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A CULTURA NA FOGUEIRA

Um bom começo, mas sem estratégia de ação! É assim que a maioria das pessoas está definindo a recente ação […]

Um bom começo, mas sem estratégia de ação! É assim que a maioria das pessoas está definindo a recente ação do gestor e artista Chico Cesar em relação ao projeto “Fogueiras da Cultura” realizado recentemente em 10 cidades do interior paraibano. Embora seja uma idéia plausível, não posso deixar de pontuar algumas dessas considerações.

    As caravanas culturais sempre foram e será uma forma de levar o artista onde o povo está e é um modelo que deve ser reproduzido, disso não tenho dúvidas! Quem não se lembra dos circuitos universitários e das caravanas promovidas por várias instituições nos anos 70 e 80? Se a idéia é boa, no entanto, é necessário sedimentar o evento como forma de gerar credibilidade e respeito, tanto ao artista como a platéia, objetivando conseqüentemente a sua finalidade. O que adianta ter um caminhão palco, um bom som e iluminação, cachês para três maravilhosos artistas e tudo isso ser visto por uma platéia restrita formada por pouquíssimas pessoas? O que faltou? Planejamento? Divulgação?

   Existe atualmente uma ansiedade em querer mostrar serviço em relação à cultura e esquecendo-se de fortalecer os movimentos já existentes. Esse ano, por exemplo, jamais deveria deixar de ser feito um investimento em manifestações consolidadas como o Folia de Rua e o Carnaval Tradição. Da mesma forma o Governo não poderia deixar de apoiar o São João de Campina Grande e outras festas juninas pontuais, como é o caso de Bananeiras, Patos, Cajazeiras, Santa Luzia, entre outras. As quadrilhas estão minguando. Eventos que engloba a cultura popular, o artesanato e o folclore estão passando quase despercebidos. Não vejo razão para não acontecer o Fenart assim como não cabe vincular o Circuito do Frio ao Festival de Artes de Areia como uma imposição.

   A cultura é ampla e diversificada. Seja aqui ou em Cajazeiras, cada cidade ou região tem sua peculiaridade cultural. Uns se destacam pela sua gastronomia. Outros pelo seu artesanato. A música, o teatro, a cultura popular, a literatura de cordel, entre outras, está presente em quase todas as regiões. Ainda temos o potencial arqueológico e histórico para explorar. Tudo isso é cultura!  Da mesma forma que a fabricação de um “rolete de cana” ou a maneira de se amarrar uma “corda de caranguejo” é um dado cultural, não se pode fugir das tradições presentes em cada realidade. Promover a cidadania não é apenas fabricar eventos e sim provocar o desenvolvimento econômico sociocultural sustentável em cada uma dessas regiões. Ora, o público geralmente escolhe o que se quer ver, ouvir ou comprar. Não adianta querer impor um evento sem antes estruturar e preparar a população para sua assimilação. A não ser que se aproveite o público de um evento qualquer e o insira como nova proposta. Tem que existir cumplicidade entre o governo e os gestores culturais de cada cidade, tanto no planejamento quanto na divulgação, caso contrário é jogar dinheiro público no ralo. Querer mudar o conceito de uma hora para outra é navegar a deriva com forte perigo de naufrágio ou colocar literalmente a cultura na fogueira!

   Enquanto o Congresso Nacional não vota o Sistema Nacional de Cultura, melhor seria fortalecer o FIC (Fundo de Incentivo a Cultura) e abrir os editais tão esperados pela classe cultural dando oportunidade aqueles que procuram organização na busca constante do mercado de trabalho. Pelo que eu sei, até o Conselho Estadual de Cultura está desativado quando já deveria estar havendo propostas para a sua reformulação. De qualquer forma, fica a sugestão!

  

  

  

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