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Gaza vive frágil trégua entre Fatah e Hamas

A Faixa de Gaza recuperou hoje uma calma relativa após o acordo entre as facções palestinas para suspender as hostilidades mútuas, mas a trégua não é a primeira

A Faixa de Gaza recuperou hoje uma calma relativa após o acordo entre as facções palestinas para suspender as hostilidades mútuas, mas a trégua não é a primeira, e muitos temem que os receios dos grupos, a sede de vingança das famílias e a profusão de armas a façam fracassar.

O cessar-fogo entrou em vigor às 3h, mas onze horas depois um miliciano do movimento radical islâmico Hamas foi morto a tiros por membros do grupo nacionalistas do Fatah.

Diante do caso, Fawzi Barhum, porta-voz do Hamas, disse que o Fatah "não tem todos os seus elementos sob controle".

O Fatah, disse à agência Efe Barhum, não é um grupo monolítico e alguns de seus elementos, aqueles que se negam a "compartilhar o poder perdido", iniciam a violência.

Do outro lado, para Mahir Migdad, porta-voz do Fatah, é o Hamas quem tem o costume de "não respeitar os outros partidos" e que normalmente provoca a violência, à qual o movimento nacionalista apenas "reage".

O acordo, no entanto, pode acabar funcionando, segundo Migdad, sobretudo "porque é uma resposta ao que o povo vinha pedindo", e porque as partes concordam em que "derramar sangue entre palestinos" é inaceitável.

A paralisação de pelo menos grande parte dos atos de violência levou a um acordo para a retomada das conversas sobre um Governo de união nacional, que tanto Fatah como Hamas vêem como a solução ideal, embora negociem com idéias divergentes.

Desde sua criação, em meados dos anos 90, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) fora controlada pelo Fatah. A situação inverteu-se no início do ano passado, quando a vitória nas eleições legislativas levou o Hamas ao Governo. A Presidência da ANP, entretanto, continua nas mãos do Fatah, sob o comando do moderado Mahmoud Abbas.

A principal missão de um Governo de união na ANP será acabar com o boicote que a comunidade internacional impôs ao Governo do Hamas, pois o grupo radical islâmico não aceita as condições do Quarteto para o Oriente Médio.

Estas condições são reconhecer o direito de Israel à existência e os acordos já feitos entre palestinos e o Estado judeu, e renunciar à violência.

O porta-voz do Hamas afirmou que "primeiro é preciso reconhecer os direitos dos palestinos (a um Estado soberano com Jerusalém como capital ou ao retorno dos refugiados). Depois poderão nos perguntar se reconhecemos Israel".

Barhum considera que o que deve mudar não é a postura do Hamas, mas a "formula internacional" para abordar o conflito.

Comentando a mesma questão, o porta-voz do Fatah pediu que o Hamas diferencie entre sua postura como partido e sua atuação no Governo, e "leve em conta as necessidades dos palestinos".

Devido a estas necessidades, se fracassam as negociações para formar um Governo de união nacional, o Fatah considera legítima a convocação de eleições apenas um ano após o pleito vencido pelo Hamas.

"A democracia não são apenas eleições", disse Migdad. "É um contrato entre os cidadãos e seus eleitos, e se estes não o conseguirem cumprir, se não puderem garantir o desenvolvimento sócio-econômico de seu povo, é preciso voltar às urnas".

Para o porta-voz do Hamas, a democracia é antes de tudo o respeito aos resultados de um pleito que, como lembrou, a comunidade internacional apoiou e considerou legítimo.

Diante do possível impasse nas novas negociações, o medo é que as divergências acabem se traduzindo em mais atos de violência nas ruas de Gaza.

"Essas diferenças não devem ser exportadas às ruas", afirmou o porta-voz do Fatah. Para ele, é preciso começar a aplicar a lei e castigar aqueles que provocam a violência, independentemente de seu partido.

Aplicar a lei – afirma – também é importante para evitar que as famílias imponham a sua própria justiça.

O problema entre as facções na Faixa de Gaza soma-se ao dos clãs e famílias, tão poderosas que algumas têm milícia própria para se proteger e vingar seus mortos.

"A família é um pilar em toda sociedade árabe. (…) Mas para os palestinos tem ainda mais força, pois é um substituto da terra perdida e uma proteção em uma situação perigosa", analisa o professor Khalid Daklan, do Centro para Saúde Mental de Gaza.

"Até agora, essa estrutura familiar continua sendo sagrada", mas já existem muitos clãs onde há membros do Fatah e do Hamas, alguns inclusive pertencem a milícias contrárias e os interesses do clã podem se chocar com os do grupo político.

Os chefes de famílias têm freqüentemente mais autoridade do que os juízes, acrescenta o analista. Por isso, alerta, qualquer solução para o conflito interno "não pode ser apenas política, deve levar em conta essa tradição" e ser acertada com os clãs.

Para Fayza Elmasry, jovem militante de um movimento da sociedade civil para acabar com a violência entre palestinos, "a principal causa do conflito – que enquanto o povo sofre com o boicote, há dinheiro para comprar armas – não desapareceu com o acordo".

EFE

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