Numa articulação para aumentar suas chances de vencer no primeiro turno, o pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, iniciou um movimento de aproximação com o União Brasil, de olho na retirada da candidatura de Luciano Bivar (União-PE) ao Palácio do Planalto.
Pela costura, Bivar trocaria a corrida à Presidência por uma tentativa de reeleição a deputado federal, com ajuda do PT em Pernambuco, onde Lula tem forte influência no eleitorado. Para o petista, cuja possibilidade de vitória em primeiro turno está na margem de erro, segundo a pesquisa Datafolha divulgada ontem, a retirada de outros candidatos pode ser importante, ainda que Bivar sequer tenha pontuado no levantamento.
Uma outra parte da articulação, que envolveria um apoio formal do União Brasil a Lula ainda no primeiro turno, é bem mais difícil de prosperar. Isso porque o União, dono da maior fatia de tempo de TV, precisaria do aval de três quintos de seus dirigentes para a aliança se concretizar — margem que hoje não existe, segundo líderes da legenda.
Ainda na tentativa de reduzir o número de concorrentes na disputa presidencial, Lula vem insistindo em convencer o presidenciável do Avante, André Janones, a também desistir. Após Janones contar, em entrevista à GloboNews, que se encontrou com o petista há algumas semanas, Lula ontem respondeu nas redes sociais uma publicação do deputado em que ele propunha tornar permanente o auxílio emergencial: “Fico feliz. Essa também é a causa que me motiva na política, estamos juntos nisso. Vamos conversar”, escreveu Lula. Janones marcou 1% no Datafolha de ontem.
Entraves para aliança
Além da falta de votos na cúpula do União Brasil, a tentativa de Lula de atrair o partido no primeiro turno esbarraria em uma série de obstáculos nos estados. Neste sentido, há dificuldades para quadros importantes da legenda se juntarem ao projeto, como o governador Ronaldo Caiado, em Goiás, que disputará a reeleição e sempre apresentou um discurso antagonista a projetos de esquerda.
O União foi criado a partir da fusão do PSL com DEM. Em 2018, Bivar, que era chefe do PSL, abriu as portas da sigla para Jair Bolsonaro disputar a eleição. Embora tenha rompido com o presidente da República, há rejeição de boa parte da sigla ao PT.
Em Alagoas, no Ceará, na Bahia, em Mato Grosso e outros estados também haveria entraves para o acordo entre União e PT. Na Bahia, onde o União tem o ex-prefeito de Salvador ACM Neto como candidato a governador, o PT precisaria retirar a candidatura de Jerônimo Rodrigues, o que não deve acontecer.
Em Mato Grosso, o pré-candidato ao governo do estado Mauro Mendes (União) já declarou até mesmo apoio a Bolsonaro.
Segundo interlocutores do União Brasil, Lula fez o gesto de aproximação em conversa com o presidente interino da sigla, Antonio Rueda. Bivar, então, teria ficado empolgado com a pespectiva. Procurado pelo GLOBO, ele não retornou.
Se o acordo ficar apenas na desistência de Bivar, sua nova candidatura a deputado federal ainda depende de acertos em Pernambuco. No estado, o partido tem dois candidatos considerados mais competitivos: o ex-ministro da Educação Mendonça Filho e o ex-ministro de Minas e Energia Fernando Coelho Filho. A entrada de Bivar alteraria as perspectivas para a eleição e poderia afetar até mesmo a candidatura de Miguel Coelho, que disputará o governo do estado.
Em São Paulo, por outro lado, o presidente do diretório do União Brasil, Junior Bozella, vê a articulação com o PT bons olhos. O partido chegou a negociar uma parceria para indicar o vice de Rodrigo Garcia (PSDB), mas até agora não prosperou.
Desde o início do ano, Bivar tem emitido sinais conflitantes e sem critérios ideológicos. Ele filiou o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro para fazê-lo candidato à Presidência. Com a rejeição dos quadros da legenda à empreitada, sobrou a Moro uma candidatura a deputado federal ou senador. O ex-ministro de Bolsonaro é um dos principais adversários políticos de Lula e será um dos maiores opositores à eventual aproximação.