O principal partido da oposição boliviana, Podemos (direita), anunciou nesta quarta-feira a retirada de seus parlamentares do Senado para denunciar a política do presidente Evo Morales na Assembléia Constituinte bloqueando, com isto, a votação de uma lei de reforma agrária enviada pelo executivo.
O ex-presidente conservador Jorge Quiroga (2001-2002), líder do Podemos (Poder Democrático e Social), anunciou que os senadores de seu movimento somente voltarão à Casa quando o executivo abandonar a intenção se fazer adotar as decisões da Constituinte por maioria simples.
Dentro desta Assembléia criada para votar uma nova Constituição, o Movimento Ao Socialismo (MAS, esquerda) de Morales dispõe apenas da maioria simples das cadeiras. Quando a Assembleía Constituinte foi criada, ficou estipulado que suas escolhas seriam aprovadas por maioria dos dois terços.
Na ausência de quórum no Senado, onde o Podemos possui 13 das 27 cadeiras, a discussão em curso sobre vários projetos de lei, entre eles a polêmica reforma agrária, não pode continuar.
Alex Contreras, porta-voz do governo, qualificou a atitude do Podemos de "anti-democrática".
Além do funcionamento da Constituinte, Quiroga criticou um projeto de lei de Morales, que prevê o controle pelo Parlamento dos governadores regionais, principalmente para avaliar a maneira com a qual eles administram os fundos públicos. A idéia é que eles possam ser submetidos a moções de censura.
"Concordamos em conversar, mas não podemos aceitar que governadores eleitos pelo povo possam ser controlados pelos parlamentares", disse Quiroga.
Seis dos nove governadores da região – entre eles os de Cochabamba e de La Paz, antes próximos a Morales – lançaram domingo um apelo ao protesto e uma manifestação contra as iniciativas governamentais.
Terça-feira, 5.000 pessoas protestaram na próspera província agrícola de Santa Cruz para rejeitar a reforma agrária prevista pelo governo, a nova forma de votação por maioria simples na Constituinte e a "censura" dos governadores.
Já o presidente da poderosa Câmara Agropecuária do Oriente (CAO), Mauricio Roca, pediu "firmeza" aos senadores da oposição na resistência à lei de Morales sobre as terras.
"Exigimos ao governo políticas pública e social, ações para aumentar a produção, garantir a vida e o trabalho de homens e mulheres do campo (…) queremos soluções e não aceitaremos imposições", afirmou.
As declarações foram feitas num momento em que mil indígenas que apóiam a política agrária de Morales chegaram nesta quarta-feira a Cochabamba depois de marcha de 600 km em três semanas.
AFP