Governo tenta inibir acesso da oposição ao local onde se reunirão diversos presidentes da América Latina em Cochabamba.O confronto político entre os setores aliados e de oposição ao presidente Evo Morales levou o governo boliviano a acentuar o esquema de segurança em Cochabamba para a 2ª Reunião de Cúpula da Comunidade Sul-americana de Nações (Casa). Policiais e militares de nove outros Departamentos (Estados) bolivianos foram chamados a Cochabamba. O efetivo policial totaliza 4 mil homens, ao qual se somarão 3 mil produtores de coca, da base política e sindical de Evo, e um número não divulgado de soldados do Exército.
O governo de Evo enfrenta protestos e greves de fome por causa de disputas sobre o processo de aprovação de medidas na Assembléia Constituinte, que causaram onda de violência em diversas partes do país. O governo quer que as medidas sejam aprovadas por maioria absoluta, enquanto que a oposição que a aprovação por dois terços (170) dos 255 membros do plenário.
O encontro dos presidentes, entretanto, terá alguns momentos de descontração. O governo boliviano preparou para a cerimônia de desembarque de cada chefe de Estado a entrega de uma chave de ouro (250 gramas), pela prefeitura de Cochabamba. Também serão servidas iguarias, como o licor de coca.
A organização do evento fechou o Hotel Portales, sede das reuniões entre os chefes de Estado na noite de hoje e amanhã, e o cercou com militares. Jornalistas que estavam hospedados nesse hotel foram retirados ontem e todas suas acomodações foram destinadas a alguns presidentes – entre os quais o brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e Evo Morales – e suas comitivas. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, preferiu reservar um hotel inteiro, no centro de Cochabamba, para ele seu séquito de 60 pessoas.
A imprensa será mantida isolada, como vem acontecendo nos últimos encontros presidenciais sul-americanos. Bem equipado, o centro de imprensa montado pelo governo boliviano mantém permanentemente seis militares no portão de entrada.
Evo, entretanto, teve o cuidado de montar um esquema de respaldo popular. Mobilizados na Cúpula Social pela Integração dos Povos, a dez minutos do Hotel Portales, integrantes de movimentos indígenas das regiões andinas foram trazidos especialmente a Cochabamba. Enfrentaram jornadas de mais de um dia em ônibus precários e foram acomodados no quartel local.
Ontem, durante a Cúpula Social foram repetidas as máximas contra o neoliberalismo e o império americano e em favor do modelo de integração regional desses grupos, avesso a acordos comerciais.
Hoje, essa multidão deverá dar as boas-vindas aos presidentes. Mais importante: deverá inibir o acesso de manifestantes da oposição ao cenário da reunião de cúpula comandada por Evo, que qualifica suas ações como um golpe contra o processo de mudança no país.
Chávez saiu ontem em defesa de seu colega boliviano e disse em Brasília que os países da América Latina devem ajudar Evo e exigir que todos os setores do país respeitem a democracia.
Fonte: Estadao.com