O afegão processado em seu país por se converter ao cristianismo foi libertado da cadeia na noite da segunda-feira.
Abdul Rahman, convertido há 16 anos, teve suspenso seu julgamento em Mazar-e-Sharif, no norte do Afeganistão, depois de alegações de que ele sofre de problemas mentais.
Funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) estão reunidos em Cabul para discutir o pedido de Rahman por asilo político em outro país.
Adrian Edwards, porta-voz da ONU, disse que espera que o asilo seja concedido por um país “interessado em uma solução pacífica”.
Segurança máxima
Segundo o correspondente da BBC em Cabul Sanjoy Majumder, Rahman foi libertado da prisão de segurança máxima Pul-e-Charki, na capital afegã, na noite de segunda-feira, após as autoridades decidirem que ele não estava mentalmente apto a enfrentar um julgamento.
Após ser libertado, Rahman se reuniu com funcionários do Ministério da Justiça, segundo o vice-procurador-geral Eshaq Aloko.
O afegão, que teria se convertido durante uma viagem à Alemanha, foi preso há cerca de duas semanas e, pelo sistema de leis islâmicas pode ser condenado até à pena de morte por apostasia (abandono da fé).
A Constituição afegã garante a liberdade pessoal e reconhece a Declaração Universal de Direitos Humanos. Mas ela também diz que a lei do país está baseada na sharia, a lei islâmica, e há um artigo que diz explicitamente que ninguém tem o direito de transgredir o Islã.
Ela é deliberadamente ambígua, porque tentou atender tanto às preocupações do Ocidente com o futuro da democracia no país quanto aos extremistas domésticos que defendem um Estado islâmico, segundo o correspondente da BBC.
Protesto
Mais de mil pessoas protestaram em Mazar-e-Sharif, no norte do Afeganistão, na segunda-feira contra a decisão de suspender o julgamento de Rahman.
“Nós queremos a sharia implementada, nós o queremos executado”, gritava um grupo de homens que participava da manifestação.
Os manifestantes também protestavam contra o que consideram ser a interferência internacional no caso.
Alguns gritavam “Morte a Bush”, em referência ao presidente americano, George W. Bush, que defendeu publicamente a libertação do afegão. O papa Bento 16 também intercedeu em favor de Rahman.
Sob pressão internacional, o presidente Hamid Karzai interveio pessoalmente no caso.
Mas Karzai também enfrenta a oposição dos religiosos linha-dura dentro e fora do governo.
BBC Brasil