Quem passa em frente à sala de número 1.351 da Faculdade de Medicina da USP de São Paulo nem imagina que está diante do maior banco cerebral do mundo. Ali, 1.800 cérebros de pessoas acima de 50 anos, sadias e doentes, ajudam os cientistas a entender o processo de envelhecimento e as doenças neurodegenerativas que são associadas ao órgão.
Bancos estrangeiros mais velhos reúnem coleções menores. O da Holanda levou 20 anos para juntar mil cérebros. O de Harvard (EUA), com 28 anos, possui cerca de 1.200 cérebros.
Já o banco brasileiro teve início há dois anos, ganhou área própria duas semanas atrás e não pára de crescer. Recebe cem cérebros a cada dois meses -média que alguns bancos estrangeiros obtêm por ano.
A generosa oferta é motivada pela alta taxa de autópsias feitas em São Paulo, o equivalente a 45% das mortes. Em outros países, o índice não ultrapassa 10%. O SVO (Serviço de Verificação de Óbitos) faz 14 mil autópsias anuais -60% delas em pessoas acima de 50 anos.
O estudo de cérebros permite que os pesquisadores rastreiem as alterações cerebrais provocadas por doenças e, futuramente, vai possibilitar diagnósticos mais precoces e tratamentos mais eficazes.
De acordo com a patologista Lea Grinberg, coordenadora do Projeto de Envelhecimento Cerebral -ao qual o banco está ligado-, a idade avançada traz modificações estruturais no cérebro não necessariamente acompanhadas de sintomas.
“É difícil saber quais as alterações decorrentes do próprio processo de envelhecimento natural e quais são as motivadas por doenças e, portanto, passíveis de tratamento.”
Grinberg explica que, para descobrir o que ocorre no cérebro doente, quais proteínas estão se acumulando e quais funções são perdidas em diferentes níveis, é preciso compará-lo com o cérebro de indivíduos sadios, que têm a mesma idade e as mesmas características.
Segundo o geriatra do Hospital das Clínicas José Marcelo Farfel, um dos coordenadores do banco, 30% dos cérebros doados, de pessoas sem sintomas de perda de memória, já tinham algum comprometimento. Estima-se que o início das doenças de Alzheimer e de Parkinson aconteça 15 anos antes de os primeiros sinais clínicos se manifestarem.
Farfel conta que países que estudam demências colecionam cérebros mais velhos e doentes. “São órgãos de pacientes que, na hora da morte, já apresentavam a doença em estágio avançado, tornando a freqüência de casos de controle insuficiente para comparação.”
No projeto brasileiro, Farfel diz que já foram observados casos de pessoas que apresentavam indícios de Alzheimer, segundo familiares, mas nos cérebros não foram encontradas alterações que justificassem a suspeita. Outras vezes são achadas alterações cerebrais, mas o responsável pelo paciente não relata comportamento que sugerisse a doença. [Folha de S. Paulo]
USP tem maior banco cerebral do mundo
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