Foram liberados na manhã desta quarta-feira três ministros do presidente boliviano Evo Morales mantidos reféns por populares deste a noite de ontem, na cidade de Puerto Suárez, na fronteira da Bolívia com o Brasil. Mais de cem soldados do Exército participaram da operação de resgate. Os moradores os retiveram para exigir a legalização da siderúrgica do grupo brasileiro EBX na cidade.
A operação do Exército aconteceu por volta das 4h. Os soldados invadiram a sede do Comitê Cívico da cidade e os resgataram. De acordo com as primeiras informações, a ação foi pacífica. Após o resgate, os ministros foram levados para um local seguro, informou o secretário da Procuradoria Geral, Wilfredo Chávez, que não forneceu mais detalhes sobre a operação policial realizada para libertar os reféns.
Ficaram em poder dos moradores os ministros do Planejamento, Carlos Villegas, de Desenvolvimento Econômico, Celinda Sosa, e de Mineração, Walter Villarroel.
Emissoras de rádio indicaram que a manutenção dos ministros como reféns ocorreu ao anoitecer, sem violência, e que os funcionários passaram a noite no local vigiados por líderes dos manifestantes.
Os ministros ficaram retidos no Comitê Cívico da cidade, e “dormiriam nestas instalações”, disse um dirigente do Comitê Cívico de Puerto Suárez, em entrevista a uma rede de TV local. O dirigente também disse que as autoridades não seriam liberadas antes que o governo desse uma resposta positiva às demandas da população local. “Eles vão ter cama e alimentação, e não vai se atentar em nenhum momento contra a segurança deles”, disse o dirigente.
Os moradores das cidades de Puerto Suárez, Puerto Quijarro, Arroyo Concepción e Carmen Rivero Tórrez afirmaram que iriam se manter em vigília nos arredores da sede do Comitê Cívico, enquanto que outro grupo de pessoas bloqueou rodovias e ferrovias estratégicas.
“Não acreditamos no governo. Eles dizem que uma reunião de gabinete marcada para as 5h no horário local, 6h em Brasília, vai dar uma solução definitiva ao conflito”, disse o dirigente.
Reivindicações
Os moradores de Puerto Suárez exigem a legalização da siderúrgica do grupo brasileiro EBX na cidade, além de garantias de que a licitação da vizinha jazida de ferro de Mutún, uma das maiores do mundo, que está prevista para maio, seja realizada.
O governo de Evo Morales, que enviou os ministros ao local para tratar do fechamento da siderúrgica, alegou que não iria atender a demanda porque isso seria inconstitucional. A manutenção da siderúrgica viola uma lei que proíbe propriedades estrangeiras numa faixa de 50 quilêmetros da fronteira. Além disso, a usina seria alimentada com carvão vegetal, o que poderia causar graves prejuízos para o meio ambiente da região, segundo o governo.
O processo de licitação de Mutún, iniciado no governo anterior, foi suspenso pela administração do presidente Evo Morales, que também decidiu rever a licença ambiental da empresa brasileira. A EBX opera na Bolívia sob o nome de MXX com base em acordos assinados com as autoridades da região antes da conclusão do processo licitatório.
O governo boliviano considera que a empresa comete uma série de irregularidades nas áreas ambiental e política e se recusa a negociar nesta situação, já que a EBX se baseia em acordos estabelecidos apenas com as autoridades locais. O governo deseja que os fornos funcionem com base em gás natural, recurso do qual a Bolívia é produtora.
Em La Paz, o ministro San Miguel voltou a acusar os executivos da empresa brasileira de burlar a legislação tributária boliviana e de pressionar as autoridades, usando os habitantes da região fronteiriça. O vice-ministro de Coordenação Governamental, Héctor Arce, garantiu que o governo “não negociará a soberania do país, muito menos sob pressão”. Arce disse que o incidente, que qualificou de crime contra o estado de direito, será levado à Promotoria Geral da República, para investigação e punição.
Fonte: Terra
Ministros de Morales feitos reféns são resgatados
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