. A Ucrânia entrar na Otan é uma ameaça para a Rússia. Putin acredita que com o ataque haverá proteção contra os separatistas no leste. Armas já foram distribuídas até com a população”, pontuou.
Ele destaca ainda que a ideia é que os brasileiros procure a embaixada do país lá que possa recebe-los, já que o território da embaixada tem segurança legal e é protegido. ” O que o Itamaraty pode fazer é juntar os brasileiros e orientar para que também haja o refúgio, inclusive saídas por terras, já que o transporte aéreo segue suspenso”, lembrou.
A embaixada em Kiev recomendou que os brasileiros aguardem as instruções. Existem 500 brasileiros na Ucrânia, que já procuram por refúgio em cidades fora do eixo de conflito.
Leia mais:
Russos e ucranianos se enfrentam perto de Chernobyl, onde há um depósito de resíduos nucleares
‘Putin está planejando isso há meses’ diz Biden em novo pronunciamento sobre o conflito na Ucrânia