Salário por Comissão

   Não podia ser tão criativa e oportuna a charge do cartunista Régis Soares sobre o decreto assinado pelo prefeito de João Pessoa, Luciano Agra (PSB), sobre a nova regra que estabelece as gratificações dos agentes de trânsito da capital.  Segundo o novo decreto, o salário passa a ser vinculado diretamente ao número de multas aplicadas por estes agentes, conhecidos popularmente como “amarelinhos”, que a partir de agora passam a receber gratificações por cada multa aplicada. A política de pontos estabelecida pelo decreto determina o limite fixado em 80 pontos e cada multa aplicada gera um ponto para o agente que a efetuou, correspondendo a 1% do valor do seu salário.  Já viu isso? Salário por comissão?  Um absurdo!

   Isso quer dizer, textualmente, que o talão de infrações se preencherá mais facilmente e o fato de multar, mesmo que seja aleatoriamente, só fará crescer o salário destes agentes. Em outras palavras ganha mais quem multar mais. Essa é a regra. Esse é o decreto.

   É impressionante como um absurdo destes é aprovado com o respaldo do prefeito e a população se cala diante de tal fato. Um negócio deste acontecendo em qualquer outra capital do país, tenho certeza que a população sairia imediatamente para as ruas na tentativa de barrar a Lei.

   Ao meu ver, o trânsito se faz através da educação. Temos um exemplo concreto criado pelo próprio governo municipal nos ensinamentos de como utilizar a “faixa de pedestre”. De tanto bater na mesma tecla, através de campanhas educativas, já se começa a entrar na cabeça dos motoristas e transeuntes a necessidade de respeito mútuo em relação à mesma. Hoje, boa parte dos motoristas param e o pedestre agradece. Não é através de medidas punitivas que se vem conseguindo alcançar esse objetivo.  

    O mais preocupante disso tudo é o incentivo que os agentes vão receber na aplicação dessas multas.  Em outras palavras é oficializar a indústria de multas em nossa cidade. Ora, se o salário aumenta a cada multa aplicada, é lógico que o amarelinho vai querer “bater meta” e tentar fazer o máximo de pontos permitidos. Imagine se pegar um agente desonesto que preencha o seu talonário com placas aleatórias? Quem garante que isso não pode acontecer? Haverá fiscalização para esses agentes? Provavelmente não!

   A confusão que se tem feito em relação a esse “presente de grego” dado à população de João Pessoa tem gerado discórdia e polêmica. Alguns questionam a inconstitucionalidade do decreto. Outros, o absurdo que é se submeter aos amarelinhos já que dificilmente uma defesa é acatada depois que a multa é aplicada. Já chega as lombadas eletrônicas que não determinam a velocidade dos veículos, considerada outra fábrica de multas. Até parece piada!

    Enquanto a polêmica acontece, o trânsito padece e o bolso não esquece. Os agentes de trânsito de João Pessoa agradecem num tremendo “oba” na charge do famoso cartunista da capital. O que dá pra rir dá pra chorar!