
Manifestante exibe faixa com os dizeres "Justiça para os inocentes" em marcha, em San Salvador — Foto:Reprodução
O presidente salvadorenho, Nayib Bukele, assegurou nesta quinta-feira que ficará pronta em 60 dias a megaprisão onde ficarão 40 mil supostos membros de gangues detidos no quadro de uma guerra declarada por seu governo há quase quatro meses, na tentativa de frear ações de quadrilhas, às quais são atribuídos uma série de assassinatos no país de 6,5 milhões de habitantes.
“Há exatamente um mês anunciei a construção do centro de confinamento ao terrorismo (…), que ficará pronto em 60 dias”, afirmou o presidente em sua conta no Twitter.
A prisão está sendo construída longe das cidades e é cercada por terrenos estatais, com vários níveis de muros e 37 torres de vigia. “Terá espaço para 40 mil terroristas, que ficarão isolados do mundo exterior”, afirmou o presidente salvadorenho.
Em resposta a uma escalada de 87 assassinatos cometidos entre 25 e 27 de março, o Congresso aceitou um pedido de Bukele para decretar um regime de emergência, que foi estendido pelo menos até o final de agosto. O regime suspende ainda a liberdade de associação, o direito de defesa, estende o período de prisão preventiva de três para 15 dias e permite a interceptação das comunicações.
Segundo o procurador de El Salvador, Rodolfo Delgado, o regime permitiu a prisão sem mandado de 46 mil pessoas, supostos membros de gangues. Dessas, mais de 41 mil já foram acusadas perante a Justiça de pertencer a organizações criminosas. A Procuradoria ainda tem de apresentar ao tribunal o requerimento contra mais cinco mil detidos.
— Neste momento, o que se observa é uma retirada dos membros de gangues de suas zonas de conforto (…), das áreas onde estavam executando suas ações criminosas — disse Delgado ao canal de televisão estatal nesta sexta-feira.
Devido aos confrontos armados, que já deixaram quatro membros das forças de segurança mortos, Delgado instituiu que “nenhum policial ou militar seja processado” porque “suas ações são plenamente justificadas por lei”.
Em junho, Delgado afirmou que, entre as “provas” que são usadas para demonstrar a ligação dos detentos com as organizações criminosas, estão “as marcas [tatuagens de suas respectivas gangues] que eles têm no corpo”, e as drogas que foram apreendidas.
A maior parte dos detidos estaria ligada às quadrilhas MS-13 e Barrio 18, que são as que mais cometem crimes em El Salvador. Antes da repressão do governo às gangues, cerca de 16 mil de seus membros estavam presos. Com as prisões feitas nos 110 dias do regime de emergência no país, 62 mil integrantes dessas gangues já estariam atrás das grades, o que corresponde a cerca de 88,5% do total de 70 mil que compõem esses grupos, segundo Delgado.
Protestos de familiares
Em meio a cartazes com fotos e pedidos de justiça, dezenas de familiares dos detidos pelo governo Bukele marcharam na última terça-feira, na capital São Salvador, para pedir suas libertações, alegando suposta inocência. A marcha também foi acompanhada por organizações de direitos humanos, que pediram ao presidente salvadorenho que respeite os direitos dos detidos.
Os manifestantes, a maioria vestindo camisas brancas, chegaram à área ao redor da Casa Presidencial, cujo acesso foi bloqueado.
María Gloria Sánchez, de 60 anos, pediu a liberdade da filha Laura Maribel Pacheco, de 22 anos, detida em sua casa pela polícia em 17 de abril, na cidade de San Martin.
— A polícia veio até nossa casa, perguntou sobre minha filha e a prendeu sem explicar o motivo, só me disseram que era por causa do regime [de exceção] — disse Sánchez à AFP. — Dói porque ela não fez nada de errado, ela é inocente.
Sebastiana Bermúdez, 50 anos, clamava pela inocência de seu filho Irvin Alcides Amaya, 28, preso em 7 de abril.
— Meu filho foi preso em seu trabalho. Ele é padeiro e o levaram acusado de pertencer a grupos ilegais — explicou Bermúdez à AFP. — O presidente Bukele deve colocar a mão na consciência e libertar aqueles que não cometeram nenhum crime, como meu filho. Ele não tem antecedentes criminais e não está relacionado a gangues.