Cotidiano

Paixão de Cristo em ritmo de cordel

“Cordel da Paixão de Deus” é o nome do espetáculo que este ano celebra a Paixão de Cristo na Capital, e que pretende valorizar a cultura popular

O Espetáculo da Paixão de Cristo deste ano, “Cordel da Paixão de Deus”, promovido pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) através de sua Fundação Cultural (Funjope), e tradicionalmente encenado durante o período da Semana Santa, será apresentado entre os dias 12 e 16 de abril, na praça Dom Adauto, no Centro de João Pessoa. A apresentação já faz parte das comemorações da Páscoa na cidade, criando uma oportunidade das pessoas refletirem sobre a fé, e realiza sua 10ª edição.

O texto – De autoria do dramaturgo Tarcísio Pereira, o texto da peça “Cordel da Paixão de Deus” foi construído em versos de cordel. A direção do espetáculo, a cargo do teatrólogo Duílio Cunha, pretende imprimir uma diversidade de anunciações, ora apresentado através de aboios, repentes e cantorias ou ainda embolada de coco e canto de ladainha.Será apresentado sob a ótica dos romeiros, a partir da narração dos quatro evangelistas que conduzem a ação dramática, mostrando as principais passagens da vida do Cristo. Paralelamente, as cenas vão se constituindo como fruto do imaginário dessa gente de fé incondicional.

“O texto já tem uma riqueza que é o lado poético muito forte. Vou apenas acentuar isso retomando uma riqueza musical própria do universo da cultura popular, que ainda será acrescido do resgate dos nossos cantos de via-sacra, romarias, procissões e cortejos de brincantes, a ser executado ao vivo por um coral, devidamente acompanhado de um grupo de música erudita/popular que também será responsável pela trilha incidental do espetáculo”, comentou Duílio.

Tarcísio Pereira conta que já tinha a idéia de escrever um texto com esse tema e formato, paixão de cristo e cordel, há cerca de cinco anos, e “quando foi lançado o edital, pela Prefeitura de João Pessoa, chegou o momento. A idéia casou com o concurso”, que pretendia estimular a cultura popular, e o estimulou a escrever, “Cordel da Paixão de Deus”, que acabou sendo o escolhido pela Funjope para a apresentação deste ano. Com a repercussão na mídia, já chegou a ser procurado por grupos teatrais de outras cidades, interessados em encenar o espetáculo.

Com cerca de 2.000 versos, explora a linguagem do cordel, direta, oral. Síntese e poeticidade que narram a Paixão de Cristo do nascimento à ressurreicão, baseado nos quatro evangelhos do Novo Testamento. Segundo Tarcísio, o texto se constrói de forma natural, mas “não é possível ter uma expectativa em relação à reação do público”, mas ele acredita que há uma capacidade muito grande de empatia com o texto oral. “Acredito que o cordel, por seu poder de comunicação, vai ter uma melhor compreensão pelas pessoas mais simples”, conclui o dramaturgo.

O cordel – Herança de nossos colonizadores portugueses, a literatura de cordel começou a se firmar mesmo no Brasil nos idos do começo do Século XX, época em que nossos trovadores, geralmente homens simples do campo, foram registrando no papel, as pelejas dos cantadores e repentistas, para depois vendê-las nas feiras populares.

Durante esse processo de escrita do cordel, mudava-se um hábito antigo do contador de histórias, da cultura oral, que agora seria registrada pelos poetas populares, e passada de mão-em-mão. Contando histórias de romances, aventuras, fatos do cotidiano, ou até mesmo críticas e desafios. Um tipo de linguagem que resistiu aos progressos da tecnologia, no agreste nordestino. Atualmente, o cordel ocupa espaço em centros urbanos sem a menor cerimônia.

O elenco e a representação de signos – Cerca de 200 pessoas participam do evento, entre atores, figurantes, assistentes, produtores, técnicos de som e luz. Um elenco formado por mais de 50% de novos talentos descobertos através do teste de seleção, realizado no palco do Teatro Santa Roza, e artistas paraibanos convidados já conhecidos do público, como Eleonora Montenegro, que vai viver mais uma vez a personagem ‘Maria’. O elenco ensaia na Igreja de São Pedro Gonçalves, e começou a trabalhar no espetáculo logo após o Carnaval.

Jesus Cristo será interpretado pelo jovem ator Kleber Marone, em um elenco que também conta com Wilma Albuquerque (Maria Madalena), Antonio Deol (Judas), Thardelly Pereira (Pedro), Rachel Domingues (Salomé), Erivan Lima (José) e Omar Pessoa (Pilatos). Os quatro evangelistas narradores da história serão vividos por John Cavalcanti (Marcos), João Dantas (Mateus), Zé Guilherme ex-integrante do grupo musical Cabruêra (Lucas) e a atriz Melânia Silveira que vai interpretar o evangelista João.

Com relação à escolha do elenco, o diretor Duílio Cunha diz que a intenção foi justamente proporcionar uma troca de experiências. “Quando convidei, por exemplo, uma atriz como Eleonora Montenegro que tem 20 anos de carreira para contracenar com artistas ainda em fase de descobertas, foi pensando em provocar um intercâmbio de conhecimentos e vivências entre eles”, falou Duílio.

Considerando a tradição cristã, os quatro evangelistas serão lembrados através de formas representativas: Marcos pelo ‘Leão’, Lucas configurado na forma de ‘Touro’, João será lembrado nas feições da ‘Águia’ e Mateus simbolizado através do ‘Homem’, todos eles serão signos trazidos à cena.

A estrutura em 2006 – A Funjope montará uma estrutura em formato de um teatro de arena, com público nos quatros lados, e dentro do espaço cênico da arena o diretor da peça pretende colocar uma grande ‘mandala’ de tecido, e estandartes, que deverão dimensionar o caráter simbólico da representação.

Durante os cinco dias de apresentação, a organização espera atrair um público estimado em 30 mil pessoas, onde todos assistam sentados e bem acomodados em arquibancadas, formando um verdadeiro teatro de arena em plena praça pública, com acesso gratuito.

O teatro e o cristianismo – A palavra teatro deriva dos verbos gregos “ver, enxergar” (theastai). O teatro chegou a ser considerado uma atividade pagã por força do Cristianismo, o que prejudicou muito o seu desenvolvimento. Paradoxalmente, foi a própria Igreja que “ressuscitou” o teatro, na era da Idade Média, através de representações da história de Cristo. Enquanto isso, atores espanhóis profissionais trabalhavam por conta própria e recebiam patrocínio dos autores de comédia, através de festivais religiosos que eram realizados nas cortes da Espanha, com alta influência herdada das encenações italianas.

O teatro do século 21 se caracteriza pelo ecletismo e quebra de tradições, tanto no “design” cênico e na direção teatral, quanto na infra-estrutura e nos estilos de interpretação As informações mais antigas que temos sobre atividades teatrais no Brasil se referem aos autos religiosos que o padre José de Anchieta fez encenarem-se para auxiliar na catequese dos índios.


Lilla Ferreira
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