Um acidente com um navio cargueiro no sul da Inglaterra produziu uma cena inusitada para os padrões europeus: moradores da região saquearam os produtos que caíram da embarcação. A imagem de pessoas carregando pacotes na praia de Branscombe, em Devon, ganhou destaque na mídia internacional por se tratar de um dos países mais ricos do mundo.
Foi uma ação parecida com a que ocorre nas estradas brasileiras quando um caminhão que transporta mercadorias tomba. Em poucos minutos dezenas de moradores da região aproveitaram o encalhe do navio cargueiro MSC Napoli para levar os produtos que chegaram boiando à praia. Levaram principalmente pacotes de fraldas e outras caixas pequenas.
Mas havia produtos maiores e caros, como uma moto BMW, sapatos e vinhos, disse a polícia.
O cargueiro MSC Napoli foi abandonado por seus tripulantes depois de ser danificado por tempestades na quinta-feira da semana passada. A polícia foi chamada ao local para evitar novos saques.
Desastre ambiental
O navio foi deliberadamente encalhado na baía de Lyme, em Devon, para impedir que afundasse. Ele adernou entre 18 e 25 graus e começou a liberar óleo e mais de 200 dos seus 2.400 contêineres no mar.
Por causa disso houve um vazamento de óleo que se espalhou por cerca de oito quilômetros, disse a guarda costeira. "Um brilho de óleo foi visto saindo do MSC Napoli, que é suspeito de vir do espaço alagado na casa de máquinas", disse em nota a Agência Marítima e de Guarda-Costeira.
Cerca de 200 toneladas de óleo já teriam vazado da embarcação, espalhando-se por cerca de oito quilômetros. Mas as autoridades disseram que a mancha está "se rompendo e dissipando", sem representar uma grave ameaça ambiental.
Equipes de resgate esperam começar a recolher as 3.000 toneladas restantes de petróleo dos tanques do navio ainda na segunda-feira, mas alertam que a operação pode demorar vários dias.
"Temos dois barcos fretados agora para receber o óleo, e o bombeamento deve começar hoje", disse Robin Middleton, representante do governo para operações de resgate e intervenção marítimos, à rádio BBC.
"Este é um produto muito viscoso, quase como lama, então o que eles têm de fazer é aquecê-lo e removê-lo lentamente. Pode provavelmente levar a maior parte da semana", afirmou.
A guarda costeira disse que alguns contêineres a bordo levam materiais potencialmente perigosos -perfume, ácido de bateria e autopeças. Alguns se romperam e foram dar nas praias, cujos freqüentadores foram alertados a não entrar em contato com os materiais.
"Os donos do barco indicaram uma empresa privada de segurança para guardar os contêineres que derem nas praias", disseram os proprietários da embarcação.
O Napoli, construído em 1991 e de bandeira britânica, ia da Bélgica para Portugal quando foi danificado, na quinta-feira. Seus 26 tripulantes foram resgatados de helicóptero em um bote.
Em 2001, o mesmo barco, então chamado Normandie, encalhou num arrecife no estreito de Málaca (entre Malásia e Sumatra), lotado e a plena velocidade. Ficou várias semanas por lá, até ser rebocado para reparos que incluíram a soldagem de mais de 3.000 toneladas de metal no casco.
G1