Já se foi o tempo em que a saúde era vista como prioridade nos governos do Brasil. Na Paraíba não tem sido diferente o que nos faz cambalear cada vez mais em direção ao caos. Até que ponto se respeita o cidadão?
Semana passada fomos surpreendidos por um avalanche de denúncias envolvendo o Hospital de Trauma, a Cruz Vermelha e outros atores desse famigerado e decadente serviço público de saúde em nossa cidade e em nosso estado. A meu ver, terceirizar os serviços do Hospital de Trauma já foi um ponto contra. É como assinar um certificado de incompetência. Será que o governo não tem capacidade de gerir nossa própria saúde?
Como se não bastasse à falta de medicamentos nos PSFs, a raridade de médicos e enfermeiros nos hospitais, o atendimento precário aos pacientes, a superlotação dos leitos, os baixos salários dos profissionais e a falta de diálogo permanente com toda classe, aliás, uma característica permanente do atual governo, vem agora uma denúncia extremamente grotesca e inapropriada para quem necessita de uma intervenção cirúrgica craniana de urgência: a utilização de furadeiras domésticas.
Seria até motivo de piada se não fosse extremamente desumano tratar o cidadão dessa forma. Será que estamos vivendo a era da Saúde Bosch? Ou será a Black And Decker, Motomil, Best Tools ou Skil? Mais desumano ainda não querer admitir tamanho erro e tentar minimizar a denúncia num jogo de empurra-empurra procurando culpados ou mudando o foco na intenção de confundir a opinião pública. Na verdade, a denuncia existiu, foi confirmada, e embora tenha sido desmentido pelo atual Secretário de Saúde, mais uma vez nos coloca na mídia nacional num total desrespeito ao povo paraibano.
Não acredito, por exemplo, que o Dr. Valdir Delmiro, médico e presidente da Cooperativa de Cirurgiões do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, tenha “inventado” tudo isso. Segundo ele, esse equipamento é usado constantemente e a sua utilização virou rotina naquele hospital. Da mesma forma, o médico Ronald Farias, confirmou a utilização da ferramenta caseira já que o craniótomo, aparelho correto para a realização de cirurgias desse tipo, vive constantemente quebrado. A utilização de furadeiras também é empregada no Hospital Ortotrauma de Mangabeira. Um absurdo!
Em toda a história da Paraíba, nunca houve tanta reclamação e desatenção com a população em relação a nossa saúde. Quando se trata de cirurgias eletivas, aquela que é previamente programada, o paciente espera tanto tempo que acaba transformando sua simples enfermidade numa grave cirurgia emergencial. Da mesma forma, os procedimentos de alta complexidade como arteriografias, cateterismo, ressonância magnética, entre outros, são submetidos a uma fila de espera sem procedências prejudicando e pondo em risco esses pacientes. Existem casos de pacientes esperando por uma mamografia a mais de um ano, pode?
A falta de médicos nos PSFs é outra reclamação constante. Quando um determinado bairro entra literalmente no caos por falta desses profissionais, a secretaria de saúde simplesmente remaneja a equipe de outro bairro, cobrindo um e descobrindo automaticamente o outro. Chama-se isso, burlar o Ministério da Saúde.
O que está acontecendo na nossa Saúde é o retrato da irresponsabilidade e da incompetência de quem pouco se preocupa com a responsabilidade para manter uma prioridade fundamental de nossas vidas. Enquanto o barulho das furadeiras não pára de se espalhar em noticias aqui e lá fora , a população doente continua literalmente traumatizada e rezando para que nada aconteça a seus familiares. Até quando?