Um processo de degradação ambiental conhecido como ‘branqueamento’ foi registrado há exatamente uma semana em corais localizados na foz do rio Mamanguape, Litoral Norte paraibano.
O ClickPB apurou que a observação se deu por uma pesquisadora do Projeto de Detecção Precoce e Resposta Rápida (DPRR), ação ligada ao Ministério do Meio Ambiente que analisa espécies exóticas invasoras que ocorre na região do Vale do Mamanguape, Litoral Norte paraibano.
De acordo com Lívia Corassari, doutora em Ciências Biológicas e pesquisadora que observou o branqueamento, o fenômeno foi visto na última sexta-feira (26) nos arrecifes da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Rio Mamanguape.
Como apurou o ClickPB, todos os corais da espécie 𝑺. 𝒔𝒕𝒆𝒍𝒍𝒂𝒕𝒂 estavam com uma coloração de branqueamento.
Alguns deles com um tom mais escuro de lilás e outros quase brancos.
“Na APA, meu último campo nos arrecifes foi em setembro/2023. Eu não vi os corais com essa coloração e foi isso o que chamou a atenção, pois todas as colônias observadas estavam com essa coloração lilás”, explicou a pesquisadora ao ClickPB.
De acordo com a Lívia, a fase observada na Barra do Mamanguape é a que antecede o completo branqueamento do coral, o que pode levar a morte das colônias.
“O branqueamento dos corais é um processo cíclico e tem sido observado há anos em todo mundo devido ao aumento da temperatura da água. Sobre essa espécie especificamente, há relatos de branqueamento em outras regiões no litoral paraibano e nos recifes de Porto de Galinhas e Tamandaré, no Estado de Pernambuco”, falou em entrevista ao ClickPB.
Até o momento não se sabe exatamente desde quando os corais da Barra do Mamanguape estão passando por esse processo de branqueamento, porém com auxílio de mais pesquisas pode ser estimado o tempo.
Os métodos podem ser desde inspeções visuais dos recifes até a instalação de sensores subaquáticos para registrar as variações da temperatura da água do mar.
Efeitos que podem causar o branqueamento de corais
Apesar de visualmente parece algo simples, o branqueamento de corais indica que tais organismos estão sendo vítimas de uma série de mudanças nos ambientes aquáticos, como por exemplo aumento na temperatura e no nível de poluição.
“O branqueamento dos corais pode ser decorrente de diversos fatores, como o aumento da temperatura da água, estresse hídrico, sedimentação e poluição”, explica a pesquisadora Lívia ao ClickPB.
De acordo com ela, o branqueamento significa “que os corais estão perdendo as algas responsáveis pela cor e fornecimento de nutrientes e oxigênio através da fotossíntese, necessários para sua sobrevivência”.
“Quando a temperatura da água do mar aumenta, essas algas são expulsas, deixando-os vulneráveis e, muitas vezes, causando até a morte do coral” alerta.
Estudos revelam que, para os corais, o processo de branqueamento é extremamente prejudicial, pois indica uma condição de estresse e enfraquecimento
É que as zooxantelas, microalgas simbióticas que vivem nos tecidos dos corais, são essenciais para sua sobrevivência, fornecendo nutrientes e oxigênio através da fotossíntese.
“Quando os corais expulsam essas algas devido a condições adversas, como o aumento da temperatura da água, eles perdem sua principal fonte de energia e ficam mais suscetíveis a doenças e morte”, explica a pesquisadora Lívia Corassari.
A reversão do branqueamento coralino é possível em certas circunstâncias, especialmente se as condições ambientais que causaram o estresse forem restauradas.
“A capacidade de reversão pode variar dependendo da gravidade do estresse e da saúde inicial dos corais”, evidencia.
Impactos em outros animais locais
Além dos corais, outros animais que compõem o ecossistema da APA podem ter impactos significativos com o branqueamento.
“O branqueamento pode reduzir a biodiversidade, a disponibilidade de habitat e de alimentos e a influenciar na saúde geral dos ecossistemas marinhos”, disse a pesquisadora à reportagem.
Em relação ao peixe-boi marinho, não há um impacto tão direto. “A não ser quando falamos da degradação ambiental”, pontua Lívia.
Assoreamento em rio pode ser um dos fatores que contribuem com branqueamento
O Rio Mamanguape nasce no município de Montadas, no Agreste do estado e percorre 112 quilômetros até desaguar no Oceano Atlântico, entre os municípios de Rio Tinto e Marcação.
Ao longo do percurso, o rio recebe despejo de esgotos, tem assoreamento e tem despejo de produtos químicos oriundos da agricultura.
Segundo a pesquisadora Lívia Corassari, estes dois últimos fatores podem influenciar no branqueamento observado nos corais da Barra do Mamanguape.
“O assoreamento do Rio Mamanguape e a presença de resquícios de produtos da cana-de-açúcar e outras atividades como a carcinicultura podem contribuir para o estresse e a degradação dos recifes de coral na região. Neste último campo, observamos o acúmulo excessivo de sedimento e muita turbidez”, disse à reportagem.
Com isso, podem bloquear a luz solar necessária para o crescimento das zooxantelas, diminuindo a capacidade dos corais de sobreviverem e se recuperarem do branqueamento.
“É claro que será necessário realizar estudos focados nesse tema’, avalia.
Remoção
O objetivo das ações do Projeto de Detecção Precoce e Resposta Rápida (DPRR), segundo foi detalhado ao ClickPB, é a aplicação de medidas de erradicação ou contenção, com rapidez, quando da detecção de uma espécie exótica ou espécie exótica invasora antes do seu estabelecimento.
Por tanto, quando uma espécie é identificada no início da invasão em um local (detecção precoce), deve ser investida uma ação imediata para sua remoção, visando erradicação (resposta rápida).
“Dessa forma, pretende-se minimizar as ameaças e o risco de extinção de espécies, em especial para as 290 que estão em situação mais crítica” disse Lívia.
Rede de monitoramento ambiental
Com a detecção do fenômeno na Barra do Rio Mamanguape, a expectativa é que órgãos como a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), universidades e outros formem uma “rede de monitoramento” para que medidas sejam adotadas devido a situação.
“Certamente outros órgãos ambientais deverão estar envolvidos para incluir em suas agendas de licenciamento ambiental, fiscalização e controle da poluição esse fator como critério para sua atuação”, explicou.
Como pesquisadora, Lívia diz que observa que os principais desafios relacionados ao branqueamento dos corais e à conservação dos ecossistemas costeiros nas áreas de preservação ambiental no Nordeste do Brasil nos próximos anos são diversos.
“Dentre eles estão a frequência exacerbada de branqueamentos em decorrência do aquecimento dos oceanos e a implementação de medidas necessárias e urgentes contra as ameaças locais e globais; combate à poluição e a restauração das áreas degradadas e a busca por fomento das ações de recuperação e conservação dos recifes de corais”, exemplifica.
Além disso, ela cita também que o desenvolvimento da chamada ‘economia azul’, em que o crescimento econômico é baseado na preservação dos ecossistemas marinhos e na sustentabilidade ambiental através limitação da expansão urbana em áreas frágeis, cessação da desflorestação e limitação do uso dos pesticidas.
Sobre o projeto
O projeto de Detecção Precoce e Resposta Rápida (DPRR) das unidades de conservação federais do litoral norte do Estado da Paraíba (NGI ICMBio Mamanguape) é financiada pelo Projeto “Estratégia Nacional para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção (GEF-Pró-Espécies)” do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Hoje ele conta com 25 pesquisadores atuantes no Brasil no âmbito de ações de DPRR, isso inclui Núcleos de NGIs, Florestas Nacionais, Reservas Biológicas e Extrativistas, Parques Nacionais APAs, Refúgios de Vida Silvestre e Monumentos Naturais.
Segundo os pesquisadores, o objetivo das ações de DPRR é a aplicação de medidas de erradicação ou contenção, com rapidez, quando da detecção de uma espécie exótica ou espécie exótica invasora antes do seu estabelecimento.
Qualquer pessoa que observar o branqueamento em corais na região ou no litoral paraibano pode informar ao grupo por meio do perfil no instagram @apaariedomamanguape.