Criado e coordenado pelo poeta Antônio Mariano, o Tome Poesia é um fórum de reflexão sobre a atividade poética, que aproxima o autor do público através de depoimentos, debates e recitais
Nesta terça-feira, 14 de março, comemora-se o Dia Nacional da Poesia. A data lembra o nascimento do poeta brasileiro Antonio Frederico de Castro Alves, patrono da cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL). O poeta, baiano de Muritiba, nasceu em 1847 e entre suas obras mais importantes está Espumas flutuantes, publicada em 1870.
Quando o assunto é poesia, a Paraíba pode ser considerada uma referência nacional, tal a sua efervescência no que diz respeito a esse gênero literário. Um celeiro de poetas de significativo talento. Qualidade e quantidade podem ser encontradas na poesia paraibana. Referência nacional com o poeta Augusto dos Anjos, o cenário contemporâneo em nada fica a dever em relação aos grandes centros do País.
O Projeto Tome Poesia, idealizado e coordenado pelo poeta Antônio Mariano, tem como proposta principal promover o encontro entre poetas, paraibanos e de outros estados, autores publicados ou mesmo inéditos, que desejem estabelecer um diálogo com um público em potencial de poesia. Palco de referências e convicções estéticas, os encontros visam formar um público para audição de poemas ditos por seus autores, mantendo o diálogo sobre criação poética, sempre de forma descontraída e própria dos bares e outros espaços informais.
O espaço caracterizou-se também como ponto de encontro literário em que vários estilos e escolas estéticas são contemplados nas suas diversidades. Parada obrigatória para quem gosta de poesia. Como forma de homenagear a poesia paraibana, o Clickpb conversou com o idealizador do projeto, o poeta Antônio Mariano, poeta e ficcionista paraibano, autor dos livros de poemas O gozo insólito (Scortecci, 1991), Te odeio com doçura (Scortecci, 1995), Guarda-chuvas esquecidos (Lamparina, 2005), de “Imensa asa sobre o dia” (Tamarindo, 2005) e co-autor de “Contos sobre tela” (Pinakotheke, 2005). E Tome Poesia!
1. Há quanto tempo existe e como surgiu a idéia da criação do Projeto Tome Poesia?
O projeto Tome Poesia teve sua primeira edição em fevereiro de 2004 e teve origem na necessidade de se criar um fórum de reflexão sobre a atividade poética, aproximando o autor do público, com recitais pelo próprio poeta, depoimentos e debates. Tem, portanto, objetivo pedagógico e visa formar público para ouvir e falar de poesia. É dirigido a estudantes, autores, professores e amantes da poesia em geral.
2. No início, como foi a aceitação do público em geral e dos poetas em relação à sua idéia?
A recepção foi positiva em boa proporção. Mas existem objeções das mais pertinentes às mais mesquinhas. Há quem diga não gostar porque o ambiente é elitista (o Parahyba Café), porque têm ar condicionado e é cheio de fumantes, porque há muito debate e pouco espetáculo, etc, etc. Fatos todos discutíveis e ponderáveis. O que podemos verificar, entretanto, é que desde o início o projeto têm servido de inspiração para o aparecimento de iniciativas similares na cidade e tem atingido o objetivo de manter e criar um público para eventos da natureza, contanto hoje com uma audição assídua e outra variável que geralmente acompanha o autor da vez ou vem pela divulgação da imprensa.
3. Como é a dinâmica do Projeto, como ele acontece na prática?
A dinâmica é simples e acontece em três momentos, trazendo geralmente dois poetas para primeiro dar um depoimento sobre sua convivência literária, ler seus poemas e conversar com o público. Ao do bate-papo, reservamos um espaço para os presentes compartilharem suas afinidades num breve sarau, participando poetas e leitores com a mesma vez e a mesma voz.
4. Normalmente, quais são as discussões mais levantadas durante os debates que acontecem em determinado momento do Tome Poesia?
Questões de mercado, de oportunidades e dificuldades de publicação e distribuição, a criação literária, as influências literárias, autores favoritos, temática, entre outras discussões, têm marcado os debates no Tome Poesia. A tônica se estabelece na interação autor-público e é rica, variável, dependendo das provocações positivas neste sentido.
5. Qual o critério utilizado para a escolha dos poetas?
O principal critério é o trabalho que o autor construiu ao longo de uma atividade literária. São convidados autores locais e nacionais que tenham algo a dizer e acrescentem dados ao debate da criação poética e têm sido contemplados desde autores jovens como Cézar Esturba a veteranos como Sérgio de Castro Pinto e Maria de Lourdes Hortas.
6. Quais foram os poetas que já participaram do projeto, até hoje?
Neste terceiro ano podemos relacionar um significativo elenco de poetas locais e nacionais . Foram eles: José Antônio Assunção, Linaldo Guedes, Maria de Lourdes Hortas (PE), André Ricardo Aguiar e Emmanuel Ponce de Leon, Sérgio de Castro Pinto, José Rodrigues, Vitória Lima, Astier Basílio, Walter Galvão, Abrahão Costa Andrade, Aguia Mendes, Edonio Alves, Lucila Nogueira (PE), Ed Porto, Paulo Sérgio Vieira, Amneres Pereira, Ronaldo Monte de Almeida, Políbio Alves, Bela Santiago, Tavinho Teixeira, Gildemar Pontes, Paula Ziegler, Lisbeth Lima, José Leite Guerra, Eduardo Diógenes (PE), Emília Guerra, Cezar Esturba, Amador Ribeiro Neto, Lau Siqueira, Adriano de Leon,Hildeberto Barbosa Filho, Marco Lucchesi, W.J. Solha, Lúcio Lins, Jomard Muniz de Britto (Recife, PE), Fidélia Cassandra, Ítalo Rovere CE), Carlos Alberto Jales, José Nêumanne Pinto, Dada NovaisJosé Inácio Vieira de Melo(AL), Marize Castro (RN), Delmo Montenegro (PE), Luiz de Aquino (GO) e Marcus Accioly (PE)
7. Como tem sido o apoio da imprensa local, da mídia, em relação à divulgação do Projeto?
A imprensa sempre foi receptiva e entusiástica desde o início, reservando no mais das vezes espaços generosos ao projeto. Creio que a mídia impressa, falada e televisiva daqui é das mais abertas e atentas às atividades culturais no País e isto é notado principalmente por artistas de fora. Os jornais e os portais da net, principalmente, são o principais suportes de registro e divulgação do projeto.
8. Qual o perfil do público que costuma comparecer ao projeto, como é a receptividade e a participação das pessoas na dinâmica apresentada pelo Tome Poesia?
São jornalistas, professores e estudantes universitários, poetas, escritores, críticos literários no geral, mas temos observado a formação de público em pessoas que são atraídas por curiosidade ou levadas por amigos como contadores, psicólogos, advogados, entre outros. Muitos não possuíam uma convivência com a literatura e começam a se interessar pela obra de determinados autores, a comprar livros nas seções de autógrafos que acontecem dentro do evento.
9. O Tome Poesia já se transformou em uma referência no que diz respeito a um modelo de evento cultural bem sucedido. Em sua opinião, a que se deve esse fato?
Acho que isso pode ser explicado pela determinação com que tem sido feita até agora por esse coordenador, o trânsito entre os autores, a qualidade literária, a descontração no ambiente, entre outros fatores que tornam o evento convidativo. Vale frisar que até o momento o projeto foi realizado com custo praticamente zero, sem cachês para os convidados que injustamente até têm pagado a sua consumação no bar onde o encontro se realiza. Isso está em revisão para que tudo seja melhorado cada vez mais. A simpatia da maioria das pessoas e até do poder público está na forma sincera e respeitosa com que o coordenador tem conduzido o processo.
10. Já estamos no terceiro ano do Tome Poesia, você poderia fazer uma avaliação do projeto até agora? Nos falar sobre quais as dificuldades enfrentadas e quais as conquistas, ao longo desse percurso?
O projeto tem cumprido o que se propôs e terá vida longa se puder ser abraçado pelas iniciativas públicas e privadas, o que agora tem acontecido muito timidamente. Teve periodicidade quinzenal no primeiro ano e depois passou para mensal. No terceiro ano de realização na Usina Cultural da Saelpa, a empresa nunca ofereceu o mínimo suporte seja material ou humano. Tive contribuições simbólicas da Funjope e da UFPB/CCHLA. A Fundação Casa de José Américo outorgou o Diploma do Mérito Cultural pela realização do projeto, mas isso é muito pouco. Ter que trabalhar sozinho, gastando do próprio bolso telefone fixo e celular, internet, carro próprio e combustível, fazendo desde a assessoria de imprensa à coordenação e até mesmo a fotografia dos eventos não é nada fácil. O desejo de formar uma equipe é acalentado desde o início, mas são pouquíssimas as pessoas que trabalham, e com razão, de graça. Os eventos precisam ser registrados em voz e imagem e infelizmente não tem acontecido para que as gerações presentes e futuras tenham acesso. É por isso que um suporte financeiro e de pessoal é mais do que necessário para a continuidade do projeto.
11. Alguma novidade para as próximas edições?
Na verdade, pelas razões expostas acima, o projeto está em recesso por tempo indeterminado a partir desde fevereiro, quando tivemos a bela participação do grande poeta épico Marcus Accioly. Com recursos não faltam idéias. Trazer por exemplo, um Paulo Henriques Britto, um Frederico Barbosa, um Claudio Daniel, um Nicolas Behr, enriqueceria muito o projeto. Tornar o projeto um programa de auditório para exibição nas tevês a cabo local como Assembléia, Câmera Municipal ou UFPB seria uma boa forma de expansão do evento. Estamos avaliando tudo isso para ver se é viável ou não a continuidade do Tome Poesia, bem como o local de realização.
12. Você poderia nos falar sobre o seu último trabalho publicado, “Guarda-chuvas esquecidos”?
Trata-se de uma coletânea com que convivi dez anos para trazê-la a público. Felizmente consegui publicar o livro numa edição bem cuidada sob a chancela da editora carioca Lamparina que está garantindo a distribuição para todo o país e está procedendo ao comércio eletrônico na internet através da Livraria Cultura. O tempo dedicado à obra, que foi de muita reflexão sobre que projeto estético abraçar, que atitude tomar na forma e no conteúdo dos poemas, essa dedicação está dando mostra que tudo valeu a pena. A fortuna crítica do livro já ultrapassa o número de dez artigos, resenhas, ensaios publicados em jornais e revistas que vão desde a imprensa local à nacional como o Jornal do Brasil, O Estado de Minas, Continente Multicultural, Rascunho e Discutindo Literatura. Para minha alegria está bem divulgado, a editora ficou satisfeita com o produto e em correspondência recente comunicou-me que o indicou ao prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira para livros publicados o ano passado.
13. E para finalizar, poderia traçar um rápido painel sobre o atual cenário da poesia paraibana?
Primeiro reafirmar a minha predileção pelo trabalho da maioria dos poetas que passaram pelo projeto e que estão relacionados acima. A poesia paraibana está num crescendo desde a geração 59 com nomes de expressão como Vanildo Brito e Jomar Morais Souto, o grupo Sanhauá, na década de 60, com Sérgio de Castro Pinto e Marcus Tavares e nas gerações seguintes nos trazendo poetas de obras válidas como Sitônio Pinto, Lenilde Freitas, Lúcio Lins, Águia Mendes, Paulo Sérgio Vieira, José Antônio Assunção, Saulo Mendonça, Vitória Lima, Ponce Leon, Lau Siqueira, Tavinho Teixeira, André Ricardo Aguiar, Abrahão Costa Andrade, Astier Basílio e Cezar Esturba. Há novas promessas como Daniel Sampaio, mas os projetos são ainda tímidos e não nos permite uma visão da obra. Acredito que em cinco anos tenhamos um panorama mais definido da nova literatura paraibana.
Saiba mais sobre o poeta Antônio Mariano: http://antoniomariano.weblogger.terra.com.br e http://www.antoniomariano.com
Lilla Ferreira
Clickpb
No Dia Nacional da Poesia, o Clickpb conta a história do “Tome Poesia”
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