Só poderá ser beneficiado pelas cotas para negros o candidato que se autodeclarar da cor preta. Ele será avaliado por uma comissão que estudará cada caso em cima das características da pessoa, avaliando a cor e os traços físicos. “Vamos considerar as cotas através do fenótipo. Não aceitaremos descendência”, explica Santinho Ferreira de Souza, pró-reitor de graduação da Ufes.
Dessa forma, o candidato que for afrodescendente (parentesco com negros) e não tiver características físicas que exponham sua etnia não poderá participar do processo de cotas. Além disso, é exigido que o vestibulando tenha estudado sempre em escola pública.
“Os que estão em escolas particulares ou têm dinheiro para pagar uma faculdade ou, no caso de bolsistas, condições de passar no vestibular sem precisar das cotas”, afirma Santinho.
Porcentagem. Logo no primeiro ano de implantação das cotas na Ufes, serão destinadas 5% das vagas para negros de escolas públicas. Nos demais anos, esse número não será alterado, diferente do que vai acontecer com as demais vagas separadas para as cotas, que subirão de 25% para 45%, gradativamente, em três anos.
A porcentagem será mantida por curso, mas isso não significa que o número de negros que entrarem na Ufes corresponderá ao que foi destinado pelo sistema de cotas. “Primeiro preenche-se as vagas totais, depois as separadas para escola pública e, por último, a dos pretos. Eles não precisam entrar apenas pelas cotas, as outras vagas também podem ser preenchidas por eles, explica Souza.
+ Cotas
Sem data
O modelo de cotas aprovado ontem na Câmara de Graduação da Ufes só será implantado no vestibular do final deste ano se os Conselhos de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) e o Universitário aprovarem o projeto até o final de julho, prazo máximo para que a Comissão de Vestibular da Ufes lance o edital de inscrição do processo seletivo. Caso não seja alcançado, as cotas só serão implantadas em 2008, podendo sofrer alterações. O projeto aprovado servirá como base para a discussão, mas outros projetos também serão avaliados.
Índios insatisfeitos
Os dois representantes das sete tribos indígenas do Estado, guaranis e tupiniquins, foram à Ufes para acompanhar a votação. Eles não ficaram satisfeitos com o resultado. “Éramos a favor do projeto anterior, que destinava 1% das vagas para os índios. O suficiente para nós. Somente assim teríamos chance de entrar na Ufes. Nenhum índio aldeiado já estudou nessa instituição”, afirma Jocelino da Silveira Quiezza, 24 anos, professor. Mesmo com a garantia de uma vaga em cada curso da Ufes para os aldeiados, os representantes não ficaram satisfeitos. “Queremos ser incluídos no processo”, explica Silveira.
Projeto racista
O movimento negro do Estado, integrante do grupo pró-cotas na Ufes, ficou insatisfeito com a decisão da Câmara de Graduação da universidade. Eles consideraram o projeto racista e esperam conseguir uma resposta positiva dos conselhos superiores da Ufes. “Estou surpreso. A proposta aprovada não atende em nada o que reivindicamos há anos. Em vez de beneficiar a inclusão dos grupos oprimidos, eles vêm na contramão e aprovam uma propostas dessas. Vamos continuar na luta”, afirma Gilberto Batista Campos, do Instituo Elimú e integrante do movimento pró-cotas.
Exclusão social
O Movimento Estudantil Centralizado (MEC), formado por estudantes de escolas particulares da Grande Vitória, também não ficou satisfeito. “Nós somos a favor de um projeto que beneficie o estudante com baixa renda familiar”, disse Wagner Araújo Santos, 20 anos, diretor do movimento. O grupo considera que as cotas são importantes como medidas imediatas contra a exclusão social e não racial. Eles tentarão reapresentar o projeto e incluí-lo na pauta dos Conselhos. “Ainda temos chance”, explica.
Colegiado “errou”
Para o diretor do grêmio estudantil do Centro Federal de Ensino Tecnológico do Espírito Santo (Cefetes), Bruno Leonardo de Lima, o projeto de cotas aprovado não atinge os interesses dos estudantes, muito menos dos negros. “É muito importante reservar vagas para estudantes de escolas públicas, mas são os negros que começaram esse debate e a exigência por políticas de inclusão social e racial. São 30 anos de luta”, conta Bruno. Ele espera que os próximos conselhos avaliem melhor as propostas e percebam o “erro” (afirma ele) cometido pelos diretores de colegiado dos cursos da Ufes.
[A Gazeta]
Comissão vai avaliar cor de candidato
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