O vestibular da Fuvest, que seleciona alunos para a Universidade de São Paulo (USP), poderá dar pontos adicionais para estudantes de escolas públicas. Um projeto chamado Inclusp, prevendo esta e outras medidas para incluir jovens carentes na instituição, foi aprovado na semana passada pelo Conselho de Graduação da USP. Falta apenas o aval do Conselho Universitário, que terá sua próxima reunião na terça-feira, para que as mudanças entrem em vigor já no vestibular deste ano.
O Estado teve acesso ao documento aprovado, mas a reitoria se negou a comentá-lo com o argumento de que ainda pode haver modificações. O assunto tem sido tratado com sigilo absoluto na universidade e foi pedido aos participantes da reunião que não comentassem o Inclusp até sua aprovação final.
COMO FUNCIONARIA
O bônus recebido pelos alunos de rede pública seria de 3% da nota e funcionaria na 1ª e na 2ª fase do vestibular mais concorrido do País – cerca de 150 mil pessoas disputam o exame da Fuvest por ano. Isso significaria, por exemplo, que um aluno que acertasse 50 questões, em vez de somar 50 pontos, teria 51,5. Paralelo a isso, o projeto prevê também o início do chamado Sistema de Avaliação Seriada, em que alunos de escolas públicas poderiam fazer provas ao fim de cada ano do ensino médio e a nota seria aproveitada na Fuvest. O sistema funcionaria por adesão das escolas.
Outra mudança prevista é a diminuição do número de questões da 1ª fase de 100 para 90, mas mantendo a duração de cinco horas de prova. É uma maneira de facilitar a execução do exame, já que os alunos reclamam que o tempo é curto para solucionar todas as questões. Além disso, 10 dessas 90 perguntas seriam interdisciplinares. O projeto avalia que o atual vestibular “privilegia o acúmulo quantitativo da informação e não o potencial intelectual e criativo dos candidatos”. Para que as mudanças vigorem no vestibular deste ano, precisam ser aprovadas em maio, já que o manual do candidato é impresso em junho e começa a ser vendido em agosto.
ALTERNATIVA ÀS COTAS
“Acho uma injustiça. Vamos incluir uns e excluir outros. Há alunos pobres em escolas particulares também”, diz a representante no Conselho de Graduação do Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME), Cláudia Peixoto, que votou contra o projeto na reunião que ocorreu no dia 11. Participaram da votação cerca de 40 pessoas, sendo um representante de cada unidade e alguns estudantes.
Atualmente, menos de 20% dos aprovados na Fuvest cursaram a escola pública. O bônus, segundo estudos da USP, aumentaria esse índice para 30%. Uma das justificativas da universidade para o projeto é a desigualdade social no País. O documento também reitera uma posição antiga da USP contrária ao sistema de cotas para alunos pobres ou negros.
DEPOIS DO VESTIBULAR
Além de mudar a Fuvest, a USP propõe medidas para garantir a permanência dos alunos pobres que ingressarão ou já ingressaram. A idéia é criar um fundo de bolsas que buscará recursos no orçamento da instituição, em governos, em agências de fomento, como a Fapesp, e principalmente na iniciativa privada. Esse fundo ajudaria a custear despesas com alimentação e moradia dos estudantes.
Fala-se ainda em aumentar o número de cursos noturnos, os mais procurados por jovens carentes, e até mais linhas de ônibus na Cidade Universitária para atender esse público. Alunos de Licenciatura também seriam incentivados a fazer estágios em escolas públicas. [O Estado de S. Paulo]
USP cria pacote alternativo a cotas
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