Leiliane da Silva Batista, filha da estudante de 16 anos que morreu durante cesariana, após ser baleada em confronto no Morro Santo Amaro, no Catete, continua internada em estado gravíssimo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neo-Natal da Maternidade Carmela Dutra, em Lins de Vasconcelos, na Zona Norte. O bebê está em coma desde a tarde desta quarta, respira com ajuda de aparelhos, e tem grande risco de morte. Apesar das dificuldades os médicos afirmaram estar otimistas.
A avó da criança, a doméstica Lucineide da Silva Justino, 32 anos, e o pai, passaram toda a manhã na unidade visitando Leiliane. A certidão de nascimento do bebê foi registrada nesta manhã pelos dois na própria maternidade.
Pouco depois de nascer, a criança sofreu parada cardiorrespiratória. Ela foi levada, às 11h30 desta quarta, para a Maternidade Carmela Dutra, já que o Hospital Souza Aguiar, no Centro, não tem recursos para recém-nascidos. A criança pesa 3,440 quilos, mede 49 cm, e pode ficar com seqüelas se sobreviver. Nesta manhã o ajudante de cozinha Odair Batista de Oliveira, 22 anos, pôde tocar na filha, através das luvas embutidas na ecubadora. Emocionado disse que Leiliane “é a cara da mãe”.
Tempo suficiente para o parto
O amor de Elenilda Justino da Silva, 16 anos, pela filha que carregava no ventre foi o que manteve viva a pequena Leiliane. Os dois tiros que a adolescente, grávida de oito meses, levou terça-feira à tarde, em tiroteio no Morro Santo Amaro, no Catete, perfuraram fígado, vesícula e diafragma. Ela resistiu o tempo suficiente para que o bebê fosse retirado numa cesariana de emergência e ainda respirava quando a menina nasceu.
“A paciente perdeu quatro litros de sangue. Estava em choque. É uma situação que leva à morte em poucos minutos. Mãe e filha poderiam ter morrido no local (dos tiros)”, disse a cirurgiã Teresa Cristina Reis, do Hospital Souza Aguiar, no Centro, que participou da cesariana. Ainda a caminho do hospital, em Kombi dirigida por vizinho, Elenilda repetia insistentemente: “Vou perder minha filhinha, minha neném?”. Só uma única vez, pouco antes de desmaiar, pensou na própria vida e, agonizando, perguntou: “Será que vou morrer?”.
Tiros da PM ou de traficantes?
Elenilda foi baleada na barriga e no ombro quando saiu para comprar pão, a 10 metros de casa. Nesse momento, sete policiais do Serviço Reservado do 2º BPM (Botafogo) faziam operação para checar denúncias sobre o chefe do tráfico no Santo Amaro, Humberto Ferreira da Silva, o Beto.
O deputado Geraldo Moreira (PSB), presidente da Comissão de Direitos Humanos acompanha o caso. Segundo ele o laudo cadavérico não deixa dúvidas de que os tiros partiram da arma da polícia. Ele disse fez entrevistas no Morro de Santo Amaro e que cinco pessoas afirmaram que a polícia a iniciou o confronto. Uma destas testemunhas fala em um policial careca, o deputado garantiu que ela terá total segurança para depor e fazer o reconhecimento.
O delegado Fernando Veloso da 9ª DP (Catete ) afirmou que ouviu duas pessoas, e que seus depoimentos eram contraditórios. Em uma versão, os tiros teriam partido do alto do morro, e em outra, dos policiais, que estavam no asfalto.
Segundo o relações-públicas da PM, tenente-coronel Aristeu Leonardo, os policiais foram recebidos a bala. Apenas um deles teria revidado e sua arma, uma pistola calibre 40, foi apreendida. Ainda de acordo com o oficial, os projéteis que atingiram a jovem seriam de fuzil, segundo relatórios médicos.
No entanto, a cirurgiã Teresa Cristina, que operou Elenilda, contou que o ferimento era pequeno e que não poderia dizer que foi provocado por arma pesada. A Secretaria de Segurança Pública informou que, segundo laudo do Instituto Médico-Legal (IML), não há como afirmar que o projétil era de fuzil.
Sonhos
Ter uma menina era o sonho da jovem, que engravidou do primeiro namorado, com quem morava há mais de um ano. O enxoval foi comprado com sacrifício pela família, que mora num único cômodo. A criança será registrada no nome do pai e da avó. A adolescente largou os estudos na 4ª série do Ensino Fundamental, mas sonhava se formar advogada. Ela queria que a filha fosse professora.
O Dia
Bebê Leiliane continua em coma; pai toca na filha pela primeira vez
A avó da criança, a doméstica Lucineide da Silva Justino, 32 anos, e o pai, passaram toda a manhã na unidade visitando Leiliane
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