Um órgão de direitos humanos da ONU disse na sexta-feira ter recebido acusações consistentes de torturas cometidas por agentes russos, inclusive em prisões secretas da Chechênia.
O Comitê contra a Tortura da Organização das Nações Unidas pediu à Rússia que investigue os casos de tortura, inclusive dentro dos quartéis, puna os responsáveis e apresente um relatório dentro de um ano.
A comissão citou o "uso disseminado da tortura" na Rússia e expressou preocupação "com as acusações particularmente numerosas, atuais e consistentes sobre atos de tortura e outros tratamentos e punições cruéis, desumanos e degradantes cometidos por agentes da lei, inclusive em custódias policiais".
A ONU mencionou também vários casos de desaparecimentos e sequestros na turbulenta região da Chechênia, especialmente durante operações antiterroristas, além da prática disseminada de deter parentes de suspeitos de terrorismo.
A comissão citou "relatos confiáveis de locais extra-oficiais de detenção no Norte do Cáucaso e acusações de que os detidos em tais instalações enfrentam tortura ou tratamento cruel, desumano ou degradante."
Esse fórum da ONU, composto por dez especialistas independentes, monitora o cumprimento de um tratado de 1984 contra a tortura e os tratamentos degradantes. A Rússia está entre os 142 países que ratificaram o pacto.
As conclusões foram divulgadas ao final de uma reunião de três semanas, em que foram examinados casos de sete países — Burundi, Guiana, Hungria, México, Rússia, África do Sul e Tadjiquistão.
As intimidações e torturas continuam ocorrendo dentro dos quartéis russos, e as vítimas que se queixam acabam sofrendo mais abusos, segundo a comissão.
Grupos de direitos humanos dizem que as forças russas e seus aliados locais agem com violência indiscriminada na Chechênia, sob o manto do combate à insurgência da região.
ONGs russas estimam que de 3 mil a 5 mil pessoas desapareceram na Chechênia desde que tropas russas agiram para acabar com a auto-declarada independência da região em 1999.
Em relatório apresentado ao fórum da ONU, a entidade Human Rights Watch disse que os presos, inclusive mulheres e menores, são rotineiramente torturados em prisões oficiais e secretas da Chechênia.
Entre os métodos usados para obter informações estariam agressões com cabos, queimaduras com bastões incandescentes e choques elétricos, segundo a Human Rights Watch, com sede em Nova York.
A comissão da ONU manifestou preocupação com a morte de jornalistas e ativistas de direitos humanos, como o caso da repórter Anna Politkovskaya, que costumava fazer matérias críticas à atuação do Kremlin na Chechênia. Ela foi assassinada em 7 de outubro.
Seu último artigo, póstumo, era um relato de um checheno que dizia ter sido torturado com choques nos dedos para confessar ser terrorista.
Reuters