Fonte: The New York Times
Pobreza, cobiça, raiva, ciúme, orgulho, vingança. São esses os suspeitos habituais quando o assunto envolve as causas do crime. Nos últimos anos, porém, os economistas começaram a estudar uma explicação diferente para as atividades criminais: os atributos físicos.
Um pequeno grupo de economistas vem estudando de que maneira altura, peso e beleza afetam a probabilidade de cometer – ou ser condenado por – um crime. Observando registros dos séculos 19, 20 e 21, eles identificaram indícios de que os homens mais baixos têm de 20% a 30% mais chance de condenações a prisão, comparados aos mais altos, e que obesidade e atrativos físicos têm vínculos para com o crime.
"A profissão desenvolveu forte interesse pela biologia", ou o que alguns economistas definem como história ou economia antropométrica, diz Gregory Price, economista do Morehouse College e um dos autores de um estudo que correlaciona altura e crime.
Já existem diversas pesquisas que correlacionam atributos físicos e o mercado de trabalho. Os economistas constataram, por exemplo, que cada centímetro a mais de altura costuma resultar em quase 1% a mais de renda; que os funcionários classificados como bonitos tendem a ganhar 5% a mais do que as pessoas consideradas comuns, enquanto os feios ganham 9% a menos; e que a obesidade pode significar perda de renda para as mulheres brancas.
Para ilustrar um argumento sobre o imposto de renda, Gregory Mankiw, economista da Universidade Harvard e antigo assessor econômico do presidente George W. Bush, propôs cobrar mais imposto às pessoas com altura superior a 1,83 metro, porque elas ganham em média US$ 5.225 a mais por ano do que alguém com 1,66 metro, em cálculo ponderado por sexo, altura e peso.
Vincular traços físicos à criminalidade pode parecer um recuo ao determinismo biológico advogado pelos proponentes do darwinismo social no século 19, segundo os quais existia predisposição genética ao delito. Mas os modernos estudiosos se apressam a descartar essas ideias.
Price, por exemplo, argumenta que o crime pode ser visto, ao menos em parte, como um "mercado de trabalho alternativo". Se indivíduos com certos atributos físicos sofrem desvantagem na força de trabalho, podem considerar o crime mais atraente, diz.
H. Naci Mocan, economista na Universidade Estadual da Louisiana e autor de um estudo sobre a relação entre crime e beleza física, explicou que as teorias sobre o elo entre peso, altura ou beleza e a força de trabalho emergiram porque "economistas que estudavam determinantes padronizados -educação, experiência, produtividade, capital humano- constataram que estes só podiam explicar parte da variação entre salários".
"Isso é novo", disse Mocan, sobre a pesquisa quanto ao crime. "E expande um pouco os nossos horizontes".
Uma correlação entre atributos físicos e salários, ou crimes, não significa relação causal. Mocan aponta que não sabemos por que uma pessoa obesa, feia ou baixinha está em desvantagem no mercado de trabalho ou é mais propensa a cometer crimes. A causa pode ser discriminação pelo empregador, preferência dos clientes ou o fato de que aquele atributo físico torna o funcionário menos produtivo. Se um trabalho envolve carregar peso, por exemplo, porte físico maior é vantajoso.
É isso que Howard Bodenhorn, economista da Universidade Clemson, e Price concluíram analisando registros penitenciários do século 19. Naquela era, maior peso estava associado a menor risco de crime. No século 21, porém, uma era em que trabalho no setor de serviços é muito mais comum, Price constatou que o excesso de peso estava vinculado a um maior risco de crime.
Mocan e Erdal Telkin, economista da Universidade Estadual da Geórgia, analisaram dados de uma pesquisa nacional sobre saúde adolescente que envolveu 15 mil alunos de segundo grau entrevistados em 1994, 1996 e 2002. Eles constataram que baixa atratividade na escola se correlacionava a notas menores, mais problemas com professores e mais suspensões.
Outros estudos constataram que alunos mais baixos tendem a participar menos de clubes e esportes. Como resultado, eles podem sofrer perda de autoestima ou não desenvolver certas competências sociais que lhes seriam úteis posteriormente, teorizaram os economistas.
De acordo com o estudo, homens e mulheres vistos como pouco atraentes na escola tinham maior probabilidade de cometer -ou de serem apanhados cometendo- diversos crimes, como furtos e venda de drogas, se comparados às pessoas consideradas médias ou atraentes.
Price diz que a economia antropométrica se baseia no trabalho de historiadores da economia, entre os quais Robert Fogel (ganhador do Nobel), John Komlos e Richard Steckel, que se basearam em dados sobre peso e altura para avaliar a mudança nas condições sociais.
Porque os biólogos acreditam que 80% da altura é determinada pela genética e 20% pelas condições ambientais, altura -e ocasionalmente peso- podem derivar das condições de nutrição, saúde e exposição a doenças na infância. Com isso, uma estatura mais baixa pode significar criação mais pobre.
Ainda que beleza possa parecer estar na mesma categoria que peso e altura, ao menos superficialmente, os estudos que avaliam a vantagem econômica de ser bonito são na verdade bem diferentes, diz Christina Paxson, economista da Universidade de Princeton que estudou o elo entre estatura e status. Enquanto altura é sinal de saúde e condição social, o impacto da beleza é mais psicológico, diz. No caso, a questão é a forma pela qual a percepção alheia sobre a produtividade, competência e talento de um trabalhador é influenciada pela aparência deste.
Price sugeriu que pode haver implicações políticas nesses trabalhos, afirmando que "políticas de saúde pública que reduzam com sucesso a obesidade tornarão a sociedade não só mais saudável como mais segura".
No momento, Mankiw é cético quanto a uso prático dessas teorias. "Os economistas adoram quantificar as coisas", disse, "mas existem tantas interpretações possíveis que esse tipo de estudo, em lugar de decidir disputas, abre novas questões".
Ele apontou para o fato de que seus alunos em Harvard pareciam especialmente fascinados por pesquisas que demonstram as vantagens econômicas quantificáveis da beleza. O benefício desses "fatos esquisitos", disse ele, é que "nos forçam a pensar sobre o mundo de maneiras novas".
Tradução: Paulo Migliacci ME