Seria o deputado Rômulo Gouveia a encarnação de Joaquim Silvério dos Reis?. Não, que se guardem as proporções; enfim, não estamos na Inconfidência Mineira. Já não vivemos a influência das ideias revolucionárias francesas e da independência dos Estados Unidos.
Nessa terra de feras seria Rômulo um lobo mau? Não, claro que não. Rômulo não prefere comer chapeuzinho vermelho.
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
O que seria, enfim, Rômulo nessa terra parasitária? Ele costuma usar as cabeças sujas e alheias, mas é nas emendas parlamentares que Rômulo é escorregadio. É saltitante, lépido e fagueiro quando se trata de emendas; tipo sanguessugas do turismo.
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Rômulo é assim mutável, inconfundível, mas não chega a ser versátil. É apenas um ventríloquo. É a voz, mas não o dono.
Na política, Rômulo conspira. Celebra a traição. No caminho, Rômulo quer ser a pedra do tropeço.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Tenta justificar sua perfídia, acusando hoje a quem ontem chamava de amigo.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Joaquim Silvério do Reis optou por trair o levante mineiro, denunciando-o aos portugueses em troca do perdão de suas dívidas. Qual o preço da traição de Rômulo?
Esquece Rômulo que não se celebra os traidores. Os vencedores são quem escreve a história.
Poesia – Versos Íntimos
Augusto dos Anjos