O dólar abriu em alta e bateu R$ 6 pela primeira vez na história nesta quinta-feira (28), com investidores atentos ao detalhamento do pacote de corte de gastos e da isenção do Imposto de Renda para contribuintes que ganham até R$ 5 mil.
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em baixa.
Nesta manhã, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, do Planejamento, Simone Tebet, e da Casa Civil, Rui Costa, realizaram uma coletiva com jornalistas para explicar mais detalhes do pacote anunciado na véspera.
As medidas, anunciadas por Haddad em um pronunciamento em rede nacional, preveem um corte de gastos de R$ 70 bilhões em 2025 e 2026. Entre as ações, estão uma limitação para o crescimento do salário mínimo, restrição para o abono salarial e uma alíquota de até 10% de imposto para pessoas que ganham mais de R$ 600 mil por ano.
Além do pacote de corte, o governo também propôs isentar o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Atualmente, o limite de isenção é de R$ 2.824.
O anúncio, no entanto, teve sabor agridoce para o mercado financeiro. Isso porque apesar de ter cumprido com a economia esperada, a isenção do IR ainda pode ter um alto custo para o governo. (entenda mais abaixo)
Dólar
Às 13h10, o dólar subia 1,45%, cotado a R$ 5,9979. Na máxima do dia, chegou a R$ 6,0024. Veja mais cotações.
Na véspera, a moeda norte-americana fechou em alta de 1,80%, cotado a R$ 5,9124.
Com o resultado, acumulou:
- alta de 1,70% na semana;
- ganho de 2,27% no mês;
- alta de 21,84% no ano.
Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa caía 1,39%, aos 125.891 pontos.
Na véspera, o índice encerrou em queda de 1,73%, aos 127.669 pontos.
Com o resultado, acumulou:
- queda de 1,12% na semana;
- perdas de 1,57% no mês;
- recuo de 4,85% no ano.
O que está mexendo com os mercados?
O real tem sofrido uma desvalorização acentuada há semanas, conforme aumenta a cautela dos investidores com a condução das contas públicas brasileiras. Quando os gastos públicos estão elevados, o mercado passa a desconfiar da capacidade do país de arcar com suas dívidas no médio e longo prazo.
Havia uma grande expectativa do mercado financeiro de que a equipe econômica do governo federal apresentasse algum pacote de cortes nos gastos públicos logo após o segundo turno das eleições municipais no Brasil. Foram vários adiamentos desde então.
Nesta quarta-feira, porém, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez um pronunciamento à nação anunciando o pacote de cortes nos gastos, com estimativa de poupar R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026.
Com uma grande espera do mercado pelo anúncio de um novo pacote de cortes de gastos pelo governo, a notícia, que tinha tudo para ser bem recebida pelos investidores, se mostrassem um comprometimento do governo em cumprir com o arcabouço fiscal (conjunto de regras de equilíbrio orçamentário). Mas o efeito foi o contrário.
Haddad também anunciou a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês a partir de 2026, os agentes entendem que o pacote de cortes pode perder a força, e até comprometer a trajetória da dívida pública no futuro.
Segundo a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, a medida, que era uma promessa de campanha de Lula (PT), será considerada uma vitória da ala política do governo, já que tudo indica que a equipe econômica foi contra o anúncio neste momento.
De acordo com a economista, a estimativa é que a medida, se aprovada, poderá custar R$ 40 bilhões por ano aos cofres públicos.
“Ou seja, o dia, que deveria ser marcado pelo esperado pacote de contenção de despesas, poderá contar também com um aumento considerável nos gastos do governo. Na dúvida sobre se o anúncio será conjunto ou não, e sobre se o financiamento da isenção do IR será outro além do pacote de gastos, o mercado, claro, se posicionou de forma bastante defensiva”, explicou Veronese.
Segundo Haddad, porém, o impacto estimado é de R$ 35 bilhões. O ministro disse que esse impacto deve ser compensado por medidas de taxação dos mais ricos.
Na última sexta-feira (22), o governo já havia anunciado também um bloqueio de R$ 6 bilhões no Orçamento deste ano. Com isso, o governo totaliza R$ 19,3 bilhões já bloqueados nos últimos meses para tentar compensar o avanço das despesas obrigatórias, como gastos com a previdência.
Mesmo assim, o mercado ainda aguarda as demais medidas para entender como o governo pretende lidar com as contas públicas nos próximos anos.
A ideia é que, com os cortes, o governo consiga equilibrar a situação das contas públicas e honrar o arcabouço fiscal. Contas mais controladas são bem vistas por investidores porque aumentam a confiança de que o país será capaz de arcar com suas dívidas.
A decisão de atrelar o anúncio ao pacote de cortes tem como objetivo passar a mensagem de que o governo Lula não está fazendo o ajuste fiscal apenas em cima dos mais pobres.
Segundo Matheus Pizzani, economista da CM Capital, o mercado recebe negativamente a notícia da isenção porque “não tem como pensar em um cenário em que essa isenção vá beneficiar o consumo das famílias em um nível suficiente para compensar o que seria ganho através da cobrança do imposto de renda para essa população”.
Assim, os investidores esperam maior previsibilidade e clareza sobre como o governo pretende fazer essa compensação de gastos e receitas, para avaliar se a medida será sustentável.
Por g1 economia