O Exército dos EUA acusou formalmente quatro membros da Corporação dos Marines por assassinato e outros quatro por crimes relacionados aos assassinatos de 24 civis na localidade iraquiana de Haditha, 180 quilômetros ao oeste de Bagdá.
As mortes de homens, mulheres e crianças foi uma das mais graves acusações de má conduta contra civis por parte de soldados americanos no Iraque.
A ação ocorreu em 19 de novembro de 2005, em uma área próxima do local onde a explosão de uma bomba atingiu uma patrulha dos marines. Um marine que dirigia um dos veículos militares do comboio morreu na explosão, e outros dois ficaram feridos.
Os acusados por homicídio são o sargento Frank Wuterich, 26, que chefiava a ação, o cabo Justin Sharratt, 21, o sargento Sanick Dela Cruz e o tenente Stephen Tatum. A identidade dos outro quatro réus acusados de cumplicidade nos crimes não foi divulgada pelo Exército.
Depois das acusações, os marines devem ser interrogados, e um júri militar deve decidir se os réus serão levados à Corte Marcial. A data da audiência ainda não foi divulgada.
Wuterich foi acusado de ter matado pessoalmente 12 pessoas e de ter ordenado a morte de outras seis. De acordo com a promotoria que cuida do caso, ele usou um rifle M-16A4 para matar os civis, que estavam em casas próximos do local da explosão.
As acusações também implicam o sargento em outras seis mortes por ter instruído os marines que estavam sob seu comando a "atirar primeiro e fazer perguntas depois".
Se for considerado culpado, Wuterich pode ser condenado à prisão perpétua.
O advogado de defesa do sargento, Neal Puckett, tentou minimizar as acusações. "Isto acontece em tempos se guerra (…). Não há provas de que [os marines] pretendiam punir os iraquianos, de que havia um desejo premeditado de matar", afirmou ele ao jornal "Washington Post".
Testemunhas
Testemunhas iraquianas relataram que os marines atiraram contra os civis que estavam dentro de suas próprias casas em retaliação à morte do tenente Miguel Terrazas na explosão.
Advogados de defesa contestam a versão, dizendo que os homens da 1ª Divisão dos Marines entraram em confronto com civis após a explosão, e que as vítimas morreram em meio ao caos.
Duas investigações sobre o episódio estão em andamento. Uma delas diz respeito às circunstâncias das mortes, e a segunda à tentativa de encobrir detalhes do episódio.
No início deste ano, o presidente americano, George W. Bush, prometeu punir qualquer marine que for considerado culpado pelas mortes de civis no Iraque.
O premiê iraquiano, Nouri al Maliki, qualificou o episódio em Haditha de um "crime terrível".
Explosão
Um ataque suicida ocorrido na manhã desta quinta-feira em Bagdá, capital do Iraque, já soma 15 mortos [três policiais e 12 recrutas] e 15 feridos.
A ação ocorreu quando um homem-bomba detonou os explosivos presos a seu corpo em uma fila de recrutas em frente a uma academia de polícia, no bairro de Zayuna, leste da capital iraquiana. O autor da ação também morreu.
Nesta quinta-feira, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, que visita o Iraque pela primeira vez, discutiu com os comandantes dos EUA opções e estratégias para alterar a ação militar que tem sido aplicada no Iraque.
A estratégia americana no país se tornou um revés para a atual administração americana, afetando as intenções republicanas nas eleições legislativas dos EUA, em novembro último.
Tropas
Em sua última entrevista coletiva de 2006, realizada ontem, Bush admitiu o êxito da insurgência e disse que os EUA reforçarão as tropas presentes no Iraque, sobretudo em Bagdá, enviando para lá mais soldados e fuzileiros navais.
A proposta da Casa Branca prevê o envio a Bagdá de 15 mil a 30 mil homens para reforçar os 17 mil que já estão na capital iraquiana, durante um período de seis a oito meses.
A idéia não conta com o apoio do Estado-Maior, que apresentaram suas críticas ao próprio Bush durante uma reunião na semana passada no Pentágono. Eles pediram um aumento geral do pessoal das Forças Armadas, com um orçamento maior.