Cotidiano

Guilherme Arantes anuncia o lançamento de novo disco e se coloca a fav

Cantou defendeu a pirataria, como forma de combater a ganância da indústria fonográfica

O cantor, compositor e também pianista Guilherme Arantes, paulistano de 52 anos de idade e quase três décadas de carreira, esteve em João Pessoa na última quarta-feira, 12 de abril. Quando participou pela segunda vez do Projeto Seis e Meia, uma realização da Prefeitura Municipal.

Após o espetáculo, em que cantou 22 dos seus maiores sucessos e lotou a praça de eventos do Mag Shopping, local onde o show foi realizado, ele recebeu com exclusividade a equipe do Clickpb. Enquanto atendia os seus fãs, ele falou um pouco sobre tudo. Após quase duas horas de show, que teve a abertura realizada pelo guitarrista paraibano Júnior Espínola, ainda encontrou fôlego para falar sobre seu novo disco, o mundo da música, a pirataria, sua relação com a indústria fonográfica, e a atual situação política brasileira.

Defendeu a pirataria, prática que ele chamou de ‘copiação’, como forma de combater a ganância da indústria fonográfica, e afirmou que a crise no Brasil é fundamentalmente política, atribuindo ao Congresso Nacional a responsabilidade pelo atual caos que estampa as manchetes dos jornais em todo o país.

Ao final da entrevista, uma última pergunta, feita por uma repórter curiosa. Em seu Site Oficial, Guilherme Arantes conta um pouco da sua história, em uma espécie de Biografia, e cita que estudou na Escola Vocacional do Brooklyn, em São Paulo, e o questionamento é sobre o local exato do estabelecimento. Ao ouvir a resposta, esquina da rua Flórida com a Pensylvânia, a suspeita foi confirmada. Artista e repórter estudaram no mesmo colégio, só que em épocas diferentes, anos mais tarde da passagem do músico por lá, receberia o nome de Escola Estadual Oswaldo Aranha.

Fica no ar a simpatia do artista, e o desejo de que ele “cuide-se bem, pra não perder esse riso largo, e essa simpatia estampada no rosto”. Ele se despede com um até breve.

Confira a seguir, a conversa do Clickpb com o cantor, compositor e pianista Guilherme Arantes, que lançou seu último disco em 2003, pela Som Livre, “O Aprendiz”.

O novo disco – Eu estou terminando um disco novo. Ano passado eu não lancei nada, estava implantando um projeto lá na Bahia. Agora o projeto está pronto, e já dá para gravar no estúdio. Eu estou terminando o disco, já ‘botei’ as vozes, está super bonito. E deve sair agora no meio do ano. Vamos ver se esse ano ainda leva jeito para lançar disco, porque tem a Copa do Mundo, depois vêm as eleições, é um ano meio desfavorável. Se não der, fica para o começo do próximo ano. Mas o disco já está pronto, e tem parcerias novas. Tem três músicas novas com Nelson Motta, que são super legais.

Uma releitura – Por exemplo, a música “Chega de Saudade” (de Tom Jobim e Vinícius de Morais), ela vai fazer 50 anos, ano que vem. E a gente fez uma revisão daquela época, de 50 anos atrás, para os anos de hoje. E tem uma revisão também musical, rítmica. A música é muito interessante, porque ela começa, a primeira metade, conta como é que era a vida inocente dos anos 50 e tal, e depois na segunda metade entra uma batida super legal da nossa época, e a mesma música fala de que hoje a gente dificilmente teria um tempo de tanta felicidade, como foram os anos 50.

A inspiração – Ficou muito legal. Tem músicas muito bonitas, é um disco muito inspirado, tem umas músicas, umas baladas muito bem compostas, muito tempo eu perdi para fazer bem feito, porque quando a gente está na correria do sucesso, as gravadoras querem um disco atrás do outro, acaba a gente não fazendo como a gente gostaria. Agora como já está mais serena a coisa, não tem gravadora atrás, não tem mais nem gravadora, está tudo acabando.

A relação com as gravadoras – Eu agora gravo independente. Hoje todo mundo grava independente, as gravadoras são só entreposto de venda, não é mais como era, que tinha uma produção, uma coisa junto com a gravadora. Mudou tudo, os anos 70 eram muito inocentes, apesar de ter a ditadura, na época, que era uma coisa que pesava, sobre o meio artístico. Mas era um tempo muito mais fácil para você trabalhar, não tinha quantidade.

O mercado – O volume de artistas que tem hoje, o mercado se tornou muito múltiplo, de possibilidades. Quer dizer, você tem ‘estudiozinhos’ em favelas, você tem estúdios na periferia, você tem estúdios em lugares, os recantos mais distantes do Brasil. Tem unidades de produção, isso não existia. O computador foi um avanço muito grande por um lado, e por outro lado devassou totalmente a intimidade das pessoas, mudou tudo. Hoje as pessoas são conectadas, é muito estranho, é um tempo muito paradoxal.

O século 21 – Por um lado existe a facilidade toda que a tecnologia traz, mas por outro lado traz uma pulverização cultural muito grande, e você tem uma quantidade enorme de gêneros. Ao mesmo tempo, você tem muita banda saindo, uma quantidade de lançamentos enorme. Naquela época você tinha 30 discos por mês, sendo lançados. Hoje, você tem uma base de 600 discos por mês sendo lançados. Então não há mercado que absorva isso, é um paradoxo. Por um lado houve uma evolução, na parte da tecnologia, da inclusão digital, das pessoas e tudo, e por outro lado isso trouxe uma série de problemas. E hoje a indústria está aí, refém da pirataria, da ‘copiação’.

Apoio a ‘copiação’ – A gente tem que estimular a ‘copiação’. Para nós, músicos, eu acho que minha presença no palco, por exemplo, é insubstituível, é uma coisa ‘inclonável’. Então, o que eu sempre ganhei na vida foi indo para o palco, tocar. Do disco a gente não ganhou nada, com todo aquele sucesso dos anos 80 e 70, 90. Por mais que a gente estourou no rádio, os caras ficaram com toda a grana. As gravadoras são muito podres. A gente sempre foi muito roubado. Eu digo a gente, porque as duplas sertanejas hoje são extremamente roubadas, a gente foi muito espoliado. Estourou muita música, e os caras ficaram milionários, e não pagaram nada. Então de uma certa forma, isso tudo é uma revanche contra essa indústria hipócrita, essa indústria podre.

Uma denúncia – Hoje, os artistas para serem lançados, ele estão tendo que pagar percentual de show para as gravadoras. Elas estão querendo 20%. Artistas novos, do tipo Vanessa da Mata, pessoas que eles estão trabalhando, estão ‘bombando’ no mercado. Ana Carolina, essa gente toda paga 20% dos shows para a gravadora. Isso é um absurdo, porque o artista está trabalhando sozinho, e a gravadora está lá sem fazer nada, ganhando em cima do show. Isso porque eles querem faturamento, eles querem avançar em cima do show business, que é onde a gente ganha sem eles participarem. É uma coisa muito louca, isso.

A música e a política no Brasil – O que está acontecendo é que ainda é muito atrasado, porque as rádios, as emissoras todas, estão nas mãos dos políticos, o grande mal do Brasil se chama Congresso Nacional. A gente já identificou onde é o foco. O foco não é Lula, não é Palocci, não é nada, o foco é o Congresso Nacional. Porque a ‘bandidagem’ do país está lá dentro. Então, como é que a gente pode acreditar nas instituições? Esse mensalão que hoje explodiu na mídia, no tempo do Fernando Henrique, o mensalão era em emissora de rádio, aquele “Sergião” (Sérgio Mota), que era o ministro da Comunicação, a função dele era dar rádio em troca de voto. Essa era a função dele, era o ‘jabazeiro’, o Delúbio da época.

Então, para comprar a governabilidade do Congresso, o governo dava rádio. Esse mesmo pessoal que ganhou rádio como mensalão, só toca com jabá, é uma gente sem moral. Tinha que ter uma revisão, porque o problema do Brasil é um problema político mesmo, o Brasil não tem problema econômico, social. O Brasil tem problemas sociais, mas o problema número um está na política. Isso aí está muito descarado. A gente vê uma estrutura que não se consegue mexer, e os ‘caras’ vão se eleger de novo, e vai continuar as regras do jogo tudo igual, porque é um dos três poderes da Nação. Eles se impõem na ‘bandidagem’, é assim que funciona, e tem que engolir.

Quer dizer, o presidente tem que engolir, o povo tem que engolir, e tem que votar nesses ‘caras’ porque não tem opção. Assim não dá, o país não vai andar pra frente. Então, o problema da música, é que os donos da comunicação são os políticos, eles souberam se apoderar da opinião pública, dos órgãos de comunicação. Isso não é uma democracia, isso é uma palhaçada. O Brasil é um país feudal.

A paixão pela arte de compor – Entre ser compositor, cantor e pianista, é com o compositor que eu mais me identifico, fazer músicas. Eu tive várias composições na voz de várias cantoras (durante o show ele ensaia um ‘Viva Elis’, durante a canção ‘Vivendo e aprendendo a jogar’), cantores, eu queria ter tido mais. Ser compositor é muito gostoso, dá uma dignidade pra gente, é bacana, é diferente de ser só cantor e tal. Compositor é como o Zeca Baleiro, o Chico César. Nós somos compositores. Oswaldo Montenegro, Geraldo Azevedo, essa é uma categoria muito nobre, é muito bom fazer parte dela.


Lilla Ferreira
ClickPB

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