SAPÉ NÃO MERECE

Fernando Rodrigues

Vou sair temporariamente do foco político para dedicar algumas palavras a Sapé, cidade da qual sou filho e de passagem estive neste final de semana. Estava em dívida. Mas, como um ABC soletrado, muitas vezes me perco de mim. 

Fui arrebatado repentinamente de melancolia. Não das que procuram ressuscitar amores desfeitos ou ilusões perdidas. Não a que decanta a solidão, nem a que provoca o tremor da ausência. Não procurei os velhos amigos, a maioria se perdeu na poeira do tempo. Mas, a vida é sempre assim, cheia de incompletudes… 

Nasci entre às sombras de mangueiras, goiabeiras, jaqueiras, abacateiros. De seus frutos me alimentei. Cresci em plena eclosão das ‘Ligas Camponesas’, movimento de trabalhadores rurais contra a tirania de usineiros e senhores de engenho. A carnificina foi o resultado final. 

Não vou pintar Sapé de forma abstrata. A minha pintura também não é de quadros de paisagens. Também não me move e sentimentos delirantes. 

Andei por ruas, becos, vielas e avenidas. Não notei a essência da vida. Todos os locais já conhecidos estavam repletos do nada dos dois lados. 

Lá o tédio e a mesmice se fazem presentes. Lá estava a cara da fome. De lá vem um desenho mal rabiscado de uma nova carta geográfica da Paraíba: o mapa da miséria. 

Não vou acusar aqueles que fizeram da política um rentável negócio de famílias. Não vou responsabilizar prefeitos, sejam eles José Maria ou Maria José, que transformaram a Prefeitura de Sapé em um balcão de negociatas. 

Todos nós, filhos, somos culpados. Abandonamos quando deveríamos ter ficado; fingimo-nos de surdo quando devíamos ter escutado. 

Vamos corrigir os erros do espírito. Ainda há esperança!