RIO — O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que a desigualdade no acesso ao ensino remoto durante a pandemia da Covid-19 não é responsabilidade de sua pasta e que, por ele, as escolas retornariam às atividades “na semana passada”. As declarações foram feitas em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta quinta-feira. Ribeiro disse ainda ser contra a discussão de questões de gênero em ambiente escolar, afirmou não concordar com a homossexualidade e ver “com reservas” a presença de um professor transgênero em sala de aula.
Especialistas em educação têm apontado omissão do MEC no debate sobre a retomada das atividades escolares, paralisadas em boa parte do país desde março. O ministro, que assumiu o cargo em julho, coordenava a pasta com discrição e havia dado poucas entrevistas.
Na visão de Ribeiro, o MEC não tem o poder de determinar a volta às aulas.
— A lei é clara. Quem tem jurisdição sobre escolas é estado e município. Não temos esse tipo de interferência. Se eu começo a falar demais, dizem que estou querendo interferir; se eu fico calado, dizem que se sentem abandonados — afirmou o ministro ao Estado, se comprometendo a publicar diretrizes de biossegurança nesta semana. — Por mim, voltava na semana passada, uma vez que já superamos alguns itens, saímos da crista da onda e temos de voltar.
Quando questionado pelo jornal sobre a desigualdade no acesso a tecnologias entre os estudantes brasileiros, o que dificultou a adesão de alunos de baixa renda a modalidades de ensino remoto, o ministro afirmou que os problemas na educação durante a pandemia não são de competência do MEC:
— É o estado e o município que têm de cuidar disso aí. Nós não temos recurso para atender. Esse não é um problema do MEC, é um problema do Brasil. Não tem como, vai fazer o quê? É a iniciativa de cada um, de cada escola. Não foi um problema criado por nós. A sociedade brasileira é desigual e não é agora que a gente, por meio do MEC, vai conseguir deixar todos iguais.
‘A biologia diz que não é normal’
Ao comentar o planejamento da pasta para a Base Nacional Comum Curricular, Milton Ribeiro, teólogo e pastor da Igreja Presbiteriana, criticou a educação sexual nas escolas pela suposta “erotização” de crianças. Segundo a reportagem do Estadão, o ministro fez referência a um vídeo que, na verdade, foi gravado em uma universidade baiana.
No mesmo contexto, contrariando preceitos firmados pela ciência, Ribeiro criticou a homossexualidade e disse que a vê como uma “opção”. Ele também fez uso da palavra “homossexualismo”, cujo sufixo denota uma condição patológica. A orientação sexual deixou de ser considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1990.
— Quando o menino tiver 17, 18 anos, ele vai ter condição de optar. E não é normal. A biologia diz que não é normal a questão de gênero. A opção que você tem como adulto de ser um homossexual, eu respeito, não concordo — afirmou o ministro. — Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato e caminhar por aí.
Questionado sobre a presença de um professor transgênero em sala de aula, o dirigente do MEC disse ter “certas reservas” por temer que os alunos sejam “influenciados”.
Ribeiro é o quarto dirigente do MEC no Governo Jair Bolsonaro. Ele assumiu o cargo após a breve passagem de Carlos Alberto Decotelli, cuja nomeação foi suspensa por incoerências em seu currículo acadêmico, pela pasta. Também passaram pelo comando da Educação Abraham Weintraub e Ricardo Vélez.