O recente surto de gripe aviária em humanos na Indonésia, onde acredita-se que teria havido contágio entre humanos, mostra como será difícil detectar o início de uma eventual pandemia da doença, disseram cientistas na quarta-feira.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) garantiu na terça-feira que o vírus não sofreu uma mutação que o tornasse mais perigoso, mas especialistas dizem que, se isso tivesse ocorrido, a informação teria chegado tarde demais.
Na verdade, segundo eles, a única forma de descobrir que há uma forma mais perigosa do vírus é quando ele começa a atingir e matar grande número de pessoas.
“Não vamos saber até que muita gente esteja infectada”, disse Eric Toner, especialista em medicina de emergência no Centro de Biossegurança da Universidade de Pittsburgh.
E os sinais de alerta virão das próprias pessoas que têm de lidar com os casos. “Se (o vírus H5N1) for transmitido de forma eficiente, veremos profissionais da saúde saudáveis ficando doentes”, disse Toner.
O sequenciamento genético de alta tecnologia pode dar algumas respostas depois do fato, mas a única forma de realmente detectar o começo de uma epidemia será após o seu início, usando velhas técnicas de epidemiologia — o estudo do impacto de uma doença sobre determinada população.
“Tem de ser assim, porque a genética do vírus chegará tarde demais”, disse Arnold Monto, especialista em epidemiologia de doenças infecciosas na Universidade de Michigan. O sequenciamento completo dos oito genes de um vírus da gripe pode demorar dias ou semanas.
A OMS espera que os países possam identificar rapidamente e isolar casos humanos da gripe aviária enquanto os investigadores determinam o grau de perigo do vírus.
Mas o caso da Indonésia mostra que isso nem sempre acontece no mundo real. “Vamos tomar algumas decisões cruciais com base em informações muito incompletas, e a rapidez é essencial aqui”, disse Michael Osterholm, infectologista da Universidade de Minnesota.
Na Indonésia, não houve rapidez nenhuma. “Os primeiros casos ocorreram no final de abril”, disse Osterholm. Só na terça-feira, quase um mês depois, a OMS divulgou sua primeira declaração definitiva sobre a situação.
Se houvesse transmissões consistentes entre humanos, teria transcorrido um tempo suficiente para que muita gente adoecesse.
O vírus H5N1 ainda está praticamente restrito a aves, e só ocasionalmente contamina pessoas — foram 218 em dez países, sendo que 124 vítimas morreram.
Bastariam, porém, algumas poucas mudanças genéticas para que o vírus fosse transmitido entre humanos, o que poderia provocar uma pandemia com milhões de mortos.
Os cientistas acham normais os casos isolados da gripe aviária transmitida de aves para humanos. Mas o surgimento de um aglomerado de casos entre pessoas — como os sete parentes que vivem no norte da ilha de Sumatra, na Indonésia — causa mais preocupação.
Até agora, todos os casos humanos foram atribuídos à exposição a aves ou a um contato muito estreito com pessoas doentes — e, na verdade, com parentes, o que indica que algumas pessoas podem ser geneticamente mais suscetíveis.
Na Indonésia, porém, não se sabe ainda como a primeira vítima, uma mulher de 37 anos, foi contaminada.
Os cientistas se tranquilizaram com as primeiras análises genéticas de amostras recolhidas de alguns pacientes, embora não haja certeza sobre quais mudanças genéticas seriam necessárias para tornar o vírus mais perigoso.
“Sabemos algumas coisas pelas quais procurar — conhecemos alguns dos elementos da virulência”, disse Monto. “Mas acho que a prova é olhar o que acontece na região.”
Reuters
Transmissão da gripe aviária entre humanos assusta cientistas
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