SÃO PAULO (Reuters) – O dólar renovava máximas históricas nesta quinta-feira, chegando a bater 5,84 reais no pico da sessão, com os investidores reagindo ao corte da taxa Selic a nova mínima de 3% depois que o Copom adotou postura mais ‘dovish’ do que as expectativas do mercado.
Às 10:29, o dólar avançava 2,32%, a 5,8360 reais na venda. Enquanto isso, na B3, o contrato mais líquido de dólar futuro tinha alta de 1,91%, a 5,8385 reais.
O Banco Central cortou na quarta-feira a taxa básica de juros à mínima histórica de 3% ao ano — redução de 0,75 ponto percentual, mais forte do que a prevista pelo consenso de mercado — e sinalizou uma última diminuição à frente para complementar o estímulo monetário necessário em meio aos impactos da pandemia de coronavírus na economia.
“O dólar opera mais fraco no exterior hoje, mas aqui é diferente, porque, com a decisão do Copom, a tendência do dólar é ficar mais estressado”, disse à Reuters Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais, citando surpresa dos mercados após um corte acima das expectativas medianas.
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Uma pesquisa feita pela Reuters com 26 economistas mostrou que todos esperavam redução de 0,50 ponto na última reunião do Copom.
Em nota, a XP Investimentos disse que, “no comunicado emitido logo após a reunião, o BC ressaltou a elevada incerteza do momento e afirmou que, no cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. No entanto, interpretamos que os argumentos expostos são majoritariamente ‘dovish’ (ou seja, reforçam o cenário de mais cortes de juros adiante)”.
O BC afirmou em comunicado que uma nova redução não deve ser maior que a adotada na quarta-feira, de 0,75 ponto, indicando que a Selic não deve cair aquém do patamar de 2,25% ao ano.
Em nota, o Bradesco avaliou que o futuro da taxa “dependerá, essencialmente, da combinação de dados econômicos, preços de commodities e da resposta da taxa de câmbio ao ambiente global, doméstico e à própria queda de juros”.
De fato, a redução sucessiva da Selic a mínimas históricas tem surtido efeitos consideráveis sobre a moeda brasileira. Quanto menores os juros, menos rentáveis são os investimentos locais atrelados à Selic, o que torna o Brasil menos atraente para o investidor estrangeiro quando comparado a países emergentes de risco parecido.
O ambiente de juros baixos, combinado ao clima político tenso após a saída de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça e à devastação econômica decorrente da pandemia de coronavírus, já deixa o dólar em alta de quase 45% ante o real no ano de 2020.
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Na quarta-feira, o dólar negociado no mercado interbancário fechou em alta de 2,03%, a 5,7035 reais na venda, nova máxima recorde para encerramento.
O Banco Central realizará nesta quinta-feira leilão de até 7,54 mil contratos de swap tradicional com vencimento em setembro de 2020 e janeiro de 2021.
Enquanto isso, no mercado internacional, divisas emergentes ou ligadas a commodities, como peso mexicano, lira turca, rand sul-africano e dólar australiano, avançavam contra a moeda norte-americana. Outros ativos arriscados também ganhavam força após dados chineses melhores do que o esperado impulsionarem o apetite por risco.
Ainda no radar dos mercados estava a notícia de que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos totalizaram 3,169 milhões na última semana.