No chamado Vale do Café, localizado no centro sul fluminense, o visitante pode se transportar facilmente para o passado e conhecer uma região que viveu seu apogeu no período de transição entre o período colonial e o império.
O desenvolvimento começou com a abertura do segundo caminho do ouro, concebido para evitar o trecho marítimo alvo de constantes ataques piratas. Garcia Rodrigues Paes, filho do bandeirante Fernão Dias, o Caçador de Esmeraldas, recebeu a incumbência de estabelecer esta nova rota mais direta e protegida em 1968.
Com o esgotamento da produção do ouro, a região encontra uma nova alternativa no cultivo do café, quando se inicia o período de riqueza mais intensa. As antigas fazendas ainda guardam muitos símbolos desta opulência, com suas construções grandiosas, mobiliários de época e peças de arte valiosas.
O projeto Caminhos Singulares do Turismo e Artesanato da Região do Vale do Café concebido e organizado pelo Sebrae no Rio de Janeiro envolve todos os segmentos da atividade e conta com participação efetiva de institutos de preservação, Embrapa, universidade, Senac, Sindicato de Hotéis Bares e Restaurantes, entre outros. A meta é estabelecer um fluxo constante de turistas e, com isso, aumentar a geração de emprego e renda. A estruturação e o gerenciamento do projeto segue a metodologia da Gestão Estratégica Orientada para Resultados.
Trata-se de metodologia adotada pelo Sebrae e parceiros que estabelece dois requisitos fundamentais: responsabilidade e compromisso com os resultados do projeto acompanhado.
As antigas fazendas são consideradas como as âncoras deste projeto, pelo conjunto de atrativo que oferecem, mas para alcançar um fluxo constante de turismo, são desenvolvidas diversas ações. Do treinamento e capacitação de mão-de-obra local, cursos de gestão financeira e administrativa, recuperação ambiental, estruturação de novas atrações como esportes radicais, hipismo, caminhadas à organização de calendários de eventos ao longo do ano.
`Apostamos tudo no turismo cultural, ambiental e esportivo e trabalhamos também de olho nos Jogos Pan-Americanos, que acontecem em 2007. Queremos oferecer alternativas de treinamento para os atletas porque aqui eles podem encontrar todas as condições favoráveis. Nossa maior preocupação é evitar o turismo predatório`, resume o prefeito de Vassouras, Eurico Júnior.
Opulência
No município que ele administra, está a fazenda Cachoeira Grande. A propriedade dá uma idéia bem precisa da opulência do ciclo do café no Brasil Colônia. Francisco José Teixeira Leite recebeu a fazenda como dote, quando se casou com a prima Maria Esméria Leite Ribeiro. Na reforma feita por ele, a casa-sede ganhou o formato de um `T` e a disposição dos cômodos revela muito sobre o modo de vida da época.
Na entrada, um vestíbulo imponente, que era considerado como a única zona neutra da casa. Do lado esquerdo, a sala de negócios. Nela, só os homens tinham o direito de ficar para discutir negócios, incluindo dotes de casamento. Como não havia lugares para hospedagem, os visitantes eram encaminhados para quartos contíguos sem janelas, as chamadas alcovas, e trancados por fora. Dessa forma, o dono da casa protegia a família e evitava que as mulheres tivessem contato com estranhos.
Do lado direito, as salas de visita, jantar e música. Os quartos e outros cômodos considerados como parte íntima da família são dispostos em alas, completamente protegidos da curiosidade de visitantes.
`Só sinto falta de fantasmas`, brinca Núbia Vergara Caffarelli, atual proprietária dessa fazenda repleta de histórias.
Considerada como a cidade mais rica do império brasileiro, durante cerca de três décadas, Vassouras era chamada de Cidade dos Barões de Café. Para que os visitantes tivessem a chance de ver os símbolos desse período, Núbia e outros proprietários da região decidiram abrir suas residências para visitação.
Na Cachoeira Grande, os turistas percorrem os cômodos da casa acompanhados por um guia. Durante a visita, eles são informados sobre a riqueza arquitetônica da construção, apreciam obras de arte e mobiliário de época, conhecem detalhes da restauração da fazenda que levou quatro anos para recuperar o antigo esplendor e, principalmente, ouvem histórias curiosas sobre os antigos moradores.
Francisco José Teixeira Leite ficou famoso pela sua honestidade e empreendedorismo. Foi um grande defensor do transporte ferroviário para a cidade e substituiu o café pelo beneficiamento de alimentos, muito caros na época. Por causa de suas atividades em prol do progresso da cidade, ele recebeu de D. Pedro II o título de Barão de Vassouras, ampliado três anos depois, em 1874, para Barão com Grandeza de Vassouras.
Uma de suas filhas, que herdou a fazenda, ofereceu um jantar para a princesa Leopoldina e o Conde D´Eu. Um exemplar do cardápio escrito em francês ainda pode ser apreciado. Reza a lenda que tanto empenho e requinte de Maria Esméria Teixeira não era apenas para homenagear a família imperial, mas sim uma oportunidade para defender a escravidão, porque os grandes proprietários temiam que a abolição prejudicasse os negócios.
Na visita à Cachoeira Grande, que deve ser previamente agendada, os turistas também têm a chance de conhecer uma coleção de carros antigos, já dos tempos republicanos, que inclui um Ford T, uma limousine Packard, um Jaguar e um Mercedes, entre outros. Todos perfeitamente conservados.
A visita às antigas fazendas de café é considerada como um dos mais importantes instrumentos do projeto de turismo. `O turismo cultural ainda é embrionário, por isso o projeto é importante. Essas fazendas precisam de subvenção para se manter de pé porque o custo de preservação é muito alto`, defende Núbia Caffarelli.
Fonte: Agência Sebrae de Notícias
Vale do Café no Rio de Janeiro investe no turismo
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