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ADEUS ALAVANTÚ, ADEUS ANARRIÊ!

  O Nordeste sempre foi a região do Brasil onde se mais comemora a trilogia festiva de Santo Antônio, São […]

  O Nordeste sempre foi a região do Brasil onde se mais comemora a trilogia festiva de Santo Antônio, São João e São Pedro. Mesmo sabendo do valor religioso dessas datas, não dá para negar que a festa é profana. Talvez pela tradição da música, da forma de dançar, das brincadeiras típicas da região e da simbologia da fartura que ela representa, transforme o povo numa só alegria. Campina Grande continua fazendo o “Maior São João do Mundo”, e por causa disso, a Paraíba é sempre destaque nacional. Só temos que festejar! No entanto, muita coisa precisa ser revista, para que a tradição não seja atropelada descaracterizando o que ainda resta de cultura popular desse importante festejo.

   Na minha adolescência, conheci o São João de Santa Luzia e o São Pedro de Itaporanga, consideradas as melhores festas juninas da época. Além da alegria e da comida típica, tínhamos a harmonia da celebração das tradições que hoje pouco se vê na maioria das cidades interioranas. Bananeiras, por exemplo, ainda resiste, mas não tem o apoio merecido de grandes patrocinadores. Na verdade, a transformação cultural das festas juninas tem se dado a cada ano pela interferência do “novo” ou pela falta de incentivo e vontade política de resgatar ou manter nossos costumes.

   Quadrilhas juninas, por exemplo, foram transformadas em verdadeiros espetáculos que lembram mais o carnaval. As roupas são confeccionadas ao estilo gaúcho e a dança substituída por passos estilizados que mais parecem coreografias de academias. Ganhou-se no luxo, mas perdeu-se na genuinidade! Sem tirar a beleza da plasticidade que elas representam dificilmente você vê quadrilhas juninas com meninas usando o tradicional vestido de chita e rapazes com calças esfarrapadas e chapéu de palha. O “Alavantú, Anarriê” é outra tradição que foi praticamente extinta no roteiro delas, e hoje é quase impossível encontrar um “marcador de quadrilhas” que conheça seus passos e evoluções. Enquanto brincadeiras e simpatias estão desaparecendo, o famoso “pau de sebo”, as “puladas na fogueira”, “a corrida do ovo na colher”, o “correio elegante”, o “casamento matuto”, o “quebra panela”, a “corrida de saco”, o “jogo das argolas”, a “pescaria” e tantas outras expressões estão cada vez mais raras. Até mesmo a fogueira junina, característica marcante dessas festas, está fadada a morrer. Isso mesmo! Já teve até vereador fazendo projeto para extingui-la do cenário junino por contribuir com a destruição da camada de ozônio. Com todo respeito à natureza, a meu ver, acho um exagero já que se trata de um evento sazonal. Caso isso realmente aconteça onde iremos assar o milho e a batata doce? Já pensaram nisso?

   Assim como o tradicional forró “pé de serra” vem perdendo espaço para o “forró de plástico” ou “forró estilizado”, não dá para negar a influência da mídia e a aceitação do povo em torno desse novo estilo. Quando um conceito cultural entra no inconsciente coletivo, dificilmente você muda isso, e o que é chamado de “novo” passa a fazer parte da tradição incorporando-se à cultura. Temos que respeitar essa realidade.

   Independente do que virá no futuro, o São João nunca deixará de ser a expressão maior do povo nordestino, porém as modificações visíveis da nossa cultura certamente vão alterar a essência dessa manifestação e o que hoje se denomina de “estilizado” amanhã certamente será lembrado como folclore ou para-folclore. Ao que me parece, só nos resta dizer: Adeus Alavantú, adeus Anarriê! Podem escrever!

   

  

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