Fui ao cinema assistir a “Nosso Lar 2: Os Mensageiros”. Tenho admiração à doutrina espírita e a interpretação dada ao Evangelho de Jesus, por Allan Kardec, quando dissertou sobre o tema em abril de 1864. Minha única ressalva à biografia do doutrinador são suas declarações etnocêntricas e consideradas racistas.
Vi o primeiro filme (Nosso Lar, 2010) que deu origem à sequência. Embora não tão rico, quanto à obra de Chico Xavier que o originou, a meu ver, cumpriu o seu fim e tornou-se um hit do cinema espiritualista.
Estima-se que a estória de “os mensageiros” é a sexta melhor estreia de um filme brasileiro, desde 2002, tendo preenchido 546.800 cadeiras e acumulado mais de 11,8 milhões de reais, conquistando assim a primeira posição no ranking da Comscore (Fonte: revista Veja). A produção nacional superou, inclusive, filmes hollywoodianos como “Wish: O Poder dos Desejos” e “Meninas Malvadas”.
Vibro com o sucesso do cinema brasileiro, nomeadamente depois de um período de perseguição ao audiovisual, patrocinado pelo Governo Federal anterior. Todavia, o meu apego à cinematografia do país não turba meu censo para aferir a qualidade das obras aqui produzidas.
“Nosso Lar 2: Os mensageiros” é um filme de má qualidade. Uma decepção! A trama gira em torno de mensageiros que retornam à Terra para resgatar três espíritos desviados de sua missão divinal.
Nada obstante a presença de atores experientes como Edson Celulari, Mouhamed Harfouch, Fernanda Rodrigues e outros, o roteiro não implaca. É incômoda a narração aposta a filme, explicando a plateia, em cansativo tom professoral, os fatos que se sucedem na trama como se as cenas fossem insuficientes para exaurir a temática.
De outro lado, os efeitos visuais, importantíssimos numa obra que trata de sobrenatural, são parcos e rememoram “Jaspion” ou “Xuxa e os Duendes”. O cenário que materializa a colônia espiritual é inverossímil e até cringe, com cores excessivas e um manancial produzido por técnicas de computação gráfica superadas ou mal empregadas.
Nas interações, as personagens balbuciam clichês do espiritismo que soam proselitistas e dispensáveis. O resultado é a coligação de cenas que se alternam entre o presente e o passado, exigindo do espectador esforço para permanecer interessado na trama.
Uma boa intenção que se extrai do filme é a abordagem da figura de espíritas que utilizam da mediunidade para granjear dinheiro, cometendo torpezas e se afastando dos propósitos da doutrina. Acho que segmento deve se posicionar de todas as formas, contra tais desvios cometidos por uma minoria, como foi o caso de João de Deus.
“Nosso Lar”, o filme originário, inovou no seguimento e foi visto por mais de 4 milhões de pessoas nas salas de cinema. É lamentável que a sequência venha a decepcionar em aspectos tão primários na elaboração de uma obra audiovisual.